Bagres e tubarões
Os próximos dias serão de plena preocupação para a instância política em decorrência das delações a serem feitas pelos executivos da Odebrecht – a maior construtora do país. Quem acompanhou os primeiros relatos diz que são devastadores, pois envolvem bagres e tubarões da República, muitos deles por conta de financiamento de campanha, o famoso caixa dois, que a mesma instância política quer descriminalizar, a despeito de a punição estar contemplada na lei anticorrupção aprovada por unanimidade na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Por estratégia, a mudança deve ocorrer por emenda em plenário, o que impede o retorno do texto à CCJ.
A delação da Odebrecht é a carta que faltava no baralho do patrimonialismo que marca a política brasileira. Na confusão deliberada entre público e privado, os candidatos – especialmente estes – se comprometeram em acordos nem sempre republicanos para obter recursos para suas campanhas. As revelações vão indicar, ainda, que essa prática não é exclusiva desse ou daquele setor, contemplando governistas e representantes da oposição, independentemente de qual governo.
Os resultados são imprevisíveis, pois o Ministério Público, a quem cabe denunciar os infratores, vai levar tempo para depurar todo o material, mas os danos iniciais são suficientes para apontar para a necessária mudança do modelo de se fazer campanha no país. O financiamento público, agora proibido por parte de empresas, ainda é o nó górdio das discussões, pois não há consenso ao seu redor. Se torná-lo público, como defendem alguns, será aberta a discussão sobre os custos que o Estado tem que consumir; por outro lado, se não houver meios de garantir a campanha, os que mais podem saem na frente.
Trata-se de um desafio a ser enfrentado, pois a situação não chegou a tal ponto de graça. Muitos dos patrocinados foram beneficiados sem contrapartida, jogando o jogo das doações, mas nem todos tiveram essa atitude, usando o benefício para proveito próprio.