BODES E CABRAS


Por Tribuna

23/09/2016 às 07h00- Atualizada 23/09/2016 às 08h51

Ainda está longe o desfecho da discussão em torno da violência contra a mulher a despeito de todas as campanhas ora em curso e do empoderamento do sexo feminino, com a ampliação do debate de gênero que se fez presente nos últimos anos. E a razão está nos números: o brasileiro, apesar de todos os adjetivos adotados pelo “homem cordial”, ainda tem forte viés conservador, sobretudo nas questões de costume. Mais de 33% da população brasileira consideram a vítima culpada pelo estupro. O dado consta da pesquisa feita pelo Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O levantamento mostra ainda que 42% dos homens e 32% das mulheres entrevistados concordam com a afirmação “mulheres que se dão ao respeito não são estupradas”, enquanto 63% das mulheres discordam.

Caímos na mesma discussão que envolve a punição da vítima em vez de seu algoz. Nos recentes e lamentáveis casos de estupro coletivo que chegaram ao noticiário, houve – em número expressivo – quem considerasse que as meninas violentadas fizeram por onde, não só por “provocarem” os meninos mas também por “toparem” as cantadas, embora em tais situações o que ocorreu foi violência explícita, em que não tiveram, sequer, meios de defesa. A sociedade continua sustentando o surrado discurso de prender as cabras e soltar os bodes, quando deveria ensinar aos meninos a não cometerem esse tipo de atitude. O sexo é bom quando consentido, em comum acordo entre as partes. O desequilíbrio na relação muda a configuração.

Esse debate, porém, tem que ser permanente e profundo, a fim de alcançar todos os estratos sociais, uma vez que, muitos deles, por força das próprias circunstâncias, convivem sob a cultura do medo, da lei do mais forte e dos arraigados costumes de séculos passados, repassados de pais para filhos. Mudar tais cenários não é uma tarefa de um dia para outro, mas é necessário colocar a discussão na mesa, a fim de reverter essa constatação de culpa para quem é vítima, como é “vendido” no dia a dia e constatado nas pesquisas.

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