CRM vai investigar morte de bebĂȘ
A famĂlia do bebĂȘ Isaque Mattos de Freitas que faleceu na Ășltima segunda-feira, no Posto de Atendimento Infantil (PAI), denunciou ontem a morte da criança, de 11 meses, ao Conselho Regional de Medicina (CRM). De acordo com o delegado da entidade, JosĂ© Nalon, o caso serĂĄ levado para a corregedoria do ĂłrgĂŁo, em Belo Horizonte, para que seja instaurado procedimento administrativo a fim de apurar os fatos.
“DeverĂĄ ser solicitado o prontuĂĄrio da unidade de atendimento da criança e tambĂ©m o registro de atendimento feito no PAI, para fazer a confrontação de dados e verificar se houve alguma assistĂȘncia inadequada”, afirmou Nalon, explicando que, no caso de o mĂ©dico responsĂĄvel pelo atendimento ao menino ser investigado, terĂĄ sua postura Ă©tica durante o atendimento avaliada. “ApĂłs julgado dentro do Conselho de Medicina, ele terĂĄ direito a recurso. Primeiro, terĂĄ direito de se esclarecer. Caso seja condenado, terĂĄ direito de recurso no Conselho Federal”, ressalta.
Se condenado, o profissional ficarĂĄ sujeito a cinco penalidades no CRM, que variam de uma advertĂȘncia atĂ© uma cassação do direito de exercĂcio profissional. “A cassação se aplica Ă s faltas graves, recorrentes, em que se constate dolo, mas, numa situação deste tipo, acho que nĂŁo serĂĄ necessĂĄria”, observou Nalon.
Desabafo
Em frente Ă sede do CRM, na Rua Braz Bernardino, no Centro, o pai da menino, Ezequiel Laudelino Viana de Freitas, fez um desabafo sobre a morte do filho: “No hospital, ele (o mĂ©dico) nĂŁo deu um pingo de atenção ao meu filho e, infelizmente, ontem (terça-feira) eu tive que carregar o caixĂŁo dele. Tive que ver meu filho ser enterrado com 11 meses de vida. NĂŁo pude nem vĂȘ-lo andar. Ele estava aprendendo a me chamar de pai. Mas morreu por negligĂȘncia do mĂ©dico que podia ter atendido direito. NĂŁo ficou nem cinco minutos com ele no consultĂłrio e ainda disse que o menino nĂŁo tinha nada”, afirmou o pai do bebĂȘ, completando: “Ele disse a minha esposa que podia voltar para casa, para assistir Ă s OlimpĂadas e que podia acabar de ver o show do Wesley SafadĂŁo, pensando que ela queria um atestado, sendo que nem em show ela vai. Ele sĂł passou uma receitinha para comprar um remĂ©dio e nem deu tempo de dar o remĂ©dio ao meu filho, pois quando ele estava chegando, tivemos que voltar correndo, pois a criança estava desfalecendo no colo da mĂŁe. Quando ele chegou no PAI, a mĂ©dica disse que jĂĄ nĂŁo tinha mais jeito. Eu sĂł peço justiça e mais nada”, declarou Ezequiel entre lĂĄgrimas, enquanto mostrava a certidĂŁo de Ăłbito do filho. A mĂŁe do menino estava muito abalada e preferiu nĂŁo dar entrevista. AlĂ©m de Isaque, o casal tem outro filho, um garoto de 3 anos.
A Tribuna tentou falar com o mĂ©dico que prestou assistĂȘncia a Isaque por meio de telefone na tarde de ontem, mas nĂŁo obteve ĂȘxito. A Secretaria de SaĂșde informou ontem que nĂŁo discute a conduta mĂ©dica adotada pelo profissional durante a consulta no Departamento de SaĂșde da Criança e do Adolescente. A pasta reforçou mais uma vez “que a criança recebeu a assistĂȘncia prevista naquela unidade” e afirmou que acompanharĂĄ a apuração do caso pelas autoridades competentes.
Familiares serĂŁo ouvidos na delegacia
A PolĂcia Civil tambĂ©m vai investigar a morte do bebĂȘ. O inquĂ©rito serĂĄ presidido pelo titular da 7ÂȘ Delegacia, Eduardo de Azevedo Moura, que adiantou que os envolvidos serĂŁo intimados a prestar depoimento. Ontem, a tia de Isaque, WanderlĂ©ia Laudelina Viana de Freitas, disse que a famĂlia jĂĄ foi procurada pela PolĂcia Civil e que, na prĂłxima semana, os pais da criança serĂŁo ouvidos na delegacia. O atestado de Ăłbito confirma que o quadro do bebĂȘ era de vĂŽmito, diarreia, desidratação e que ele teve um choque hipovolĂȘmico. O estado tambĂ©m Ă© chamado de choque hemorrĂĄgico, que pode levar Ă morte em poucos minutos.
O caso
De acordo com o boletim registrado pela PolĂcia Militar, na segunda-feira, dia 22, a mĂŁe de Isaque havia levado o filho ao Departamento de SaĂșde da Criança e do Adolescente, na Rua SĂŁo SebastiĂŁo, no Centro, onde ele havia sido atendido e liberado com diagnĂłstico de virose, apĂłs apresentar quadro de vĂŽmito, diarreia e desidratação.
No entanto, a jovem nĂŁo teria sentido confiança no atendimento mĂ©dico, jĂĄ que a criança nĂŁo teria sido sequer tocada, e foi ao PAI, na Avenida dos Andradas. Ao chegar no posto, ela foi informada pela mĂ©dica que a vĂtima estava em estado de choque. Ainda foi realizada manobra de ressuscitação, mas a criança nĂŁo resistiu.