A maior banda de rock do Universo ou (oremos para o Radiohead ser eterno)

Por JÚLIO BLACK

Oi, gente.

Vamos iniciar a coluna da semana com uma historinha. Muito tempo atrás (2002), em uma galáxia distante (Volta Redonda), fui convidado por dois amigos – Lenny Santos e Marcelo Alexandre – para participar do “Álbum”, programa que a dupla apresentava em uma rádio comunitária toda quarta-feira. Convite aceito, programa sim e outro também tocávamos pelo menos uma canção de um dos cinco álbuns do Radiohead lançados até então (“Pablo Honey”, “The Bends”, “Ok Computer”, “Kid A” e “Amnesiac”), que era acompanhada fora do ar por uma “oração” galhofeira, em que dizíamos não ser dignos da palavra de Thom Yorke, coisa e tal, mas que ela fosse eterna amém e vida que segue. Fim.

Quase uma arroba de anos depois, o quinteto inglês seguiu sua trajetória lançando álbuns ansiosamente aguardados pelos fãs, história que se repete com “A Moon shaped pool”, nono trabalho de estúdio do Radiohead, lançado no formato digital mês passado e que ganha o formato físico do CD a partir desta sexta-feira. Com gravações na França e Inglaterra, o trabalho foi produzido pela banda e seu parceiro de longa data, Nigel Godrich.

A espera de cinco anos entre o penúltimo álbum, “The king of limbs”, e “A moon shaped pool” valeu a pena. Depois do hermetismo eletrônico do disco anterior, o Radiohead promove não apenas um apanhado dos seus melhores momentos a partir de “Kid A”, como também acrescenta a orquestração erudita que caracteriza os trabalhos do guitarrista Jonny Greenwood fora da banda, caso da trilha sonora do filme “Sangue negro”. No geral, é como se o disco fosse mais “In rainbows” e “Kid A/Amnesiac” do que “Hail to the thief” e “The king of limbs”.

As letras e vocais melancólicos de Thom Yorke voltam a casar com perfeição às melodias do grupo, que consegue fazer o melhor rock sem guitarras que existe neste canto do sistema solar. Ao mesmo tempo, as experimentações eletrônicas estão muito mais discretas, talvez pelo fato de cinco das 11 canções que compõem o álbum serem anteriores ao início do produção. A faixa inicial, “Burn the witch”, é uma delas, com as orquestrações de Geenwood provocando tensão e um crescendo que não precisa de refrões levar o ouvinte a cantar junto. Logo em seguida vem “Daydreaming”, que poderia substituir com a mesma qualidade “Everything in its right place” (de “Kid A”) na trilha sonora de “Vanilla Sky”.

A bateria eletrônica dita o ritmo e ajuda a criar o clima da sombria “Ful stop”, seguida pela delicada “Glass eyes”. No geral, não há canção que faça o nível de “A moon shaped pool” ficar abaixo do “muito bom”: seja com “Decks dark”, a semiacústica “Desert island disk”, a econômica “Identikit”, o cruzamento do sinfônico com o blues de “The numbers” ou a soturna “Tinker tailor soldier sailor rich man poor man beggar man thief”, o Radiohead consegue disparar em várias direções sem errar o alvo. Até a música brasileira, que já havia dado as caras no trabalho do grupo nas passagens bossa nova de “Ok Computer” e o baião alienígena presente em “The king of limbs”, pode ser percebida em “Present tense”, casamento da sonoridade da banda com o samba e Vinicius de Moraes e mais alguma coisa do argentino Baden Powell.

O mais emocionante, porém, ficou reservado para o final: “True love waits”, conhecida dos fãs desde 1995, quando começou a ser tocada em shows, aparece em sua versão definitiva, com a delicadeza do piano servindo de fundo para toda a melancolia presente nos versos e na voz de Thom Yorke, que canta que amores verdadeiros sempre esperam em porões mal-assombrados. Um desfecho magistral para um álbum que ajuda a manter o Radiohead como uma banda não apenas singular, mas merecedora do título de maior grupo de rock do mundo – quiçá do universo, caso estejamos sós nessa vastidão espacial.

Que eterna seja a sua música, mesmo que não sejamos dignos de ouvi-la. Amém? Amém?

Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.

Júlio Black

Júlio Black

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