Assaltos e arrombamentos assustam no Cascatinha
Quem caminha pela Avenida Presidente Itamar Franco, na altura da Curva do Lacet, no Cascatinha, Zona Sul, tem motivos para temer por sua segurança. A região acumula assaltos a transeuntes e a usuários de ponto de ônibus, principalmente após às 20h, quando a área fica deserta. Mas os crimes já começam a acontecer a qualquer hora do dia, como o ocorrido ontem, por volta das 7h30, quando uma administradora de empresa, de 35 anos, foi atacada e agredida no ponto de ônibus, em frente ao Independência Shopping, na Avenida Itamar Franco. Um homem, 45, foi preso em flagrante pela tentativa de assalto. De acordo com o registro da Polícia Militar, a mulher relatou que foi surpreendida pelo ladrão, quando mandava uma mensagem pelo celular. Ele tentou puxar o aparelho, mas ela reagiu.
O criminoso, por sua vez, jogou a administradora no meio da rua, e ela caiu de costas, ficando exposta ao risco de atropelamento. Ela começou a gritar pedindo ajuda e foi auxiliada por dois homens. Um deles, o taxista João Batista Vieira, 54, contou que estava no ponto de táxi, quando observou a movimentação e correu para ajudar a vítima. “A princípio pensei que fosse uma briga, só quando cheguei perto vi que era assalto. Ele era muito forte. A sorte foi que um homem que passava me ajudou a segurá-lo até a chegada da PM,” disse. O assaltante foi preso em flagrante. Apesar da brutalidade do suspeito, a vítima não apresentou ferimentos.
Levantamento realizado pela Tribuna junto ao Registro de Eventos de Defesa Social (Reds) da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) constatou que, pelo menos, 46 ações criminosas foram registradas no bairro entre janeiro e os primeiros dez dias de junho. Do total, 25 registros aconteceram na Itamar Franco, a maioria com uso de armas ou de agressão.
A comunidade do Cascatinha está amedrontada, pois, além dos assaltos a pedestres, o bairro ainda sofre com arrombamentos de estabelecimentos comerciais, de residências e de veículos. Até uma agencia bancária foi arrombada para que criminosos chegassem aos caixas eletrônicos. A Polícia Militar confirmou um recente surto deste tipo de crime no bairro e garante que autores estão sendo identificados, com a finalidade de coibir novos casos.
Deparar-se com a via totalmente vazia, no horário noturno, no entorno da Curva do Lacet e na passarela que serve de acesso entre o Hospital Ascomcer e o Independência Shopping faz parte da rotina de quem transita no trecho. Para as mulheres, a situação se agrava, pois, além do risco de assalto, há relatos de assédio. A universitária Camila Vieira, 22 anos, caminhava pelo trecho, por volta das 20h, quando a Tribuna esteve na área. Ela disse que já presenciou uma pessoa sendo assaltada na Itamar Franco.
“É muito difícil tomar uma atitude quando presenciamos uma situação desta. A gente fica com medo de interferir, e os bandidos se voltarem contra a gente. Quem passa de carro não para a fim de ajudar. Só nos resta o medo. Evito passar por aqui, só faço quando é extremamente necessário.” Outra estudante, Rafaela Moreira, 19, também considera perigoso, principalmente a passarela que liga as duas extremidades da avenida. “Acho que este espaço poderia ser melhor utilizado para ter mais segurança. Podia ter até um ponto da PM por aqui. A iluminação existe, mas é precária.”
A reportagem observou a existência de 11 postes de iluminação entre a Ascomcer e o shopping. Todavia, algumas áreas ficam mal iluminadas devido à presença de árvores. Uma trabalhadora do shopping, 38, que preferiu não se identificar, disse que passa por ali todos os dias e sente-se insegura. “Acho que a iluminação é fraca e que seria viável ter seguranças. Conheço pessoas que trabalham nas lojas e que sofreram assaltos”, disse, ressaltando: “Fico no ponto de ônibus e, depois que algum passa, todos os usuários vão embora. O local fica deserto e inseguro para o próximo que chega para esperar ônibus. Neste túnel, que serve de ligação entre o shopping e o ponto de ônibus, as pessoas podem ser encurraladas.” O levantamento da Tribuna apontou assaltos ocorridos no túnel e no ponto de ônibus citado. Na Ladeira Alexandre Leonel, onde quatro casos foram registrados no período, transeuntes também se disseram temerosos, pois, além de deserta à noite, a via tem terrenos baldios que podem servir de lugar para serem arrastados, roubados e molestados.
Estabelecimentos comerciais também são alvo
Na Avenida Dr. Paulo Japiassu Coelho, que concentra 12 dos casos localizados pela Tribuna no Registro de Eventos de Defesa Social (Reds), a maioria dos crimes está voltada para os estabelecimentos comerciais. Segundo comerciantes, nem mesmo a presença de câmeras tem servido para inibir os infratores. Os casos assustam os trabalhadores, que temem que, dos furtos, hoje maioria, os criminosos passem para a prática de assaltos com arma, como o ocorrido em 31 de maio, em uma casa lotérica, quando foram efetuados disparos na rua, por volta das 16h. Do estabelecimento, foram levados R$ 9 mil.
Funcionária de um estabelecimento arrombado, Kamilla Fazza, 27, disse que mudou sua rotina depois que a loja foi invadida. Segundo ela, um dia, a porta de vidro do estabelecimento apareceu com indício de arrombamento e, dois dias depois, foi quebrada. “Entraram e levaram a televisão. Havia sangue pela loja toda, pois parece que o invasor se machucou. Tudo foi revirado, mas não tinha dinheiro”, contou. Segundo ela, na mesma semana, outra loja foi arrombada. “A câmera pegou um deles no interior, mas estava encapuzado e não foi possível identificá-lo. Depois do arrombamento, venho trabalhar com muito medo e já não deixo mais nada no meu carro, que fica aqui ao lado. Até para ir à padaria tenho receio, pois houve tiros aqui na rua (caso da lotérica assaltada). Os bandidos não se intimidam, e o roubo acontece a qualquer hora. Evito usar relógio, anel e celular.”
A funcionária ainda ressaltou que um ladrão cometeu assalto num estabelecimento em frente ao dela e fugiu num táxi. “Ele simplesmente acionou o taxista e foi embora. Isto mostra a situação da insegurança no bairro”, lamentou.
PM diz que tem monitorado as ocorrências na região
Comandante da 32ª Companhia da Polícia Militar, capitão Marcos Vinícius Castro afirma que os casos têm sido monitorados e que o bairro já conta com um patrulhamento intensificado desde o mês de março. “Cascatinha e São Mateus, dentro do cinturão de segurança que criamos, têm tido mais patrulhamento com viaturas preventivas e ações nos locais de maior incidência de crimes. Isso inclusive resultou num êxito contra os crimes de roubos a transeuntes, que eram maior no início do ano”, afirmou o militar.
Sobre os arrombamentos, ele disse que houve um surto de casos nos últimos dias, mas que alguns autores já foram identificados, o que irá colaborar com o trabalho de investigação da Polícia Civil. “Temos já os nomes de suspeitos, e fazemos abordagens nos locais onde moram, para inibir outros crimes, já que a prisão só é efetuada quando há flagrante ou em virtude de mandado.” Conforme o oficial, nos casos de assaltos a transeuntes, o autor tem envolvimento com o consumo de drogas e rouba para manter o vício, vendendo o fruto do roubo ou trocando na boca de fumo.
“Há ainda aqueles que ficam com o bem para si, como é o caso do smartphone, do fone de ouvido e dos tênis”, explica o comandante, acrescentando que, nos arrombamentos, os autores também são usuários de drogas e furtam objetos pequenos para a venda. “Temos conhecimento de dois praticantes de arrombamentos que usam um carro para dar cobertura. Eles agem da seguinte forma: enquanto dois observam a área, o terceiro invade o local. Estamos trabalhando para que possam ser presos”, ressaltou.
Olho vivo
O militar enfatizou sobre importância da parceria com a comunidade. Conforme ele, no caso do assalto à lotérica, testemunhas relataram que o veículo usado no crime e seus autores rondavam a região há mais de uma semana. “Ninguém ligou para a polícia. Se isso tivesse sido feito, a simples consulta da placa do automóvel já evitaria o assalto, pois era irregular. É preciso que a comunidade nos ajude e faça a denúncia no 190. Como houve tiros, uma pessoa podia ter morrido”, alertou. Ele ainda apontou que a 32ª Companhia está desenvolvendo um grupo de whatsApp para receber comunicados de situações suspeita. “É uma iniciativa importante, pois os participantes do grupo funcionam como o olho vivo e isso dá mais agilidade para nossas ações”.
* colaborou Michele Meirelles