Famílias retiram pertences de prédio interditado no Jardim dos Alfineiros


Por EDUARDO VALENTE

13/04/2016 às 07h00- Atualizada 13/04/2016 às 18h42

Edificação na Rua Custódio de Rezende Bastos está interditada desde 31 de janeiro (LEONARDO COSTA/12-04-16)

Edificação na Rua Custódio de Rezende Bastos está interditada desde 31 de janeiro (LEONARDO COSTA/12-04-16)

Ainda não foi apresentada uma solução para o prédio que ameaça desabar na Rua Custódio de Rezende Bastos, Bairro Jardim dos Alfineiros, Zona Norte. A edificação foi interditada pela Defesa Civil em 31 de janeiro, quando moradores começaram a ouvir estalos e observar grandes rachaduras nas paredes. Ao todo, 15 famílias estão impedidas de voltar para os seus imóveis, incluindo a de uma casa ao lado, que pode ser atingida pelo edifício em caso de desabamento. Apesar de não ter a recomendação da Defesa Civil e da construtora, parte dos moradores entrou nos imóveis há cerca de duas semanas para retirar seus pertences. Uma família, de uma casa ao lado, voltou a viver no local no domingo, mesmo com os riscos. Os moradores afetados reclamam da falta de orientação da empresa responsável por erguer o prédio, a Sanlus Domine Engenharia Ltda., que deveria estar atendendo determinação judicial que exigia pagamento de aluguéis, entre outras obrigações.

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De acordo com o chefe do Departamento de Operações Técnicas da Defesa Civil, o engenheiro Walter de Melo, até o momento, foi feito somente o escoramento emergencial para manter a edificação estabilizada. Tal procedimento seria necessário para, em seguida, executar um plano de recuperação. “Mas o construtor não voltou a entrar em contato, conforme combinado. Não foi apresentado, até o momento, nenhum cronograma de execução por parte deles. Ainda estamos tentando contato com os responsáveis, mas sem êxito.” A Tribuna também tentou ligar para o telefone da empresa ontem, mas a chamada não é completada.

Porta-voz dos moradores, o cozinheiro industrial José Fernandes da Silva, 39 anos, agora vive de aluguel, sem qualquer auxílio da empresa. Por esta razão, precisou, inclusive, tirar o filho da escola particular. “Não temos qualquer auxílio ou informações sobre o que será feito. Por isso mesmo, resolvemos nos reunir e tirar nossos móveis e pertences dos apartamentos, pois precisávamos dar continuidade às nossas vidas.” Situação difícil também enfrenta a dona de casa Denise da Silva Cruz, 43, que voltou para seu lar no domingo. “Estava pagando aluguel de R$ 800 e não tinha mais condições. Temos outras despesas e já estávamos nos endividando.” Perguntada sobre o receio de permanecer no local, ela confessa. “Na primeira noite (de domingo para segunda), minha filha mais nova ficou muito assustada. Estar aqui não é tranquilo”, informou, dizendo que isolou parte da casa e vive com o marido e os três filhos do lado da propriedade que fica mais distante do prédio. A Defesa Civil garantiu que a interdição permanece e, por esta razão, medidas podem ser aplicadas.

Na tarde de hoje, haverá uma entrevista coletiva, na Câmara Municipal, para tratar do assunto. A iniciativa é do vereador José Márcio (PV), que é engenheiro e amigo de alguns dos moradores. “Já descobrimos que o engenheiro inicialmente responsável por aquela obra pediu o desligamento ainda no início, por não concordar com algumas medidas. Ele foi ao Crea (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e solicitou o desligamento. A partir daí, quem executou os trabalhos e trabalhou na venda dos apartamentos foi um policial militar da reserva, marido da proprietária da construtora. Juridicamente ele é um sujeito oculto, pois não consta no contrato social. Como ele não conseguia concluir os prazos de entrega, foi autorizando os moradores a entrar e fazer os acabamentos em algumas unidades. E um laudo preliminar já cita que os pilares na construção foram subdimensionados.” A partir desta denúncia, o vereador pretende, junto ao advogado dos moradores, expor os fatos ao Ministério Público.

Entre as obrigações não cumpridas pela construtora, conforme o advogado das famílias, Pedro Mourão, está arcar com os aluguéis, recuperar a estrutura e colocar um vigilante 24 horas para proteger o patrimônio. Fato que, segundo informações do vereador, já resulta em invasões, furtos e depredações de algumas unidades.

 

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