6º Festival de Cenas Curtas reúne 15 esquetes nesta sexta e sábado
O que você faz em 15 minutos? Há quem não faça nada e há quem faça um espetáculo complexo e duradouro. Desde 2009, o Festival de Cenas Curtas não tem se encerrado no último dia das competições. Com o tempo, o desafio proposto aos agentes teatrais da cidade tem gerado frutos, mais longos que 15 minutos. Quando a cena não se desdobra em formato longo, ajuda os criadores em outras produções, seja pelo contato com o público, seja pela dinâmica de colocar em pé um texto curto, com a limitação de tempo que exige que cenário, figurino, iluminação e sonoplastia sejam objetivos, sem serem rasos. Este ano, o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas recebe, nesta sexta e neste sábado, 15 esquetes, que serão avaliados e, dez deles, serão reapresentados no dia 29, quando serão conhecidos os vencedores.
Vencedor por duas vezes, com “O estranho farol de cacos”, de 2010, e “Klaus e a chave tetra”, no ano seguinte, o ator e dramaturgo Felipe Moratori ocupa, esse ano, a plateia qualificada, compondo, ao lado de Marcos Marinho e Juliana James, o júri do Cenas Curtas. “Fui inserido na cena teatral de Juiz de Fora através do festival”, pontua ele, que em 2014 foi convidado para dirigir o curso de teatro do CCBM, um dos principais projetos locais de formação na área. E, do outro lado, o que mais lhe salta aos olhos? “Para mim, o que importa numa cena curta é o discurso. Qual o pensamento legítimo por trás dos 15 minutos de cena? Qual a inquietação desse artista? O que observo, com alegria, é que a ‘produção enxuta’ expõe esse pensamento, porque o artista não tem muitos recursos para além da sua potência mais genuína”, comenta.
Segundo Giovana Bellini, organizadora do festival, que é realizado pela Funalfa, “existe uma grande resposta do público, interesse tanto dos produtores quanto dos espectadores, o que demonstra que a proposta funciona bem”. “É um pontapé, um incentivo para os que já estão aí e para os que estão começando agora”, destaca, apontando para a forte presença dos alunos do curso de produção cênica, da Faculdade Machado Sobrinho. Uma das cenas deste ano, “Quem sou eu”, apresentará um trecho do espetáculo longo, que ainda deverá estrear, para sentir a resposta do público. Esse desdobramento é uma das principais características do festival, que já compõe o calendário da fundação e representa um pequeno custo para o orçamento cultural. “O gasto maior é com a premiação”, ressalta Giovana. O primeiro lugar leva R$ 5 mil, o segundo, R$ 3 mil, e o terceiro, R$ 1 mil.
Espaço infinito
Os desdobramentos do Festival de Cenas Curtas são muitos. A peça “Casa dos espelhos”, de Hussan Fadel, que esse ano se apresentou em Juiz de Fora em diferentes ocasiões, é uma extensão de um esquete. O premiado “O estranho farol de cacos” ganhou mais tempo e mais texto, em uma vida bem mais longa que os 15 minutos. “Na sala de ensaio, praticamos exercícios, pesquisamos novas linguagens de encenação e buscamos argumentos que sustentem a criação de um espetáculo. A cena curta é o momento em que pegamos esses estudos e colocamos à prova. Testamos o que é possível e o que não cabe no palco”, comenta Bruno Quiossa, que, no ano passado, dirigiu “Terra fértil para balões de ar” e, esse ano, apresenta “Vértice”, o primeiro espetáculo do festival.
“Usamos destas cenas como parte de nosso processo de criação. Buscamos neste momento de concepção da cena ousar e testar novas linguagens teatrais. Muitas vezes, criamos cenas na sala de ensaio que nem chegamos a apresentar, mas acreditamos que ao criar uma cena e participar desse processo, conseguimos observar o que está no caminho certo, o que está distante do que buscamos e levar adiante dentro do processo”, completa ele, demonstrando que mesmo quando um esquete não se torna peça, serve aos grupos.
“A criação, pra mim, tem espaço infinito, sempre. Amigos próximos brincam com a minha megalomania. Sempre crio cenários extravagantes, mesmo para o Cenas Curtas. As minhas cenas, de fato, têm essa característica. Em ‘Quarta-feira de cinzas’ (2010), durante a apresentação, de 15 minutos, chovia seis vezes. Coloquei duas pessoas dependuradas na estrutura do telhado da sala Flávio Márcio para conseguir executar isso. Em ‘Pandora e Panaceia’ (2011), a iluminação era toda feita com projeção mapeada. Viramos noites na semana do festival para dar conta de fazer as animações e trabalhar com o posicionamento exato dos atores”, pontua o ator e diretor Zezinho Mancini, que esse ano prepara “Peça/pedaço/kg” (que conta, até, com cartaz de divulgação). “Para desenvolver uma linguagem no teatro, talvez seja necessário mais tempo, mas essa é justamente a graça do Cenas Curtas na minha opinião. É um espaço que os artistas da cidade têm para experimentar”, acrescenta.
“Não encaro a limitação de tempo como negativa para a criação, pelo contrário. Favorece muito a realização efetiva do trabalho. A potência da criação está no artista, em qualquer formato. Quanto ao teatro, não tenho dúvidas de que é possível ser interessante, cuidadoso e profundo em 15 minutos”, pondera Felipe Moratori. “O que mais importa em uma cena curta é a encenação em si, é buscar o novo, é fazer com que naquele curto espaço de tempo o público entre no universo que se pretende”, concorda Quiossa. “Há histórias que devem ser contadas em minutos e há outras que podem ser contadas em horas. Cabe aos artistas envolvidos ter a sensibilidade de saber em qual categoria a sua história se encaixa”, complementa Mancini, para logo finalizar, dando o tom da competição: “Nenhum de nós tem o teatro exclusivamente como profissão, o fazemos por hobby e com uma substancial vontade de poder viver apenas disso. Como não é o caso, o que importa é a gente se divertir nisso tudo. O que não é sinônimo de descompromisso.”
Centro Cultural Bernardo
Mascarenhas (Av. Getúlio Vargas 200)
6º Festival de Cenas Curtas
Sexta, às 19h30
“Vértice”, de Rafael Coutinho
“Relatos de uma doméstica 2”,
de Tânia de Paula
“O canário”, de Raphael Gomes
“Dois sonhos e duas coxinhas”,
de Raphael Gomes
“A gente”, de Cibele Sales e Victor Sobral
“Vestido”, de Gabriel Resgala
“Gaivotas cheias de imaginação”,
de Thiago Fontoura
Sábado, às 19h30
“Peça/pedaço/kg”, de Tarcízio Dalpra Jr.
“Demônios”, de Gabriela Resgala
“Naquela noite…”, de Lucas Nunes
“Agnus dei”, de Táscia Souza
“E me deu vontade de fumar um cigarro”, de Bárbara Pippa
e Victor Araújo Silveira
“Coisas de criança”, de Barbara Heredia,
Gabriel Bittencourt, Mariane Eveling, Mauro Saar e
Samyra Lawall
“Minha morte”, de Thiago Andrade
“Quem sou eu”, de Taysa Ferreira