Juiz-foranos se vestem de irreverĂȘncia para a tradicional Banda Daki
Atualizada à s 18h55
Com a filosofia na ponta da lĂngua: “o que importa Ă© a qualidade e nĂŁo a quantidade”, o general da Banda Daki ZĂ© kodak nĂŁo se fez de rogado e deu a partida do bloco que comanda hĂĄ 43 anos, invadindo a Avenida Rio Branco com alegria, tradição e marchinhas de carnaval. Acostumada a arrastar dezenas de milhares de foliĂ”es, a Daki levou para a festa, conforme estimativa de PolĂcia Militar, cerca de 4 mil pessoas embaladas pelo som da banda Realce.
No ano passado, este nĂșmero ficou perto de 5 mil. NĂŁo por isso, o desfile, que Ă© um dos mais tradicionais do carnaval de rua de Juiz de Fora, perdeu o brilho. Ainda na concentração, no Largo de SĂŁo Roque, o prefeito Bruno Siqueira (PMDB) fez a entrega de um trofĂ©u ao general da banda pelo seu comprometimento com a Festa de Momo, abrindo oficialmente a folia. “Esse trofĂ©u nĂŁo Ă© meu, Ă© da banda. Tenho a honra de poder representar este povo todo e, a partir de hoje, vamos começar a preparar os 50 anos da Banda Daki”, comemorou ZĂ© Kodak.
Bruno Siqueira avaliou o carnaval de 2016 de forma positiva. “Tivemos muitos blocos durante a semana toda. EstĂĄ sendo uma festa de muita alegria”, afirmou o prefeito, acrescentando que hoje a Avenida Rio Branco serĂĄ fechada para dar continuidade Ă festa. Na programação, tem a banda infantil Trupicada, no trevo do Bom Pastor, a partir das 10h.
Para o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, a festa se mede pela resposta do pĂșblico que, segundo ele, foi sensacional. “SĂŁo milhares de pessoas na rua durante os eventos do prĂ©-carnaval. Temos pouca coisa para corrigir para o prĂłximo ano. Foi um grande carnaval, sem dĂșvida”, avaliou o superintendente, que acompanhou todo o desfile.
O trajeto, que terminou na Catedral Metropolitana, foi acompanhado pela PolĂcia Militar, que nĂŁo registrou qualquer ocorrĂȘncia na edição deste ano. AlĂ©m de grades instaladas na Rio Branco, o desfile contou com um efetivo de 200 homens, que faziam o monitoramento a pĂ©, em viaturas e a cavalo.
IrreverĂȘncia
De sombrinha colorida e vestido azul de bailarina, Isabelita dos Patins, mais uma vez, foi a sensação da banda. “Estamos vivendo a crise das crises, mas venho com prazer. Para a arte, nĂŁo hĂĄ crise. O que tenho aqui Ă© muito calor humano. Em que outro lugar vou encontrar uma garotinha com um peĂŁo na mĂŁo? NĂŁo hĂĄ dinheiro que pague isso”, comenta ela, confidenciando que planeja formar um bloco para crianças e o lançamento de uma boneca da Isabelita. Nem mesmo uma recomendação mĂ©dica a impediu de usar ontem os inseparĂĄveis patins. “Estou com eles porque vocĂȘs merecem. Tenho 67 anos, tive um infarto, e o mĂ©dico me proibiu de usĂĄ-los. NĂŁo sou mais nenhuma Ana Botafogo, mas estou feliz.”
Figura que nĂŁo pode faltar no desfile da banda, o Kiko compareceu Ă farra. NĂŁo veio com o Chaves, mas trouxe o Kikinho, o pequeno Ricardo, de 4 anos. “Estou passando o meu legado”, conta o comerciante Gilberto Tadeu, 48, jĂĄ na nona edição fantasiado do hilĂĄrio personagem mexicano. Quem tambĂ©m parou os presentes para fotos foi a carismĂĄtica boneca Ana da Banda, que neste ano levou para a avenida a neta, de 18 anos, batizada ali na hora de Luana da Banda. “NĂŁo existe coisa melhor do que a Banda Daki. Ă aqui que me divirto”, sentenciou a foliĂŁ cativa.
Se a farra capitaneada por ZĂ© Kodak Ă© conhecida por manter, ao longo dos anos, os costumes do autĂȘntico carnaval, claro que nĂŁo podia faltar o Pierrot. “Estou na banda desde 1997, e estou feliz por poder fazer bodas de prata de Pierrot. Aqui se resgata o carnaval das marchinhas. DĂĄ uma tristeza tirar a fantasia quando a folia acaba, porque o Pierrot Ă© um eterno apaixonado”, destaca o cozinheiro AndrĂ© Tavares, 39.
Para garantir uma festa de paz e tranquilidade para os foliĂ”es, direto do Vaticano chegou o Papa Francisco. “O papa gosta de alegria, de abençoar o pĂșblico de Juiz de Fora”, brinca o aposentado JosĂ© AmĂ©rico, 78, conhecido como ZĂ© da Banda.
O que tambĂ©m jĂĄ virou um hĂĄbito nesta antiga folia Ă© a renovação dos votos de Adriene Orsay, 43, e Alexandre Menigatte, 45. A cada ano, uma fantasia diferente. Desta vez, a opção da corretora de seguros e do designer grĂĄfico foi ir para avenida trajados de casal Zorro. “A gente vem sempre porque Ă© muito amor envolvido entre a gente e com a banda”, conta Adriene. Esbaldando-se na concentração, estava Davi Figueiredo, um palhacinho de 1 ano e 4 meses. NĂŁo demorou muito para ele encontrar um outro palhacinho, o pequeno Samuel Grupi, e sair brincando. “Ele veio na banda, era muito bebezinho ainda. NĂŁo se lembra de nada. Adoro essa interação de todas as crianças com o lĂșdico do carnaval”, diz a mĂŁe Mariane Figueiredo, 32, dentista.
Como disse ZĂ© Kodak, nesse carnaval “tem de tudo mesmo”, inclusive um pescador. “Sou pescador de ilusĂ”es! Mas … Caiu na rede, Ă© peixe!!!, dizia o cartaz que o professor JĂșlio Lopes, 55, exibia na cabeça. “Eu me inspirei num vĂdeo que estava na internet sobre vĂĄrios cardumes que foram lançados ao mar na Ăndia para matar a fome do povo. Essa fantasia Ă© mĂĄgica. Decidi tudo de Ășltima hora, peguei um objeto aqui, outro ali e deu nisso”, diz o foliĂŁo, celebrando o trigĂ©simo aniversĂĄrio de banda Daki. Confirmando a fama de que o carnaval da banda Ă© feito em famĂlia, as irmĂŁs Elaine Gonzaga, 45, depiladora, e Lili Gonzaga, 40, tĂ©cnica de enfermagem, foram juntas de MalĂ©vola para o desfile, atraindo os olhares da garotada. “A gente sempre vem com personagens que as crianças adoram. Somos malĂ©volas, amamos essas pragas”, brinca Elaine, que era aguardada para fotos.