Vitória do carnaval?


Por EQUIPE IGREJA EM MARCHA - Grupo de leigos católicos

25/02/2017 às 03h00

O historiador inglês Peter Burke, ao se debruçar sobre as transformações da cultura popular empreendidas pelas igrejas cristãs a partir do século XVI, sentenciou-as como a “Vitória da Quaresma”. Um quadro de Brueguel serve de ilustração à sua tese… Cinco séculos depois, tomando qualquer imagem das estampadas nas primeiras páginas de qualquer jornal, será que o historiador do futuro sentenciará nosso tempo como a “vitória do carnaval?”

Segundo Burke, as reformas tiveram como principal aspecto negativo a tentativa de suprimir, ou pelo menos “purificar”, a cultura popular, mas tinham o lado positivo de tentar levar as reformas protestante e católica para camponeses e artesãos. Nesse sentido, o carnaval sintetizava as práticas que se pretendiam transformar, fossem “os vestígios do paganismo” ou a “licenciosidade” à qual o povo se entregava.

Nosso quadro atual permite vislumbrar outras práticas até mais perniciosas. A licenciosidade moral está presente desde as mais altas esferas do poder político e econômico, que esvaziam a semântica da palavra “escândalo”, até as diferentes camadas da sociedade civil, cada vez mais desorganizada, que na ausência do agente coercitivo da lei se permitem práticas como saques e roubos, entre outros arroubos, como tirar a vida de alguém por motivos vãos e vis.

“O carnaval é coisa séria”, brada o carnavalesco no último ensaio de sua escola de samba! De fato, não depositemos nesta que deve ser uma festa da alegria o peso de nossas imoralidades, muito mais cotidianas. Antes, tomemos a Quaresma como um período forte para revisão dos rumos que temos tomado com nossas escolhas pessoais, sociais e humanas…

Em sua mensagem para a Quaresma de 2017, o Papa Francisco reflete a parábola de Lázaro e nos aponta que “a Palavra é um dom, e o outro é um dom”. “A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo. (…) A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil. Mas, para se poder fazer isto, é necessário tomar a sério também as contradições em que vive o rico. Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, nele entrevê-se a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba. Mas a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus. (…) Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.”

Façamos do carnaval uma festa de saudável alegria e, da Quaresma, um engajamento para que essa alegria seja perene e para todos!

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