Para saciar e nutrir
Nuno Cobra, o vitorioso treinador de Airton Senna e de outros atletas de ponta, traz relatos memoráveis em seu livro A semente da vitória. É nesse mesmo livro que cria uma alcunha para o Ministério da Saúde. Prefere chamá-lo de Ministério da Doença e explica: só enxerga o homem no seu estado enfermo; nada faz para mantê-lo no estado sadio.
A crítica de Cobra pode ser vista em várias situações. O número de brasileiros acima do peso aumenta a cada ano, inclusive crianças. Estamos chegando perto dos índices norte-americanos – conhecidos pelo péssimo padrão alimentar. Há muito tempo, a obesidade deixou de ser relacionada somente a fatores genéticos. É, antes, o resultado de padrões de vida totalmente inadequados, sobretudo alimentares. O que fazem os órgãos de saúde? Preferem aumentar a oferta de cirurgias bariátricas a ensinar o povo a se alimentar direito.
Quando se fala em prevenção de qualquer doença, em geral, a conversa se resume em recomendar exames. Não se vê nenhuma medida efetiva e duradoura para influenciar a mudança de hábitos nocivos. Algumas abordagens esporádicas até acontecem, mas sem grandes consequências e continuidade.
Todo esse preâmbulo é para falar de um alimento que tem tudo para ocupar lugar entre os notáveis. Trata-se do leite de arroz integral, caseiro e barato. Fazê-lo é muito simples. Basta lavar uma xícara de arroz integral (prefira o cateto) e deixar de molho em água filtrada, de um dia para o outro, em uma vasilha de vidro tampada. Ter o cuidado de cobrir com água um dedo acima do nível do arroz. No dia seguinte, escorrer, lavar ligeiramente e bater no liquidificador com quatro xícaras de água filtrada. Depois de bem batido, coar em uma toalha branca de voil, torcendo bem a toalha até retirar todo o líquido. Esse procedimento é chamado de ordenha vegetal. Conservar em geladeira, e está pronto para o consumo. O farelo restante pode ser aproveitado como base para tortas, para fazer uma canja e o que mais quiser.
Essa receita, segundo os entendidos, deveria ser distribuída à mão cheia em postos de saúde, creches e escolas. Mas é ignorada. Com apenas uma xícara de arroz integral faz-se um litro de leite nutritivo e saudável, sem contraindicações e riscos de alergia. É tiro certo para matar a fome e nutrir de fato. O leite de arroz industrializado, ainda pouco consumido em nosso país, custa seis vezes o preço do leite de vaca.
A receita é da culinária vegana – os vegetarianos que não consomem nenhum derivado animal. Mas não é preciso ser vegano para usá-la. Até um devorador de leite, queijos e derivados pode usufruir dos seus benefícios. Para dar cor e sabor, pode-se usar gotas de baunilha e farinhas de frutas – como framboesa e amora -, já encontradas em casas de produtos naturais. Não engorda e pode ser usado em todas as idades. Excelente opção para quem tem intolerância à lactose. Dá grande sensação de saciedade. O arroz integral é rico em cálcio – muito mais que o branco, de onde se deduz que é um aliado contra a osteoporose.
Gandhi surpreendeu o mundo quando ensinou os indianos a fabricar de modo artesanal o sal para o seu consumo e não depender do monopólio dos exploradores ingleses. Às vezes, as soluções estão mais próximas do que imaginamos. Só é preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir.
