O machismo do Mayer


Por Marco Aurélio Lyrio Reis/ Juiz aposentado

13/04/2017 às 07h00- Atualizada 13/04/2017 às 09h05

Comentando o procedimento mafioso de Zé Mayer, o ator Caio Blat afirmou achar “brilhante como ele se colocou hoje… Todos nós o conhecemos, ele não ameaça ninguém. Acho que foi uma brincadeira fora do tom, que ele já reconheceu e que isso possa servir como exemplo”. Parece brincadeira ou manifestação de embriagado. Para alguém que cometeu um crime, negou-o com veemência inicialmente e só depois reconheceu sua conduta típica delituosa, Caio Blat reserva somente elogios: “Foi brilhante”; é, um brilhante repleto de jaças. “Nós o conhecemos”; isso significa, Caio Blat, nós o absolvemos? “Ele não ameaça ninguém”; é, Caio Blat, ele vai direto à ação, nada de ameaças, direto à consumação. “Foi uma brincadeira fora do tom”; não, Caio Blat, não foi uma brincadeira, pois durou aproximadamente oito meses.

Foi, isso sim, uma enorme agressão à liberdade e integridade sexual da vítima, e agressões nunca têm tom certo. Estão sempre erradas. “E que isso possa servir de exemplo”; isso o que, Caio Blat? A atitude indecorosa, ultrajante e delituosa praticada por José Mayer? Ou o seu reconhecimento público do crime que cometeu? Você não esclareceu bem este ponto.
Aliás, para a vítima, colega mulher, segundo consta, você não teve uma palavra de apoio. Simplesmente ignorou-a. Preocupou-se em tecer loas ao colega homem. Mayer, e agora somos nós quem falamos, teve que assumir seu erro e desculpar-se publicamente. No episódio é a única menção que deve ser feita a ele, sem qualquer elogio e sem atribuir qualquer mérito pessoal em decorrência da confissão. É o mínino que se espera de qualquer pessoa: que assuma a responsabilidade por seus atos.

Na mesma linha defensiva, Thiago Rodrigues afirmou que José Mayer é “boa pessoa e que pode ter errado realmente”, destacando que “não é assim que se combate o machismo” e que Mayer não pode ser crucificado por isso. Mais realista que Mayer, que confessou o crime embora não sem antes negá-lo, Thiago tem dúvidas: será que ele errou? Se errou, para Thiago, “não é assim que se combate o racismo”. Assim como, Thiago? Condenando atos da natureza do cometido por Zé Mayer? Não é assim? Será, então, que o combate ao machismo deve ser feito prestando solidariedade ao autor do crime e enaltecendo boas qualidades que você, Thiago Rodrigues, afirma ser ele posssuidor?

Zé Mayer, Thiago, não será crucificado pelos atos consumados em continuidade delitiva durante, aproximadamente, oito meses, porque tal sanção não figura no preceito secundário da ação típica delituosa. Mas merece o apenamento legal, para que o combate ao machismo não tenha a profundidadde de um lava-pés de piscina, mas a fundura das fossas Marianas, que correspondem aos direitos que a norma penal quer proteger.

Este espaço é livre para a circulação de ideias e a Tribuna respeita a pluralidade de opiniões. Os artigos para essa seção serão recebidos por e-mail (leitores@tribunademinas.com.br) e devem ter, no máximo, 35 linhas (de 70 caracteres) com identificação do autor e telefone de contato. O envio da foto é facultativo e pode ser feito pelo mesmo endereço de e-mail.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.

X
noscript