Cultura da paz
As ameaças que ocuparam o noticiário nas últimas semanas devem ser investigadas e seus autores punidos, mas a solução para esse cenário de medo deve ser discutida em outras frentes, sobretudo na educação
O dia 20 de abril, véspera de um feriado nacional, normalmente é marcado por planos daqueles que gostariam de aproveitar a data, especialmente quando cai numa sexta-feira levando a um feriadão. Este ano, porém, ele está sendo pautado por uma preocupação inusitada. De norte a sul do país há rumores de atentados em escolas públicas ou privadas que levaram o governo a chamar governadores, prefeitos, representantes do Judiciário e do Ministério Público para uma reunião em Brasília, na tentativa de se estabelecer estratégias para enfrentamento de um problema que, certamente, não se esgotará nesta quinta-feira.
Depois da tragédia de Blumenau, na qual quatro crianças foram brutalmente assassinadas dentro de uma creche, uma onda de boatos ocupou espaços nas redes sociais forjando um ambiente de medo que levou pais ou responsáveis a repensarem o encaminhamento de seus filhos à escola nesta quinta-feira. Se isso ocorrer, o medo vencerá, pois é isso que os autores das ameaças querem. Mas não é uma decisão simples.
Desde o início da semana, as instâncias de poder estão discutindo alternativas. Em Juiz de Fora, a prefeita Margarida Salomão reuniu representantes das polícias Militar e Civil e da Guarda Municipal para elaboração de estratégias que vão resultar em aumento do efetivo nas ruas e contratação de profissionais para as escolas.
A prefeita foi testemunha da reunião de Brasília como uma das representantes da Frente Nacional de Prefeitos. Ouviu relato de ministros, prefeitos, governadores e do presidente Lula que advertiu para a importância de se implementar uma cultura da paz, reverberando o discurso de alguns governadores, e de investimentos para a Educação.
Dados do Instituto Sou da Paz revelam que nos últimos 20 anos pelo menos 93 pessoas foram vítimas de atentados em escolas, mas estes números estão aumentando, como bem destacou o ministro da Justiça, Flávio Dino, ao classificar de “epidemia” de violência e radicalismo disseminado pelas sociais o que ora está ocorrendo.
No mesmo evento, o presidente do TSE, ministro Alexandre de Morais, deu a senha para o estabelecimento de discussões profundas sobre o papel das redes sociais hoje, no seu entendimento, terra de ninguém. Com razão, o ministro destacou que “as pessoas não podem fazer na rede digital aquilo que é proibido na sociedade”. Sua fala joga luzes sobre a liberdade de expressão, palavra cara à democracia, mas usada como escudo para uma série de sandices apresentadas na rede mundial.
O encontro dessa terça-feira pode ter sido o primeiro de uma série, uma vez que outros segmentos devem ser colocados à mesa. Não só o presidente, mas outros participantes foram enfáticos ao destacar o papel da família nessa questão. Muito do que se apresenta nas ruas e nas redes tem como matriz a própria família.
Diante de tantas fontes, é necessário colocar tal agenda como uma das prioridades, já que o avanço digital deu margem a uma nova inflexão na sociedade global. Ninguém está imunizado nesses novos tempos, sobretudo pelo fato de as informações, ou desinformações estarem a um clic. Muitos deles, se compartilhados geram uma corrente de acontecimentos cujos resultados podem resultar em tragédias ou disseminação do medo.