É preciso seguir o dinheiro como na Operação Cyprium

A Operação Cyprium, que retirou de cena parte significativa dos responsáveis por furtos de cabos demonstra, mais uma vez, que inteligência, cruzamento de dados e rastreamento financeiro são caminhos indispensáveis para enfrentar o crime


Por Paulo Cesar Magella

14/11/2025 às 12h22

  Merece aplausos a “Operação Cyprium“, deflagrada pela Polícia Civil de Minas Gerais, que resultou na identificação e na prisão de envolvidos em furtos e receptação de fios de cobre. Segundo os próprios investigadores, trata-se da maior organização do tipo no estado, com ramificações que vão do Rio de Janeiro à Bahia. Entre 2024 e 2025, o grupo movimentou mais de R$ 30 milhões, enviando semanalmente toneladas de cobre furtado para outros estados.

Chamou a atenção o destino do material: uma empresa do setor de fios seria responsável por recolocar o cobre roubado no mercado, alimentando um ciclo contínuo e altamente lucrativo. Conforme revelou a reportagem de Pâmela Costa, o esquema contava inclusive com a participação de funcionários de empresas de telefonia, internet e energia. Eles utilizavam acesso a uniformes, documentos e ordens de serviço para dar aparência de legalidade às ações, ampliando o alcance e a sofisticação da quadrilha.

Fica evidente, portanto, que a ação de ladrões de cabos nas madrugadas das cidades vai muito além da narrativa de “usuários de drogas cometendo pequenos furtos”. Há uma rede organizada, hierarquizada e com capacidade de causar danos em diversas instâncias, enquanto as lideranças usufruem de viagens, veículos de luxo e imóveis de alto padrão – realidade distante dos operadores de campo, que, na maioria das vezes, vendem pequenos volumes para sustentar o vício.

A polícia adotou o modelo “follow the money”, que busca identificar a fonte de financiamento de todo o sistema: quem compra, quem vende e quem lucra com a cadeia criminosa. Seguir o dinheiro é, de fato, a forma mais eficiente de desarticular organizações desse tipo – e também de outros crimes. Só assim é possível alcançar as lideranças, muitas vezes distantes das comunidades ou dos bairros populares onde ocorrem as execuções dos furtos.

Nesse contexto, o intercâmbio de informações é fundamental. O crime organizado deixou de ser um fenômeno local para se tornar nacional, com conexões estruturadas e proteção de facções que dominam parte expressiva do território. Por isso, o Congresso precisa aprovar normas que facilitem o diálogo entre instituições e ampliem a integração entre estados, apesar das resistências políticas que ainda persistem.

Um exemplo é a Lei Antifacção, já em sua quarta versão, retirada de pauta por falta de consenso. A expectativa, segundo o relator, deputado Guilherme Derrite (PP-SP), é que as divergências sejam superadas até a próxima semana e o texto finalmente siga para votação. A população – hoje acuada e cansada da lentidão parlamentar – agradece.

 

 

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