A compaixão para com quem luta(o) por uma vida ceifada
“Luto é luta, quando aniquilamos a culpa, saímos vencedores”
Pior que a dor da perda é a ferida invisível e dolorida, que se abre no coração de quem fica. Fica, além da saudade que não acalma, aquele sentimento de culpa que corrói a alma.
Sempre se pensa que houve negligência por parte de quem fica.
Que palavra poderia ter dito, que não falei?
Que palavra não deveria ter falado, e disse?
Como cristão, acredito piamente que o outro que partiu está junto de Deus.
Tem a ciência de Deus.
Sabe, agora, neste patamar superior, que se erramos, se falhamos, se silenciamos quando deveríamos falar ou falamos quando deveríamos calar, não foi por maldade.
Foi por pura humana fragilidade.
E agora, junto do Deus Amor, também é amor.
E só por amor, nos perdoa.
Quem partiu, com certeza, deseja que nos desfaçamos do pesado fardo da culpa.
Para desfazer-se deste cruel e aniquilador sentimento de culpa, precisamos falar.
Na Igreja, após cada proclamação do Evangelho, se diz solenemente: Palavra de salvação!
Sim, a palavra nos salva.
Falar, verbalizar, é como vomitar algo que ingerimos e que nos intoxicou.
É preciso expulsar de dentro do coração aquilo que nos envenena, nos apequena.
Sobre alguém que partiu, ferindo a própria vida, nada de conjeturas, nada de ficar buscando respostas às nossas vãs interrogações.
Recordo da Palavra que o Cura d’Ars disse à viúva cujo esposo se suicidou jogando-se de uma ponte em um rio. Disse: ‘Senhora, entre a ponte e o rio está a misericórdia de Deus’.
A quem partiu, desejamos que seja abraçado pela misericórdia Divina.
Aos que ficamos, pedimos o consolo do Espírito Santo. Com solo, isto é, com chão para nossos pés, em vista de perseguir a viagem que há de culminar no encontro total e definitivo, lá onde não se conhece mais a dor, o luto, a lágrima e a morte.
Urge crer no Deus da Vida e saber: luto é luta, quando aniquilamos a culpa, saímos vencedores.
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