A Polícia Civil concluiu, nesta segunda-feira (25), o inquérito sobre as circunstâncias do acidente envolvendo uma ambulância, que matou cinco pessoas, entre elas uma mulher grávida, no dia 21 de dezembro, no km 736,9 da BR-040, na altura de Santos Dumont, a cerca de 50 quilômetros de Juiz de Fora. De acordo com o escrivão Luiz Eduardo Guiseline, o sócio proprietário do Guardiões Resgate foi indiciado por homicídio culposo, em razão das cinco vítimas. Cópia do inquérito foi encaminhada ao Ministério Público para apurar eventuais ilegalidades.
“A perícia realizada no local dos fatos constatou que o acidente foi causado pela perda de controle do veículo e seu mau estado de conservação, tendo feito menção, ainda, ao asfalto molhado devido à chuva. A vistoria realizada no veículo pela PCMG apontou que o mesmo se encontrava em péssimas condições, sem viabilidade para estar circulando”, destaca a Polícia Civil.
“Durante a investigação, ficou comprovado que o sócio proprietário da empresa foi negligente, não só no dia do acidente, como durante parte da execução do contrato firmado com a prefeitura”, acrescenta a instituição. Em 7 de fevereiro, o Executivo municipal de Juiz de Fora anunciou o fim do contrato com a Guardiões, que acabaria em março, após agentes da Vigilância Sanitária realizarem fiscalização do serviço prestado pela empresa. Irregularidades não detalhadas foram constatadas e também levaram à aplicação de multa. Na última renovação, em março de 2023, a PJF havia pagado R$ 1,1 milhão para a empresa prestar serviços de locação de ambulâncias e transporte de pacientes da Rede SUS/JF, incluindo o deslocamento entre municípios.
“No que tange à manutenção da frota de veículos, a empresa não possuía sequer uma oficina profissional para a execução do serviço, ficando a manutenção a cargo de um profissional que não emitia notas fiscais dos serviços realizados e atendia as demandas dos veículos na própria sede da empresa. O profissional em questão chegou, inclusive, a prestar serviços na cozinha e limpeza de um hotel fazenda de propriedade do investigado”, revela a Polícia Civil. “Na véspera do acidente, o veículo foi vistoriado e deixado pronto para uso pelo próprio proprietário da empresa, que contratou um motorista ‘freelancer’ para realizar a condução do veículo na data.”
Além dos funcionários “freelancer”, a polícia apurou uma série de comportamentos do investigado “que demonstram a negligência com o funcionamento da empresa”, como ausência de diretor clínico e atuação do próprio sócio como condutor socorrista, sem atendimento das observâncias legais para tal.
A Tribuna não conseguiu contato com a Guardiões Resgate por meio dos telefones da empresa, mas o espaço segue aberto para manifestação sobre o inquérito concluído pela Polícia Civil.
LEIA TAMBÉM:
- Guardiões Resgate é multada e tem contrato encerrado junto a PJF
- Ambulância envolvida em acidente na BR-040 tinha licenciamento vencido
- Mulher grávida, esposo e equipe médica são vítimas de acidente fatal na 040
Relembre o acidente
O trágico acidente aconteceu quando uma ambulância da Guardiões Resgate transportava uma mulher com gestação de risco, acompanhada do esposo. Ainda estavam no veículo e foram a óbito a médica, a enfermeira e o motorista.
Conforme apurado pela Polícia Civil, a ambulância trafegava na pista sentido Belo Horizonte/Rio de Janeiro, quando, sob forte chuva, perdeu o controle, deslizou pela faixa contrária e colidiu lateralmente com um caminhão acoplado a uma carreta. Todos os ocupantes morreram por politraumatismo.
O casal Maiara de Freitas Cunha, 27 anos, e Marcelo Conceição do Santos, 39, havia ido até Belo Horizonte para realizar uma consulta médica especializada para o bebê e sofreu o acidente quando retornava para Juiz de Fora. Os dois chegaram a ser encaminhados para a Santa Casa de Santos Dumont, mas não resistiram. A mulher estava com 32 semanas de gestação.
A enfermeira Alessandra Chagas Motta, a médica Daniella Morais Miranda e o condutor Leonardo Luiz Neves da Silva morreram no local da batida. O motorista da carreta e um passageiro tiveram ferimentos leves.
Por meio da Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público (em razão de contrato com o SUS) e da Coordenadoria Regional de Defesa da Saúde da Macrorregião Sanitária Sudeste, o MP interditou a Guardiões Resgate para serviços públicos e particulares, após a fiscalização conjunta com a Polícia Civil e as Vigilâncias Sanitárias municipal e estadual, em fevereiro.