Há 30 anos, atleta da região era campeão da Corrida de São Silvestre

Durante a entrevista realizada poucos dias antes de completar 30 anos de sua maior conquista, Ronaldo da Costa, de 54 anos, embarga a voz e faz pausas para o choro por diversas vezes. E não é à toa, visto o tamanho de seu feito. No dia 31 de dezembro de 1994, o mineiro nascido em Descoberto, cidade de pouco mais de 5 mil habitantes e localizada cerca de 78 quilômetros de Juiz de Fora, era campeão da Corrida de São Silvestre, disputa de rua mais tradicional da América Latina.

À época com 24 anos, Ronaldo colocava fim a uma hegemonia estrangeira de oito anos, sendo o segundo mineiro na história da prova a vencê-la. Como não podia ser diferente, ele lembra desse dia com orgulho. “Era um sonho ganhar essa prova. Fui um atleta que o Brasil e o mundo viram. O sentimento foi de felicidade, pulava e gritava. Todo mundo aplaudindo, a cena passando ao vivo na televisão. Difícil de explicar. Lembro como se fosse hoje”, diz o ex-corredor, emocionado.

Além do momento em que cruzou a linha de chegada, a recepção em sua cidade natal foi algo que ele também guarda com carinho. “Vim de uma família humilde, sem expectativa de vida nenhuma. Cheguei a Descoberto no Corpo de Bombeiros, com as pessoas super felizes por mim. Até hoje, aonde vou, o pessoal me reconhece. Pede autógrafo, agradece pelo que fiz pelo Brasil”, conta Ronaldo.

Preparação para a São Silvestre

Um ano antes da conquista, em 1993, Ronaldo já havia sido o brasileiro melhor colocado na São Silvestre e sétimo na classificação geral. Em 94, colocou na sua cabeça que seria o vencedor. Decidiu treinar por 45 dias na Colômbia, em uma altitude de 2.600 metros. Essa etapa foi fundamental para que o título viesse, na avaliação do ex-maratonista. No dia da prova, com um calor de mais de 40°C e com chuva, a estratégia inicial precisou ser modificada.

“Larguei com a perna um pouco bamba, usando menos força. Até o quilômetro cinco, não estava me sentindo bem. Estava me sentindo muito leve. Mas a partir do oitavo, comecei a melhorar. A partir do décimo, peguei a dianteira e fui firme. Tinha atletas da Etiópia bem, mas faltando uns dois quilômetros, o Silvio Guerra, do Equador, veio para cima. Tinha uma distância considerável, mas eu estava cansado, com muita sede e calor. O povo me deu muita força, com muita energia positiva. Se tivesse mais 30 metros, eu poderia perder a corrida”, analisa.

Ronaldo tem nova carreira

Com 54 anos, Ronaldo mora em Brasília e é professor de educação física. Além disso, ministra aulas de hidroginástica, atletismo e pilates. Nesses momentos, revela detalhes da carreira – que contou também com a quebra do recorde da Maratona de Berlim, com o tempo de 2h06min05s.

“O esporte é uma ferramente que ajuda a salvar vidas. Trabalho com crianças e idosos e tento passar energia positiva para eles. Se não fosse o atletismo, não sei quem seria o Ronaldo, porque não estudei. Por isso, falo com eles também da importância da escola e de aprender com o próximo. Todos os treinadores, como o Jefferson Viana, da Faefid, e o Beto, de Descoberto, me ajudaram muito. Procuro ser um professor parecido”, busca o campeão da São Silvestre.

Feito raro

A vitória de Ronaldo da Costa foi uma das poucas de brasileiros desde que a Corrida de São Silvestre se tornou internacional, em 1945. Nos quase 80 anos seguintes, foram apenas 11 corredores nacionais a cruzar a linha de chegada na primeira colocação. Depois de Ronaldo, em 1994, somente cinco brasileiros conseguiram vencer a prova.

Atualmente, inclusive, o país vive um longo jejum sem que um corredor da casa vença a prova mais importante de corrida de rua no Brasil. O últim foi Marílson Gomes dos Santos, em 2010.

Prova de 2024 na próxima terça

Na próxima terça-feira (31) acontece a 99ª edição da Corrida de São Silvestre. A prova tem um percurso de 15 quilômetros e acontece pela manhã. A largada para o pelotão de elite feminino é às 7h40, enquanto a prova começa para o pelotão de elite masculino às 8h05.

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*Sob supervisão do editor Gabriel Silva