Felipe Roque, com apenas 22 anos, entrou para uma histórica lista composta por Rose Tristão, José Eduardo Bara, Márcia Fu, Giovane Gávio e André Nascimento – este natural de São João de Mereti (RJ), mas de criação em Juiz de Fora – de atletas da cidade convocados pela Seleção Brasileira de Voleibol adulta. O oposto formado no Clube Bom Pastor/JF Vôlei, hoje defensor do Fiat/Minas Tênis Clube, foi convocado no último dia 12, quando o técnico da amarelinha, Renan dal Zotto, divulgou primeira lista dos selecionáveis, que estão reunidos desde a última segunda-feira (22), em Saquarema (RJ), no centro de treinamento da Seleção.
À Tribuna, Roque, que já é convocado para as seleções de base desde 2015, na equipe sub-19, comemorou a primeira oportunidade da carreira na equipe principal do país. “Essa convocação, para mim, traz o sentimento de que o meu trabalho está sendo valorizado! Isso é muito importante para mim. Estou vivendo um sonho, poder evoluir rápido o suficiente para ser titular no adulto, mesmo sendo juvenil é muito gratificante! Quero continuar evoluindo cada vez mais”, ressalta o jogador de 2,12m.
Nesta temporada, Roque protagonizou jogos pelo Fiat/Minas na Superliga Masculina 2018/2019 e foi agraciado com troféus Viva Vôlei. A equipe chegou até as quartas de final da competição nacional até ser parada pelo Sesc Rio, do técnico juiz-forano Giovane Gávio. “Acho que fui crescendo com o andar da Superliga. No returno tive meu melhor aproveitamento nas estatísticas, com bastante crescimento no saque, ataque e bloqueio”, avaliou o oposto.
Roque passa por treinamentos ao lado de alguns dos melhores jogadores do país que são avaliados pela comissão técnica canarinha, sem dal Zotto, que disputa a final da Superliga pelo EMS Taubaté Funvic. A amarelinha terá, em 2019, temporada cheia com as disputas da Liga das Nações, o Campeonato Sul-Americano, o Pré-Olímpico e a Copa do Mundo. Após a decisão do campeonato nacional, dal Zotto deverá divulgar nova lista, desta vez com os atletas de Sesi e Taubaté, que decidem o título.
Certo é que o oposto juiz-forano segue compenetrado em Saquarema. “Na Seleção, a competitividade é muito alta e isso nos força a dar 110% em todos os treinamentos. Além da experiência internacional com os jogos de altíssimo nível. Espero evoluir muito aqui na Seleção para poder ser um jogador completo em todos os fundamentos. Assim, nas próximas temporadas, eu posso fazer melhores partidas e me destacar”, projeta o jovem.
Os convocados
Até o momento, 15 atletas foram convocados pela Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). A primeira chamada, antes das semifinais da Superliga, contou, além de Felipe Roque, com os levantadores Carísio, Cachopa e Thiaguinho, o oposto Rafael Araújo, os centrais Flávio e Matheus, os ponteiros Kadu, Honorato e Rodriguinho, e o líbero Maique. Na última segunda, após as eliminações de Sesc Rio e Sada Cruzeiro na competição nacional, também foram convocados o oposto Wallace, o ponteiro Maurício Borges, o central Maurício Souza e o central Isac. Sem dal Zotto, o grupo é comandado pelo técnico Marcelo Fronckowiak.
Trajetória de Roque reflete trabalho de base na cidade
Uma convocação como a do oposto juiz-forano simboliza muito mais do que uma oportunidade. À Tribuna, o técnico de voleibol André Muzzi analisou os impactos do sucesso como o de Felipe Roque em âmbito municipal. “A convocação de um jogador da cidade é sempre importante em todos os sentidos. Ela ratifica a condição de Juiz de Fora ter muito potencial não só no vôlei, como em todos os esportes. E a capacidade dos profissionais, que descobriram um talento e o colocaram em formação atlética para desenvolver e chegar no ponto em que está. Porque o trabalho dos clubes na cidade nunca parou. A diferença é que hoje não participarmos de tantas competições importantes”, fundamenta.
A trajetória do oposto juiz-forano de 22 anos é modelo e influencia no dia a dia de muitos jovens apaixonados por voleibol na cidade e região, como explica o professor e diretor técnico do JF Vôlei, Maurício Bara, que acompanhou de perto toda a ascensão de Roque. “Tenho certeza que reflete na formação de novos atletas porque citamos o exemplo do Felipe o tempo inteiro para os garotos. Um menino que chegou para a gente em um momento que não sabia jogar vôlei, tinha um porte físico interessante, mas tecnicamente, se fosse em uma peneira qualquer, em que só avaliassem a parte técnica, talvez fosse cortado. E hoje ele tem características físicas e técnicas excepcionais. Mas o exemplo dele já era trabalhado, cito mesmo em sala de aula porque foi uma história que acompanhamos muito de perto”, relata.
Bara ainda ressaltou o fato de Roque ter ido à Seleção de base quando atuava em Juiz de Fora e, com núcleos em escolas da cidade, vê a possibilidade real do surgimento de novos jogadores como ele. “Veremos muitos garotos chegando na mesma condição e sabedores da história do Felipe naturalmente. Um jogador da terra, que ficou um período muito importante da sua formação na cidade e saiu de Juiz de Fora convocado para a Seleção infanto. O último jogo dele tinha sido por nós, na base, e a convocação veio paralelamente à sua ida ao Minas. Ele cumpriu uma etapa importante aqui e isso foi reconhecido pelo Nery (Tambeiro, técnico do Minas) e outros profissionais de lá. O caminho aqui foi duro, mas é um garoto persistente, que teve momentos difíceis, mas ficamos muito felizes com ele, que é sensacional, muito educado, centrado, com base familiar muito forte e tudo isso corroborou para a chegada na Seleção principal”, diz Bara.
Estrutura ainda é gargalo na cidade
Como Roque, muitos jovens, em todos os esportes, deixam Juiz de Fora em busca de uma estrutura que permita evolução do atleta no período adulto. O fato foi lamentado por Muzzi, profissional que vivenciou e participou da história do voleibol juiz-forano, como do título mineiro feminino de 1983.
“Juiz de Fora sempre foi um grande celeiro de jogadores e de bons treinadores. Infelizmente a cidade não conta uma infraestrutura capaz de absorver esta demanda, principalmente no início da fase de desenvolvimento, onde o jogador se torna atleta e se profissionaliza. Este momento é de fundamental importância para qualquer equipe. Participar de competições para que os candidatos a atletas sejam testados constantemente, participando do maior número de jogos possível. Este obstáculo parece intransponível por não depender só de jogador e do treinador, mas principalmente das entidades. Em consequência, nossos talentos que realmente querem se profissionalizar são forçados a sair. Quero deixar claro que esta situação não é só em Juiz de Fora, mas aqui temos, ao contrário de muitas cidades, uma tradição e algumas experiências bem sucedidas com resultados até a nível internacional. Quero parabenizar ao Clube Bom Pastor/UFJF e aos treinadores que trabalharam com o Felipe e desejar uma carreira de sucesso a este grande talento que está surgindo.”