Juiz-forana Jaqueane Correa é contratada pelo time feminino do Flamengo
Aos 26 anos, nova auxiliar técnica do Rubro-Negro já teve passagem em outros dois grandes times brasileiros e vê avanço na categoria
Se fosse possível voltar no tempo e contar para Jaqueane Correa, em 2019, que nos próximos anos ela teria passagem por três grandes clubes do futebol brasileiro, é possível que ela não fosse acreditar. “Nunca imaginaria estar onde cheguei”, conta a juiz-forana de apenas 26 anos, que acaba de ser contratada como auxiliar técnica do Flamengo, o terceiro grande clube em seu currículo, após passagens recentes no Vasco e no América-MG.
A chegada ao Flamengo foi anunciada na última semana, com atuação no time feminino profissional, que competia a Série A1 do Campeonato Brasileiro da categoria até esta quinta, quando o Rubro-Negro encerrou sua participação. “É um grande desafio”, afirma Jaqueane. “Venho tentando agregar um pouco da experiência que tenho para ajudar a equipe”.
Ainda sobre a chegada no Flamengo, ela afirma que vê como uma grande oportunidade. “Eu sei que podem ter muitas coisas futuras vindo aí. Muito pela grandiosidade do clube, e por ser uma equipe que vem tendo um olhar importante para o futebol feminino. Mas é uma responsabilidade enorme, só de colocar a camisa já é uma pressão, por ser uma das maiores torcidas do Brasil”.
Dos campos para a comissão
Sua história começa com o sonho de se tornar jogadora profissional. Desde muito cedo, jogando com os amigos e com a família, Jaqueane afirma que sempre lidou com o preconceito da sociedade de que lugar de mulher não era no futebol. Muito por isso, a ideia de estar no futebol foi crescendo a cada dia. “Nunca imaginei que fosse possível viver do futebol, muito menos do salário do futebol feminino”.
Com isso em mente, Jaqueane jamais deixou de estudar, se formou em Educação Física na Faculdade Metodista Granbery e fez pós-graduação em Futebol na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Antes da primeira proposta para ingressar em um grande clube, ela já tinha passagens no futebol masculino como treinadora em escolinhas e times de Juiz de Fora.
“Em 2019 eu estava com algumas propostas boas para jogar, tanto futsal quanto campo. Foi quando o Vasco me ligou. Eu tinha acabado a minha especialização e tive que parar para pensar, “o que eu vou fazer da minha vida?”. Aos 24 anos, parar de jogar em um momento bom da minha carreira, com um bom rendimento, para ir pra comissão foi uma das decisões mais difíceis que tomei. Mas foi algo bom para a minha carreira porque eu sabia que era um rumo que eu queria tomar depois que parasse de jogar”.
No Vasco, Jaqueane foi preparadora física das equipes femininas sub-16, sub-18 e adulta entre 2019 e 2020. Mas ela não parou por aí. O bom desempenho fez com que recebesse o convite para ser técnica do América-MG na última temporada. “Foi a proposta que eu queria”, afirma, “pois era uma área que eu tinha interesse em conhecer. Queria saber o que eu fazia de melhor, e foi aí que eu descobri a minha função. Foi algo que me encantou”.
Crescimento e experiências
Se firmar como técnica é um sonho, mas segundo Jaqueane também requer muita experiência. “O técnico não lida apenas com a equipe, ele cuida de todo o resto, precisa saber como funcionam todos os setores, e é essa experiência que eu pretendo adquirir”.
Além da vivência do dia a dia nos gramados, a juiz-forana afirma que nunca deixa a teoria de lado. “Minha meta é nunca desvincular a teoria da prática, sempre sigo com meus estudos. Estou sempre estudando, porque vejo que quanto mais eu me especializo, mais conteúdo eu tenho a levar para a prática”.
Momento positivo para o futebol feminino
Ainda conforme Jaqueane, nos últimos anos os times têm investido cada vez mais no futebol feminino, e proporcionalmente a competitividade tem aumentado. “Eu acho que o futebol feminino não tem regressão, ele só vai crescer”, afirma. “São pequenas coisas que ajudam a gente a evoluir, como investidores que estão apostando exclusivamente no futebol feminino, ou a transmissão dos jogos na TV aberta. Isso é uma grande vitória. Faz com que as pessoas conheçam e acompanhem nosso futebol”.
Ela, que chegou a ser a única mulher na comissão técnica enquanto trabalhava com o Vasco, vê o cenário mudando aos poucos. “Muitos times têm a presença forte de mulheres na comissão. Mas eu acho que ainda falta um olhar dos clubes para essas mulheres”. Porém, ela diz que desde o ano passado é possível ver mais mulheres ocupando cargos dentro dos times. “Isso é um marco ótimo para gente, porque vemos que ao estar ali na comissão, mostramos para os outros clubes que é possível, sim, investir em mulheres”.
De acordo com ela, uma maior presença das mulheres no esporte não se restringe apenas aos campos ou a comissão técnica. “É algo que vemos até no extracampo, a presença de mulheres como jornalistas esportivas e comentaristas. É mais um espaço que estamos conquistando”.