A medalha de prata de Isaquias Queiroz na canoagem de velocidade e a boa participação de Ana Sátila na canoagem slalom durante os Jogos Olímpicos de Paris mostraram a força do Brasil nesse esporte. Apesar de pouco difundida e praticada se comparada a outros esportes, a canoagem pode ser realizada no Rio do Peixe, na Fazenda São Matheus, localizada na BR-353, próximo à divisa entre Juiz de Fora e Belmiro Braga. O responsável é Robson Tavares, que disponibiliza o contato (32) 99981 7552 para os interessados em fazer aulas.
Por ser um esporte em que o Brasil tem se destacado nas competições e por ser diferente dos tradicionais, a canoagem é a quinta modalidade do “TM Esporte Clube”, quadro da Tribuna de Minas em que mostramos as mais distintas atividades que podem ser realizadas em Juiz de Fora. Até o momento, o paraquedismo, a esgrima, o rapel e o foot table já tiveram matérias publicadas.
Segurança e atleta de elite em Juiz de Fora
Presente nos Jogos Olímpicos desde 1936, a canoagem é, de forma geral, um esporte aquático em que os atletas utilizam canoas ou caiaques para se deslocar sobre a água. Com remos, os praticantes precisam ter força, equilíbrio e resistência para impulsionar e controlar a embarcação. Em Juiz de Fora, há a presença do tetracampeão brasileiro, Robson Tavares, que ministra aulas no Rio do Peixe. Em seus ensinamentos, conforme conta, a segurança e o entendimento são os pontos principais.
“Utilizamos capacete e colete salva-vidas. Fazemos regulagem nos assentos para os alunos ficarem presos e damos uma série de orientações, como manter o corpo ereto e realizar os movimentos da forma certa. Basicamente, o praticante precisa colocar o remo na altura do ombro, a uma distância de um palmo e dois dedos de cada mão. A utilização do remo deve ser feita de forma ordenada e com o punho. A tendência é ‘roubar’ para a direita se é destro e para a esquerda quando é canhoto. Por isso, o ideal é fazer uma marcação no remo e estar sempre voltando com as mãos para ela”, explica.
Também tricampeão catarinense e bicampeão carioca e dos Jogos Internacionais Radicais, Robson está na canoagem há 24 anos. “O que me deixa entusiasmado é a amizade. O esporte é coletivo e individual ao mesmo tempo. Você rema em grupo, mas você que faz a diferença, está sozinho. A cada vez a pessoa quer ir em lugares mais fortes, com corredeiras”. Às vezes, o atleta também rema sozinho. “É a liberdade, o silêncio, o pássaro. Tudo completamente diferente do que você vê na cidade. É um espírito de paz”, define.
Cenário e praticantes
Conforme diz Robson, o cenário em Juiz de Fora é muito pequeno. “Tenho vários alunos de fora, mas só quatro da cidade”, lamenta. Um ponto que dificulta o aumento da atividade é o preço do caiaque. “Um brasileiro usado está entre R$ 4 mil e R$ 6 mil, enquanto os de fora chegam a R$ 15 mil”.
Apesar disso, o professor reforça que qualquer pessoa a partir dos 13 anos – com a presença do responsável, se menor de idade – podem praticar. Na iniciação, é utilizado o caiaque solar, que é aberto, para a pessoa não ter sensação de que vai ficar presa. “Até mesmo quem não sabe nadar, nós ensinamos com colete, até criar a sensação de segurança e poder entrar no caiaque”, frisa.
Passo a passo, os alunos vão evoluindo em situações como a postura no barco, o lançamento do corpo para frente e o apoio do pé, que ajudam a ter uma remada gradual e com potencial. “O segredo é fazer aula, sem pressa. Tem que começar na água parada, em uma piscina ou rio tranquilo. Treinar apoios baixos, altos, rolamentos, uma série de movimentos. A maioria das pessoas já quer ir para as corredeiras, mas não é assim”, aponta o professor.
Com as Olimpíadas, Robson vê que haverá o aumento de praticantes da canoagem em Minas Gerais. Atualmente, a modalidade é mais praticada em São Paulo, Mato Grosso e Rio Grande do Sul. “Algo que chama muito também é a relação com o meio-ambiente, com a água. Buscamos sempre educar, não deixar ninguém jogar lixo no chão, ajudando na preservação”.
“A canoagem é diferente toda vez”
Um dos alunos de Robson é Miguel Salustiano, nascido em Comendados Levy Gasparian, mas que vem, no mínimo, a cada 15 dias a Juiz de Fora para remar. “Todo dia você aprende alguma coisa, o rio te ensina. Estou há oito anos, e toda vez é alguma situação diferente. O treinamento precisa ser diário, porque é um esporte radical, você precisa estar preparado para todas as situações, independente do momento”, analisa.
Com treinos que podem chegar a cinco horas de duração, Miguel fala que o segredo para que a canoagem ganhe mais adeptos é desmistificar a ideia de que existe perigo. “Tem uma cultura, no nosso país, de que água é sinônimo de afogamento. Mas não é assim, é muito raro acontecer acidente com canoísta. Temos todos os cuidados necessários. Estamos focados em trazer a juventude, porque hoje, a faixa etária que mais procura é acima de 35 anos”.
Devido à disciplina trazida pelo esporte, Miguel parou de fumar e mudou outros hábitos. “Mudei minha educação alimentar, quase não bebia água, e hoje são, pelo menos, três litros por dia. Tem a paisagem, a adrenalina. É extremamente prazeroso, só quem rema, sabe”. O atleta também vê que sua vida mudou na questão interpessoal. “Aqui, não temos amigos, temos irmãos. Dentro do rio, morro por um e ele também morre por mim. Temos essa cultura, de jamais ter a dúvida de estender a mão. Esse esporte é gostoso por isso, penso antes em um parceiro meu que em mim”.
*Sob supervisão da editora Rafaela Carvalho