Talentos juiz-foranos ganham espaço no Grêmio e se inspiram em trajetória de conterrâneo
Gabriel e Felipe Bortoni estão no clube gaúcho desde 2020 e enxergam Adeilson Júnior como motivação para concretizarem seus sonhos
Crianças brasileiras que sonham em ser jogadores profissionais de futebol, geralmente, se inspiram em craques reconhecidos mundialmente, como Cristiano Ronaldo, Messi ou Neymar. Outras, também, buscam inspirações concretas em seu dia a dia. Esse é o caso dos irmãos juiz-foranos Gabriel e Felipe Bortoni, 11 e 13 anos, que já fazem parte da base de um dos maiores times do Brasil, o Grêmio, e que enxergam em Adeilson Júnior, o Juninho, a razão para continuarem buscando realizar o sonho que têm desde sempre: serem grandes jogadores de futebol.
O também juiz-forano Juninho, de 18 anos, é destaque na equipe sub-20 do clube gaúcho e já foi convocado para treinos no time profissional. Aproveitando a presença dos três em Juiz de Fora na última semana, a Tribuna propôs um encontro entre os jogadores – que já que ocorre regularmente no Rio Grande do Sul, mas, desta vez, na terra natal dos garotos. Os três se encontraram no campo do Sport Club Juiz de Fora, local em que escreveram parte de suas trajetórias, e conversaram com a reportagem.
Expectativa pelo profissional
Juninho iniciou sua trajetória no futsal do Tupi e esteve no projeto Bom de Bola, do Bairro Linhares, e no Sport Club JF, antes de deixar a cidade rumo ao Rio Grande do Sul, onde está há oito anos. Quando tinha 16, ele assinou seu primeiro contrato profissional com o Grêmio, até julho de 2024, com multa rescisória de 30 milhões de euros. Agora com 18, o juiz-forano espera estrear em jogos no profissional do Grêmio em breve. “É um time grande, que revela grandes craques, exemplos para o futebol. Quero ganhar títulos e fazer história lá, depois jogar na Europa e Seleção Brasileira”.
Alguns treinos realizados por Juninho no profissional contaram com as instruções do técnico e ídolo gremista, Renato Gaúcho. “Ele é muito experiente, excepcional. Não tenho palavras, estou aprendendo a cada dia”, conta o atleta. Ele também realizou atividades com Luis Suárez, um dos grandes centroavantes do mundo e ídolo do Barcelona. “É muito gratificante treinar com ele, o cara ganhou a Champions League. Fico muito feliz e agradeço, é um exemplo para o meu futuro”, se espelha Juninho.
Inspiração para os mais novos
Para Gabriel, 11 anos, Juninho é fonte de motivação. “Fico muito feliz de vê-lo treinando com os profissionais, é legal demais isso. Dá para ver que Juiz de Fora tem potencial de revelar grandes craques. Ele me dá esperança, penso que um dia quero chegar lá também. Por ser da mesma cidade é melhor ainda, porque dá para ver que não é um sonho tão distante”. Felipe, 13, acredita que o conterrâneo precisou trabalhar muito para conseguir assinar um contrato profissional. “Ele é um grande espelho, é um cara que saiu também de Juiz de Fora, me serve como motivação. Quero treinar com os craques do Grêmio no futuro, inclusive com o Juninho. Por isso estou sempre treinando, porque só assim chego lá”, declara.
Ao lado, o tímido Juninho ouvia atentamente o que ele representa para os irmãos, com o semblante fechado dando lugar a um grande sorriso do rosto. “É muito legal ser inspiração para atletas de Juiz de Fora, porque aqui não tem muita oportunidade. Me sinto orgulhoso de ser exemplo, quero continuar sendo para todos da cidade”, diz o jovem.
Mas as semelhanças do trio não se restringem a estar no mesmo clube e se apoiarem. O amor aos pais é outra característica compartilhada pelos juiz-foranos e que fizeram diferença para chegarem ao Grêmio. “Alguns pais não ajudam os filhos, não se importam muito. Às vezes o menino tem o sonho e o potencial, mas não apoio”, avalia o mais novo. Já Felipe entende que “tudo começou a partir do apoio deles (dos pais). Sempre estão na torcida, me dando motivação dentro e fora de campo, com muito amor. Mais experiente, Juninho define que sua família é tudo. “Sem eles, eu não estaria em lugar nenhum. Vou recompensá-los um dia”, projeta.
Amor de pai
Esse intenso carinho dos filhos com a família é recíproco. O pai de Juninho, Adeilson Santana, diz que ele é um excelente amigo e parceiro. “Muito estudioso, disciplinado e focado no seu sonho no futebol. Sempre acompanhei de perto a sua caminhada e fico muito feliz por isso. Temos uma ótima relação, pois desde os 3 anos trilho com ele a trajetória no futebol. Hoje já está com 18 anos, moramos juntos em Porto Alegre. Só posso agradecer a Deus por esse filho maravilhoso”, afirma o pai orgulhoso.
Leandro, pai de Gabriel e Felipe, busca respeitar as individualidades dos filhos. “Desde que percebi o dom deles, sempre apoiei, acompanhando em todas as oportunidades que apareciam, sem pressionar muito para que não deixassem de ser criança. É muito orgulho, realizando o sonho deles, realizamos também o nosso enquanto família”, acredita.
Ainda no âmbito familiar, os irmãos buscam trocar experiências sobre futebol e pessoais. Gabriel brinca que às vezes briga com o irmão, mas define a relação como união inseparável. “Somos companheiros demais, fazemos tudo juntos, escola, treino, praça.” A parceria é reforçada por Felipe. “Tenho um grande orgulho de ser irmão dele, ver ele seguindo meus passos é muito bom. O Gabriel vai longe, torço muito.”
Trajetória
Gabriel e Felipe começaram a praticar futebol no Colégio do Carmo, ambos quando tinham três anos. Passaram também por Botafoguinho, Cruzeirinho, Furacão, São Bernardo, Zico e Sport em Juiz de Fora. Quando tinha sete anos, Felipe foi aprovado em uma peneira no Botafogo-RJ, mas por conta da idade, ia apenas aos sábados treinar na equipe carioca. Já Gabriel passou, além do Botafogo, por Fluminense e Vasco.
No final de 2020, Felipe se destacou em um campeonato realizado na cidade Tocantins-MG. “Postamos um vídeo nas redes sociais que caiu nas mãos de captadores do Grêmio. Eles chamaram o Felipe para ir (para o clube), e eu disse também sobre o Gabriel, mandei alguns lances. Eles gostaram e nosso mais novo também foi aprovado”, conta o pai das crianças.
Há mais de dois anos no Sul, os garotos já se sentem adaptados. “No início foi difícil, complicado fazer amizade. Mas depois consegui me sentir mais acolhido, na escola e no Grêmio, e hoje tenho muitos amigos”, vibra Felipe. Para Gabriel, Juiz de Fora possui um lugar especial no coração. “No verão lá é muito calor. No frio é muito forte, não gosto muito. Mas a cidade é ótima, lá é lindo. Só que Juiz de Fora representa minha família, porque eles são daqui. Dei meus primeiros passos na cidade, é minha base, gosto de passar minhas férias aqui”, conta.
Em 2022, Gabriel se sagrou campeão gaúcho. “Fico muito feliz de estar lá, pretendo criar uma carreira, ser mais do que ídolo. Quero chegar no profissional da equipe e um dia ainda disputar a Champions League, por qualquer clube da Europa”, pretende. Também no ano passado Felipe foi vice do Gaúcho. “Evolui muito na pandemia e jogando no Grêmio. Tenho muito orgulho de jogar lá. É um clube muito grande e de alto nível. Quero um dia estrear pelo profissional de lá, ser um grande jogador e chegar na seleção brasileira, sempre sendo também uma boa pessoa”, busca Felipe.