Treinos reduzidos e sem contato físico: clubes retomam atividades em meio à pandemia
Espaços esportivos elaboraram protocolos próprios para garantir a segurança no retorno, enquanto alguns mantiveram atividades remotas
Quem cotidianamente visita o Clube Bom Pastor se deparou com uma realidade diferente nos últimos seis meses. As quadras, piscinas e demais espaços esportivos, normalmente cheios de atletas, agonizavam vazias. Até mesmo ver essa cena poucos podiam: o portão permaneceu fechado por mais de 180 dias, espelhando a lamentação que ocorre em todo o município, na medida em que o coronavírus avança brutalmente sobre a população. Há cerca de três semanas, no entanto, algumas atividades foram retomadas no clube da Zona Sul de Juiz de Fora, assim como em outras agremiações da cidade.
A possibilidade de retomada em meio à pandemia aconteceu na esteira de alterações realizadas pelo Governo de Minas Gerais no programa Minas Consciente. Desde meados de setembro, as atividades esportivas puderam voltar no município após deliberações estaduais e municipais. Para o retorno, os clubes estão sujeitos a medidas de segurança que influenciam diretamente no trabalho realizado. A exemplo do Bom Pastor, ocorreram as retomadas também no Sport Club Juiz de Fora e na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), por exemplo, cada um com políticas adequadas às suas especificidades.
Clube Bom Pastor
No Bom Pastor, uma das primeiras modalidades esportivas praticadas, após o hiato com portas fechadas, foi a natação, no último dia 8 de setembro. Os atletas, então, voltaram ao cotidiano de treinos que havia sido paralisado no dia 23 de março e tiveram o impacto diminuído com atividades remotas. “Desde o primeiro dia já mandamos treinos físicos para todos. Com o passar dos dias, começamos a fazer (treinos) ao vivo duas vezes por semana e mandávamos também para os outros dias”, relata o técnico Fábio Antunes. A programação à distância incluiu lives, palestras e jogos on-line, tudo para manter o foco dos esportistas sem as piscinas.
O retorno ocorre com grupos limitados a 12 nadadores. Na piscina, cada raia tem até dois atletas, que ficam em bordas opostas para evitar o contato físico. “Estamos adaptando os treinos, pois neste primeiro momento os horários estão reduzidos. Eles (atletas) estão fazendo 30 minutos de trabalho fora da água e uma hora na água. Não é o tempo ideal, mas agora não é hora de pensar nisso”, avalia Antunes. Dentro do clube, ainda há regras como a proibição de usar tênis no parque aquático, além dos vestiários e bebedouros. No interior do clube, também há utilização obrigatória de máscara.
Ainda em fase de adaptação, os nadadores passaram por um teste de fogo nos dias 25 e 26 de setembro, com a realização da Copa Brasil de Natação Virtual. Nela, o clube foi responsável por fazer filmagens de tomadas de tempo dos atletas, que são ranqueados pelo melhor desempenho. “Os resultados foram bem legais e superaram as expectativas. Alguns atletas atingiram as melhores marcas pessoais ou chegaram muito próximo delas”, celebra o treinador, apontando a competição como importante para nortear a sequência de treinamentos. “Agora é dar continuidade ao trabalho para chegar a melhor forma e avançar tecnicamente”.
Sport Club Juiz de Fora
No dia 15 de setembro, foi a vez do Sport Club Juiz de Fora retornar às atividades presenciais com as equipes de futebol de campo e futsal. O treinamento na tradicional agremiação juiz-forana, no entanto, foi ainda mais impactado pelas medidas de prevenção ao coronavírus. A política adotada pela diretoria presidida por Jorge Ramos na agremiação segue a recomendação municipal de evitar qualquer contato físico entre os atletas. A regra causa, por exemplo, a impossibilidade de realizar partidas entre os garotos, seja na quadra ou no gramado. “A gente optou por voltar apenas se fosse cumprir os protocolos e caminhar tudo corretamente”, analisa o coordenador de futebol Diego Almeida.
Mesmo adaptada, a volta dos atletas à privilegiada estrutura erguida na Avenida Rio Branco, na região Central, possibilita às comissões técnicas o aperfeiçoamento de aspectos técnicos adormecidos durante os seis meses de paralisação. “A gente aproveita esse período que não pode ter um contato para trabalhar o passe, o domínio, a condução, o drible, a finalização”, enumera Almeida.
O período longe dos gramados, por sua vez, foi oportunidade de aperfeiçoar a compreensão do jogo, predicado dificilmente trabalhado no dia a dia. “Nós aproveitamos esse momento para o atleta se tornar mais inteligente e para a gente trabalhar a capacidade de compreensão e de memorização, de entender o jogo”, ressalta o coordenador, que não acredita em atraso na evolução dos atletas por conta da paralisação. “Aproveitamos também a questão do treino e do momento para a gente inserir nos atletas uma mentalidade forte e vencedora de que a gente vai passar por essa situação”, avalia.
Complexo esportivo da AABB
O retorno na AABB se diferencia pela multiplicidade de espaços e atividades que ocorrem no complexo esportivo localizado no Bairro Teixeiras, Zona Sul. Dadas as condições específicas da Associação, a retomada iniciou no último dia 8 de setembro, mas é feita de maneira gradual. “Nos primeiros dias somente as atividades esportivas do tênis de quadra e área para caminhada foram autorizadas. Depois veio a reabertura do bar e das quadras de vôlei e futevôlei para práticas no máximo em duplas. Na última semana, reabrimos as piscinas, obedecendo o critério de 30% de ocupação da área do parque aquático”, explica o presidente da AABB-JF, Edson de Almeida.
O retorno segue as medidas estabelecidas por decreto municipal e pelo programa Minas Consciente, resultando na proibição de atividades que fomentem maior presença de associados no interior do clube, como as partidas de futebol. “Por esse motivo, o fluxo está muito baixo e está mais tranquilo de seguir os protocolos exigidos”, comenta Edson, lembrando também que há receio entre os associados em decorrência da pandemia.
Dentro da AABB, o álcool em gel é disponibilizado em diversos lugares, a temperatura de cada associado é medida na portaria e equipamentos de uso comum foram proibidos. Ainda assim, a segurança no retorno só pode ser garantida com a consciência de cada indivíduo que se propõe a ir para o local, garante o presidente. “Por mais que tentemos nos cercar de todas as medidas necessárias com relação à segurança, ainda temos dificuldades, pois dependemos também da consciência de cada associado no sentido de colaborar e entender o momento atual”.