Eventos LGBT+ injetam R$ 2 mi na economia local
Atividades realizadas entre 14 e 20 de agosto atraíram cerca de 4 mil turistas e elevaram a ocupação da rede hoteleira.
Juiz de Fora recebeu em torno de quatro mil turistas durante a realização de eventos da comunidade LGBT+, ocorridos entre 14 e 20 de agosto. O público foi atraído pelas atividades que incluíram a 37ª edição do concurso Miss Brasil Gay, a 17ª Rainbow Fest Brasil e a primeira Semana Rainbow, que contou com exposições, exibições de filmes, espetáculo teatral, mesas-redondas, palestras e apresentação de pesquisas acadêmicas na programação. Neste período, cerca de R$ 2 milhões foram injetados na economia local. Os números são da pesquisa “Perfil da demanda turística LGBT+” da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), que foi apresentada nesta terça-feira (24) no 1º Fórum Mineiro de Turismo LGBT, em Belo Horizonte.
O estudo foi realizado pela equipe do projeto de extensão “Miss Brasil Gay – interfaces com a UFJF e a comunidade”, coordenado pelo professor do Departamento de Turismo do Instituto de Ciências Humanas (ICH), Marcelo do Carmo, e teve apoio da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes da Zona da Mata (Abrasel/ZM). Por meio da aplicação de questionários, foram identificados o perfil dos turistas e o retorno econômico dado à cidade.
O público dos eventos – formado por turistas, excursionistas e também juiz-foranos – foi responsável por aquecer a economia durante as festividades com o consumo de produtos e serviços. “Os eventos reuniram a média de cinco mil pessoas, nos seus sete dias de duração”, afirma Marcelo do Carmo. Deste total, cerca de 80% são de fora. “Se cada uma dessas pessoas gastou em torno de R$ 500 na cidade, temos facilmente a marca de R$ 2 milhões injetados na economia. Bem longe dos tempos áureos dos eventos LGBT+ locais, mas bem próximo de uma nova etapa na percepção e apoio aos mesmos.”
A presidente da Abrasel Zona da Mata, Carla Pires, confirma os bons resultados nos bares e restaurantes. “Foi um período excelente para o nosso setor, percebemos o aumento significativo no número de clientes, de forma bem diversificada. A demanda não foi concentrada em um determinado horário ou tipo de estabelecimento. O setor se beneficiou como um todo”, diz. “É muito importante realizar estes e outros eventos.” Ela destaca a importância das entidades de classe apoiarem o turismo local. “É interessante que todos os setores apoiem o turismo local. É importante orientar os estabelecimentos a realizarem um bom atendimento, não aproveitar que a cidade está cheia para subir os preços. É preciso receber bem.”
Perfil
De acordo com o levantamento, os turistas dos eventos LGBT+ de Juiz de Fora têm entre 21 e 65 anos. Quase 80% estão cursando ou já cursaram o ensino superior; 70% exercem alguma função remunerada e 41% recebem entre um e três salários mínimos. Eles são de cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Se deslocaram com automóvel próprio (56%) e se hospedaram em hotéis (78%), conforme o coordenador da pesquisa, Marcelo do Carmo.
Ocupação em hotéis chega a 100%
A média de ocupação da rede hoteleira, estimada em 67% pelo estudo, foi um dos destaques da pesquisa. “Temos uma média de 855 quartos ocupados com duas pessoas por apartamento, o que permite aferir o total de 1.710 hóspedes nos principais hotéis da cidade. Isso sem contar os turistas que se hospedaram na casa de amigos e os excursionistas, que vieram de cidades vizinhas e não utilizaram hotéis”, acrescenta. O período de hospedagem, no entanto, ainda é considerado “restrito”. Do total de entrevistados, 73,5% permaneceram na cidade entre uma ou duas pernoites. O percentual relativo a quem ficou três pernoites é de apenas 13%.
Na avaliação do coordenador-executivo do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (SHRB), Rogério Barros, 2017 foi o ano de “resgate” dos eventos LGBT+ na cidade. “Tivemos hotéis que chegaram a 100% de ocupação, mas não foi uma percepção em toda a rede hoteleira, como acontecia nos tempos áureos há alguns anos. A preferência dos turistas foi por estabelecimentos mais luxuosos e próximos ao local da realização do concurso Miss Brasil Gay.”
Para ele, o profissionalismo na organização do evento, assim como a ampla divulgação contribuem para que o retorno seja ainda maior nas próximas edições. “Nossa expectativa é que, em 2018, o público já se programe para visitar a cidade. No passado, era comum recebermos um grande número de caravanas de viagem e, assim, as agências de turismo fechavam pacotes com diárias num valor mais atrativo. Acredito que a excelência que vimos na organização deste ano junto à cobertura feita pela imprensa nacional irá ajudar a atrair mais pessoas nos próximos anos.”
Função social
Para Marcelo do Carmo, além da relevância econômica, os eventos cumprem uma função social. “No que diz respeito às questões sociais, o retorno dos eventos LGBT+ é terreno fértil para a pesquisa, a extensão e o ensino. Um universo de possibilidades para se pensar o preconceito, as diferenças ou ‘alteridade’, a aceitação de novas formas de viver, os novos formatos familiares e as novas orientações sexuais e/ou de gênero. Os eventos LGBT+ existem justamente para dar visibilidade e tornar mais ‘palatável’ essa discussão ainda ‘árida’. Porém, a realidade continua apavorante: um homossexual é morto a cada 25 horas no Brasil.”