Teatro, rito e permanência

O efêmero pode, e deve, construir memórias duradouras


Por Pedro Moysés

01/10/2025 às 07h00

No teatro, tudo acontece sob o risco do ao vivo. Um gesto que escapa, uma voz que falha e, assim, em uma fração de segundos, o silêncio do público se faz presença tão concreta quanto o corpo do ator. O erro não é falha: é a marca da vida pulsando na cena, o lembrete de que estamos diante de algo que só existe no instante em que acontece – e isso vale para as duas vias. Há uma cumplicidade silenciosa entre quem atua e quem assiste, um pacto invisível que transforma essa vulnerabilidade em força.

E é justamente essa vulnerabilidade que torna essa arte efêmera. Cada apresentação se apaga assim que termina; nada permanece senão a memória de quem esteve ali, naquela sessão específica. Diferente do cinema, do livro ou da fotografia, em que a interpretação pode ser diversa, mas o produto é sempre o mesmo, no teatro a cena não se repete, não se captura, não se conserva. Paradoxalmente, é nessa própria finitude que se cria a permanência; o instante que desaparece é também o que pode para sempre viver na lembrança de cada espectador, e nem sempre esse instante é como o planejado.

O teatro, então, é também rito. O encontro entre palco e plateia funciona como um ritual contemporâneo, uma celebração da vida e do instante que se oferece. A dramaturgia e a encenação se tornam quase como uma liturgia laica, um espaço de comunhão em que todos participam de algo que nunca mais vai se repetir.

No fundo, o teatro é um rito passível de esquecimento, mas que insiste em produzir memória. O que morre dentro de uma, duas ou três horas de espetáculo não deixa de existir: permanece na tensão, na respiração, no olhar compartilhado e no risco que nos lembra, por alguns minutos, que, para se estar vivo, é necessário um ato de coragem.

A arte em si é efêmera: cada apresentação se dissolve no apagar das luzes, mas cada gesto, cada palavra, cada silêncio pode, ou não, se apagar com o tempo. 

O trabalho de formação de público, por outro lado, não se perde tão facilmente. Mesmo lento, é acumulativo. Cada espectador formado carrega consigo a semente do teatro, capaz de florescer em novos espetáculos, olhares ou experiências. Enquanto o espetáculo passa, o público se constrói, e essa construção, ao contrário da cena, é, ou deveria ser, extremamente duradoura.

Teatro em Juiz de Fora

  • No dia 1º de outubro, data em que se celebra o Dia Internacional das Pessoas Idosas, o projeto de extensão “Pessoas idosas na dança da vida”, da Faculdade de Letras da UFJF, apresenta gratuitamente o espetáculo teatral “Dança da vida” no Teatro Paschoal Carlos Magno, no Centro de Juiz de Fora. A montagem tem direção de Tiê Fontoura e traz no elenco Glàddys Hỳpolito no papel de Lídia e Mário Galvanni como Antthonny. A iniciativa busca valorizar o protagonismo da pessoa idosa por meio da arte, celebrando experiências de vida e reafirmando a importância da inclusão cultural. Após a estreia, o espetáculo terá ainda duas apresentações gratuitas no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM). A entrada é franca e as apresentações acontecem no dia 1º, às 19h30 no Teatro Paschoal Carlos Magno, e nos dias 3 e 4, no mesmo horário, no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas.
  • A comédia “As loucas”, inspirada no clássico “A gaiola das loucas”, foi reimaginada por Anderson Ferigate e Weslley Loures e entra em cartaz esta semana no Teatro Solar, em Juiz de Fora. Sob a direção de Anderson Ferigate e produção de Drew Persí e Márcia Mello, o espetáculo marca a parceria entre o Grupo Teatral CriArte e Entreato Produções. Ambientada nos anos 1990, a trama acompanha Armando Dourado, dono da boate gay mais badalada da cidade, e seu companheiro Albert, que precisam se disfarçar para agradar o conservador senador Geraldo Raposo, pai da noiva de seu filho. Em meio a plumas, paetês, drag queens e gogo boys, a peça promete misturar humor e crítica social e convidar o público a rir do opressor em tempos de intolerância. As apresentações acontecem nos dias 3 e 4 de outubro, às 20h, e 5 de outubro, às 19h. Ingressos on-line pela Uniticket.
  • O espetáculo “Imagens do invisível” continua em cartaz. A montagem, em formato de desfile-performance, apresenta 26 máscaras inspiradas em deuses, seres encantados e manifestações populares de diferentes regiões do mundo. Com cinco atores-bailarinos, um músico e um ator-narrador, a montagem envolve o público em uma atmosfera onírica, com plateia disposta em passarela. O projeto foi contemplado pela PNAB e terá quatro apresentações gratuitas. A direção e as máscaras são de Marcos Marinho. As apresentações acontecem nos dias 1º de outubro no Instituto Federal Campus JF, às 19h; e 5 de outubro na Escola de Samba União das Cores, também às 19h.Os ingressos são gratuitos e serão distribuídos 1h antes das sessões.
  • No dia 6 de outubro, a Trupe Qualquer apresenta mais uma vez o espetáculo “Café com leite” no Teatro da Praça CEU, com sessões gratuitas às 9h, 13h30 e 15h30. Com texto e direção de Rafael Coutinho, a peça, que em breve estreia no Rio de Janeiro, conta a história de Ana, uma menina que decide ser “café com leite” em todas as brincadeiras. Misturando humor, poesia e música ao vivo, o espetáculo aborda de maneira leve e sensível o amadurecimento e o direito de ser criança, convidando o público a refletir sobre a delicada transição entre infância e juventude.

De malas prontas

A ‘Cia Eita!’ foi selecionada entre mais de 200 inscrições para compor a programação do 17º Festival Nacional de Teatro Infantil de Feira de Santana (FENATIFS), na Bahia. Representando o teatro juiz-forano, a companhia já está de malas prontas e embarca dia 4 d eoutubro para uma viagem de mais de mil quilômetros até Feira de Santana, cidade localizada na região centro-norte do estado, onde apresentará o espetáculo “Assinado, Téo”, com texto e dramaturgia de Lucas Nunes, em duas sessões, nos dias 7 e 8 de outubro.

O grupo juiz-forano ‘Em Cômodos’ também viaja nesta semana para apresentar seu primeiro texto autoral, “A copa”, no XI Festival de Teatro Comunitário, o Festeco, em Mariana. 

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