Do drama ao luxo
As histórias que levaram a repórter especial da Tribuna Daniela Arbex a lançar o best-seller “Holocausto brasileiro”, que expôs para o Brasil o drama dos pacientes do antigo Hospital Colônia de Barbacena, inspiraram um jovem designer de moda a levar o tema para as passarelas. Juntando a história do manicômio com a beleza dos bordados artesanais de Minas, o designer de moda Eduardo Gonzaga, 22 anos, criou cinco vestidos de festa que serão exibidos ao grande público neste sábado. As peças, produzidas como parte do trabalho de conclusão de curso que ele apresentou na última semana, ganharão a passarela durante um desfile realizado pelo Centro de Ensino Superior (CES), no piso G1 do Independência Shopping, a partir das 19h deste sábado. A entrada é gratuita.
“Nasci em Barbacena e morei muito próximo ao Colônia, estudava a 100m dele. Muitas pessoas de várias gerações da minha família trabalharam lá, e minha família inclusive adotou uma criança, na época em que algumas eram colocadas para a adoção. Isso contribuiu para que eu quisesse fazer essa pesquisa. Eu pude viver essas sensações”, conta Eduardo. “Já o bordado é muito usado no tratamento de doentes mentais, por meio de terapia ocupacional. Em determinados casos, ele é indicado para estimular a concentração e o autoconhecimento. É possível interpretar os traços da personalidade nas cores que a bordadeira escolhe, nos traços que ela faz e na forma como borda. Elas se comunicam por meio do bordado.”
O resultado da pesquisa teórica foi a coleção “Avesso mineiro”, da qual foram criados cinco vestidos de festa. Para captar a história do Colônia, Eduardo recorreu a “Holocausto brasileiro”, livro da repórter Daniela Arbex que conta como funcionou o hospício durante a maior parte do século XX. “Tive cuidado de respeitar essas histórias, porque a proposta é criar vestidos de festa, que, neste caso, acabam celebrando coisas tristes. Dar formas às sensações e às tragédias foi mais do que um desafio. E acho que em alguns momentos consegui fazer isso. A intenção do trabalho é ir além e estimular a terapia ocupacional em pessoas com transtornos mentais.”
Avaliação
“É emocionante ver como Eduardo transformou meu texto em arte com muita competência. Isso mostra que a literatura é uma porta de infinitas possibilidades, e que muitas pessoas podem ser tocadas a partir dela como ele foi”, avalia a repórter Daniela Arbex.
As peças criadas são conceituais, mas o professor que orientou o trabalho de Eduardo não descarta a possibilidade de serem efetivamente usadas. “O que ele criou são produtos voltados para o mercado de festas, para mulheres que gostam de usar roupas mais dramáticas. É uma roupa de ateliê, que individualiza a mulher. São peças que podem ser usadas, por exemplo, por mulheres que serão homenageadas, destacadas ou que vão receber um prêmio”, sugere Luiz Fernando Ribeiro, professor do CES e do IAD-UFJF.
Além dos looks criados por Eduardo Gonzaga, o desfile deste sábado vai reunir peças de outros recém-formados, alunos de vários períodos do curso de design de moda, incluindo estudantes premiados por suas criações. Serão mais de 50 itens, entre acessórios e roupas.
DESFILE DE MODA
Centro de Ensino Superior
Neste sábado, a partir das 19h
Independência Shopping – piso G1