Academias retomam atividades de olho nas novas regras

Segmento teve autorização do Minas Consciente para retomar o funcionamento; entretanto, restrições são severas e exigem mudanças significativas de estrutura e de comportamento dos frequentadores


Por Leticya Bernadete

30/08/2020 às 06h52

Faixas delimitando espaços para exercícios, limpeza dos aparelhos a todo instante, medidor de temperatura, tapete sanitizante na entrada e uso obrigatório de máscaras. Essas são algumas das muitas mudanças necessárias para uma nova realidade das academias em Juiz de Fora. Após flexibilização do Minas Consciente, os estabelecimentos que voltariam a funcionar na onda verde só puderam retomar suas atividades na última semana. Ao passo que algumas academias já reabriram as portas, outras optaram por aguardar mais alguns dias para se preparar para as novas deliberações do Comitê Municipal de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19, divulgadas em reunião ocorrida na última quinta-feira (27). Paralelamente, a Câmara Municipal aprovou projeto de lei na última sexta, que torna essencial os serviços prestados por academias de ginásticas. O texto carece, ainda, de análise do prefeito Antônio Almas (PSDB).

O setor já vinha debatendo e solicitando a reabertura desde julho, quando realizou manifestação na cidade, coordenada pela Associação das Academias de Juiz de Fora (Acad-JF). De acordo com o presidente da Acad-JF e sócio-fundador da rede Activa Fitness Center, Diego Paiva, após quase seis meses sem funcionamento, grande parte do setor teve queda de 100% em seu faturamento. “Se não tivesse a ajuda do Governo federal com a MP 936, as demissões em massa seriam certeiras. Seguramente, vamos ter um setor menor, porque muita gente, infelizmente, ficou pelo caminho”, diz.

Para a retomada das atividades, a Acad-JF elaborou um material “rigoroso e criterioso”, a ser adotado pelas academias associadas, seguindo determinações do Minas Consciente, bem como com orientações da Prefeitura de Juiz de Fora. “As academias são ambientes seguros e estão preparadas para o retorno”, destaca Diego. Conforme o presidente da associação, a orientação para se adaptar às mudanças indica três pontos a serem seguidos: “planeje todos os seus passos, mesmo que você ainda não tenha certeza do caminho; negocie com clientes, fornecedores e colaboradores; e envolva as pessoas nas suas decisões, o conceito de humanização vai ajudar a reação”.

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Algumas academias já fizeram adaptações físicas e comportamentais para aumentar a biossegurança dos seus alunos e estão operando desde o início da semana (Foto: Leonardo Costa)

Restrições

O Governo estadual autorizou a retomada do funcionamento de academias de ginástica no último dia 18, após reunião do Comitê Executivo do Estado, que analisou o cenário atual da pandemia e identificou a possibilidade de antecipar a reabertura do setor. Em Juiz de Fora, os estabelecimentos puderam retornar às suas atividades desde o dia 22. Entre as regras previstas pelo protocolo estadual, estão a limitação de um usuário a cada dez metros quadrados; horário agendado para os usuários; disponibilização de profissionais para higienização de equipamentos após cada utilização; instalação de termômetro na porta para aferir a temperatura dos usuários; posicionamento de equipamentos de forma que permita a distância mínima de três metros entre usuários; e aplicação dos demais protocolos sanitários vigentes.

A reunião do Comitê de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19, realizada na última quinta, trouxe novas regras para o setor: realização de aulas coletivas com respeito ao distanciamento; utilização de lavatórios e sanitários apenas nos vestiários, a utilização de máscaras durante os treinos; e implementação de bebedouros sem esguichos.

Estabelecimentos reabrem com novas medidas

Com a quarentena instaurada na cidade em março e sem perspectivas de retorno, muitos espaços apostaram em reformas estruturais, como no caso da Potenza Academia. De acordo com o sócio-gerente e responsável técnico pelo estabelecimento, Marcelo Moraes, além de fazer intervenções físicas, a academia acompanhou os protocolos que estavam sendo elaborados, como o da Acad-JF, para fundamentar sua futura retomada. “Quando recebemos a notícia que poderíamos voltar pelo Minas Consciente, já estávamos mais ou menos com tudo pronto, então começamos a implantar essas medidas.”

Com as aulas retomadas na última segunda (24), a Potenza fez diversas adaptações no espaço para melhorar a biossegurança dos alunos, como distanciamento de aparelhos, desativação de chuveiros, fontes de bebedouros e áreas de convivência, além da oferta de álcool 70% em todo o espaço. “A limpeza que já era feita normalmente foi intensificada para fazer com que os alunos se sintam seguros aqui na academia com esse retorno”, diz Marcelo.

Apesar da lista de mudanças ser grande, o sócio-gerente da academia acredita que tais adaptações podem trazer retornos positivos. “Antes da pandemia, nós não tomávamos esses cuidados, então acho que até para a saúde dos alunos e dos funcionários que frequentam a academia isso vai ter um lado positivo. Ou seja, quando você usa o álcool 70%, usa as máscaras e tem o distanciamento, algumas doenças infectocontagiosas, além do coronavírus, são evitadas, tanto que há pesquisas que mostram que, nesse período da pandemia, uma série de doenças teve uma redução no número de casos.”

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Alguns estabelecimentos preferiram reabrir as portas a partir desta semana, intensificando medidas de segurança e fazendo treinamento dos colaboradores (Foto: Nathalia Pacheco/Divulgação)

Mudança comportamentais

Na Base 5 Crossfit, além das mudanças estruturais, a academia buscou implantar diversas regras comportamentais. Para uma maior segurança, os alunos deverão levar acessórios próprios, como toalha e garrafa de água, e terão o acesso mais restrito aos vestiários. “Foi um baque muito grande quando fechou, porque é muito difícil você manter. O crossfit ainda tem o lado que é muito de socialização, a galera gosta muito do espaço e de estar com o pessoal, então isso também foi um desafio para nós”, conta a sócio-proprietária Ana Carolina Francisquini. “Acho que é um ponto bom para a galera ir voltando aos poucos, revendo todo mundo, mesmo que seja à distância e com todos os cuidados.”

Desde o início da pandemia na cidade, a Base 5 Crossfit veio se planejando para uma eventual retomada, adquirindo os produtos necessários, como álcool em gel e piso sanitizador, planejando a estrutura do espaço. Não só o número de alunos por turma foi reduzido, como também o tempo das aulas. “Normalmente, costumava ser uma hora de duração. Nós reduzimos para 45 minutos, justamente para ter esse delay entre uma aula e outra, para poder fazer higienização de tudo”, explica Ana Carolina.

A academia vai manter os treinos on-line para os alunos que ainda não se sentem seguros ou não podem retomar às atividades de forma presencial, entretanto, o estabelecimento teve um retorno positivo após publicar um vídeo em seu perfil no Instagram, explicando todas as medidas que adotou para a reabertura. “Depois do vídeo, parece que passamos uma segurança para a galera, então tivemos um retorno dos alunos, de gente que às vezes estava trancada e voltou”, conta a sócio-proprietária. “Agora é preciso tomar um cuidado redobrado – o setor como um todo -, para a gente consiga se manter ativo, não ter nenhum problema e nenhuma barreira futura”, destaca.

Setor tem boa expectativa com retomada

Usando a última semana para os ajustes finais, a academia Dynamo irá reabrir as portas a partir desta segunda (31). Além da preparação, o estabelecimento optou por aguardar as orientações do Comitê Municipal para retomar dentro dos protocolos estabelecidos, de acordo com um dos sócios da academia, Gema Ferraz. Neste meio tempo, a Dynamo adotou algumas orientações da Acad-JF. “Vamos fazer tudo que for preciso para manter a segurança, tanto dos colaboradores, quanto dos alunos”, assegura. Os acessórios principais, como álcool em gel, tapete para higienização dos pés e aparelho para aferir a temperatura, bem como as áreas demarcadas para distanciamento já foram providenciados.

Os professores e colaboradores da academia, bem como personal trainers que a frequentam, passaram por treinamento dos protocolos de segurança. Além disso, os funcionários estão buscando já se adaptar ao uso de máscara, item obrigatório para todos os estabelecimentos. “Os professores também aproveitaram essa semana para fazerem treino com a máscara, para terem a sensação do que o aluno vai ter na hora que vier treinar. Dessa maneira, eles vão ter um feeling melhor na hora de prescrever o exercício, sendo que eles já experimentaram”, conta Ferraz.

Para o sócio da Dynamo, é possível que, inicialmente, as pessoas ainda sintam receio em voltar para as atividades presenciais, o que levou a academia a manter, também, o trabalho on-line que havia se iniciado por conta da pandemia. Mas por outro lado, a expectativa é positiva, já que novas pessoas estão procurando o estabelecimento para começar uma atividade física. “Toda mudança traz um pouco de transtorno, mas é um transtorno necessário para que a gente possa seguir direitinho e, daqui a pouco, tudo volte realmente ao normal. Mas acredito que os alunos, pelo feedback que estamos tendo, estão muito receptivos a todos esses protocolos de segurança, porque sabem que é para o bem de todos”, diz.

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(Foto: Fernando Priamo)

Infectologista considera restrições positivas

Na avaliação do médico infectologista e responsável pelo setor de Vigilância em Saúde do Hospital Universitário da UFJF, Rodrigo Daniel de Souza, as restrições impostas pelo programa estadual são exigentes, podendo evitar a contaminação dos frequentadores destes espaços, ou, ao menos, reduzir ao máximo. Entretanto, a utilização da máscara pode sofrer resistência por parte de algumas pessoas. “Durante a atividade física, a pessoa tem uma necessidade de oxigênio e de respiração maior do que a habitual. Então, apesar de não ter nenhum mal especificamente para a pessoa naquele momento, talvez ela não tenha sua capacidade plena, não conseguindo fazer o mesmo nível de atividade física que faz habitualmente sem a máscara”, explica o infectologista.

O equipamento de proteção individual é essencial para evitar a contaminação de outras pessoas e do ambiente, principalmente em casos assintomáticos e pré-assintomáticos, sendo estes últimos grandes transmissores do coronavírus. “A pessoa que está na fase pré-sintomática, que vai apresentar sintoma ainda, tem uma quantidade de vírus grande, então vai ficar soltando vírus no ambiente para outras pessoas se ela não tiver as proteções. Por isso que todo mundo tem que usar máscara ainda e não dá para liberar essa medida, por enquanto.”

Cuidado próprio redobrado

Em Juiz de Fora, o sistema de saúde não chegou ao seu limite, e a ocupação dos leitos hospitalares tem se mantido em valores que possibilitam maior flexibilização das atividades econômicas. Na manhã da última sexta-feira (28), 70,32% dos leitos de UTI e 60,27% dos de enfermaria estavam ocupados. De acordo com o infectologista Rodrigo Daniel, este parâmetro deve ser acompanhado pelas autoridades de saúde. “Essas atividades são todas dinâmicas. Quando você flexibiliza, não quer dizer que seja eterno. Se a ocupação dos leitos começar a subir, você consegue restringir novamente.”

Por outro lado, quem voltar para as academias deve ter cuidado próprio redobrado, principalmente ao conviver com pessoas do grupo de risco. “Acho que realmente temos capacidade do sistema de saúde absorver alguns casos que podem vir a acontecer nas academias, mas, em geral, são pessoas saudáveis e que não devem ter formas graves, então não deve ter grande impacto no número de internações e de ocupações de leitos de UTI”, aponta o infectologista.

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