A Polícia Federal investiga a possível atuação de uma quadrilha ligada a Juiz de Fora que estaria aplicando golpes em várias cidades do país fazendo o repasse de cédulas falsificadas em troca de dólares. Apesar de ainda não haver ligação concreta com o caso envolvendo o tiroteio entre os policiais civis mineiros e paulistas, ocorrido no último dia 19, quando foram apreendidos R$ 14 milhões em notas sem valor, a semelhança entre os golpes pode levar a Polícia Federal a apurar o fato. O inquérito que busca o desmantelamento da quadrilha teve início em novembro passado, após dois empresários pernambucanos, pai e filho, caírem no golpe em Juiz de Fora e serem presos ao tentarem depositar R$ 5 milhões em notas falsificadas e sem valor. O procedimento está em sigilo e será encaminhado à Justiça. É possível que haja movimentação nos próximos dias.
As investigações envolvendo o suposto grupo criminoso correm em separado do tiroteio que terminou na morte de um policial civil em Juiz de Fora. A Superintendência Regional da Polícia Federal em Minas Gerais informou que, “até o presente momento, ainda não recebeu por determinação judicial o caso do tiroteio em Juiz de Fora”.
Estelionatos
Além do crime envolvendo os pernambucanos, ocorrido em 2017, e de outro episódio registrado na cidade em 2013, também envolvendo milhões em notas falsas, já divulgados pela Tribuna na sexta, a reportagem levantou um outro crime ocorrido em Arapongas (PR), com o mesmo modus operandi, envolvendo supostos estelionatários de Juiz de Fora. O crime ocorreu no dia 25 de novembro do ano passado, cinco dias antes do episódio dos R$ 5 milhões falsos no município mineiro. Conforme matérias da Band News do Paraná e do G1, um empresário da cidade de Umuarama, também no Paraná, perdeu US$ 160 mil ao negociar um empréstimo milionário com falsos empresários de Juiz de Fora. Segundo o delegado da Polícia Civil que investigou o caso, Marcos da Silva Fontes, o empresário paranaense seguiu de Umuarama para Arapongas, Norte do Paraná, para encontrar os estelionatários. Junto com ele, segundo entrevista do delegado na época, foram dois policiais militares e um advogado. O encontro aconteceu em um estacionamento, assim como o caso de Juiz de Fora que terminou com a morte do policial civil Rodrigo Francisco e do dono de uma empresa de segurança Jerônimo da Silva Leal Junior.
Golpes podem estar ocorrendo desde 2009
No dia 11 de agosto de 2009, policiais civis do Departamento de Investigação de Crimes Contra o Patrimônio, por meio da Divisão de Operações Especiais, e a 3ª Delegacia Especializada em Repressão às Organizações Criminosas desarticularam uma quadrilha especializada em estelionato com atuação em vários estados das regiões Sudeste e Nordeste do país. Segundo a Secretaria de Segurança Pública de Minas, Antônio Vilela, o homem que seria dono das notas falsas apreendidas em Juiz de Fora depois do tiroteio entre os policiais civis mineiros e paulistas, foi preso na operação. Além dele, mais quatro homens foram detidos no Bairro Jardim Europa, região Norte de Belo Horizonte, onde a polícia encontrou cerca de R$ 7,75 milhões em notas falsas. Também foram apreendidos três veículos e 13 pedras similares a diamantes.
As investigações haviam começado três meses antes das prisões, após a denúncia de uma vítima do grupo. Na oportunidade, os suspeitos teriam efetuado uma troca de moeda estrangeira por reais falsos. No dia da prisão, a quadrilha se envolveu na compra de R$ 250 mil em diamantes, pagos com dinheiro falso. O crime já foi confessado por um dos suspeitos. Na época, os cinco homens foram autuados em flagrante por estelionato e formação de quadrilha.
Outro episódio ocorreu em março de 2015, em São Roque (SP). Na ocasião, Antônio Vilela também foi detido junto com outro homem. Segundo o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), R$ 5 milhões falsos foram apreendidos. O valor seria trocado por US$ 200 mil. Segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”, o dinheiro estava em duas malas no porta-malas de um carro. Foram encontrados no veículo maços de R$ 100, tendo notas falsas misturadas com verdadeiras. A suspeita é de que eles aplicariam um golpe em empresários da região. A dupla foi autuada por estelionato e associação criminosa.
Antônio Vilela estava solto, sendo preso novamente após o episódio no estacionamento do Centro Médico Monte Sinai, na sexta-feira (19), quando foi baleado no pé. Após receber alta, foi encaminhado para o Ceresp, onde permanecia nesta sexta-feira (26), de acordo com a Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap). Apesar de parte das ações criminosas em investigação terem ligação com Juiz de Fora, Antônio Vilela é comerciante em Coronel Fabriciano (MG), região do Vale do Aço. Ele é natural de São Gabriel da Palha (ES).
Ocorrência em Juiz de Fora deu início às apurações
Já o registro que levou à instauração do inquérito na Polícia Federal se deu no dia 29 de novembro de 2017. Pai e filho, de respectivamente, 64 e 31 anos, foram presos em flagrante com duas malas de dinheiro falso contendo aproximadamente R$ 5 milhões. A dupla teria vindo de Pernambuco para negociar um empréstimo com um agiota da cidade. Eles pediram o dinheiro, mas o golpista teria solicitado um sinal, em dólar, para garantir o empréstimo. Eles foram capturados em uma agência da Caixa, localizada na Avenida Rio Branco, no Centro de Juiz de Fora. As notas falsas estavam misturadas às verdadeiras dentro de duas malas de viagem. A polícia estima que havia cerca de R$ 20 mil em cédulas verdadeiras em meio às falsificações. No meio do dinheiro verdadeiro, havia notas sem valor com os dígitos de série igual, sendo que todas terminavam com o número 83. Segundo a ocorrência policial feita na época, a cada R$ 100 mil, R$ 400 eram dinheiro verdadeiro.
Em 2013, também em novembro, outra situação semelhante foi registrada na cidade. Um empresário de 51 anos do ramo de construção civil, do interior do Estado de Rondônia, perdeu US$ 90 mil. A transação milionária foi realizada no quarto de um hotel da Avenida Getúlio Vargas, Centro. O golpista, que havia se identificado à vítima como pastor de Juiz de Fora, entregou a ela uma maleta que deveria conter R$ 1,2 milhão. No entanto, após a saída do estelionatário, o construtor verificou novamente a pasta, que estava trancada, e, ao arrombá-la, constatou que apenas R$ 1.300 eram verdadeiros. O restante das mais de 1.100 notas de R$ 100 era falso. Cada cédula continha ao centro as inscrições “sem valor” e “jogos de mesa”, enquanto as bordas eram semelhantes às originais, configurando falsificação grosseira.