Universitário suspeito de integrar rede de crimes sexuais no Discord é preso em JF
Delegado alerta famílias sobre importância de monitoramento do aplicativo de jogos e de comunidades on-line
Um jovem, de 20 anos, suspeito de integrar uma rede de crimes sexuais no aplicativo Discord, foi preso em Juiz de Fora durante ação do Núcleo Regional de Inteligência (NRI) da Delegacia de Polícia Civil de Juiz de Fora. Após investigação envolvendo o estupro coletivo de uma garota de 13 anos, com requintes de crueldade, tortura e até mutilação, ocorrido em 2023 em São Paulo mediante cárcere privado, o estudante universitário de engenharia da computação foi capturado no imóvel onde residia sozinho na Rua Santo Antônio, no Centro da cidade. O mandado de apreensão (ele era adolescente na época) foi cumprido na última sexta-feira (19) e também resultou em prisão em flagrante por tráfico de drogas, já que o alvo foi flagrado com comprimidos de Artane – medicamento restringido pela Anvisa e usado no golpe Boa noite, Cinderela – e com porção de maconha. Além disso, durante a apreensão de diversos equipamentos eletrônicos na casa foram encontradas evidências de que o morador armazenava e compartilhava imagens de pornografia infantojuvenil, inclusive em situações de violência, automutilação induzida e sadismo. Ele também continuava fazendo vítimas ao vivo. Em um dos casos, uma adolescente atraída pelo suspeito teve o nome dele escrito com gilete nas nádegas.
O delegado Márcio Rocha conta que o mandado foi expedido pela Vara da Infância e Juventude de Juiz de Fora e cumprido com apoio do Laboratório de Operações Cibernéticas (Ciberlab) da Diretoria de Operações Integradas e Inteligência (Diopi), do Ministério da Justiça do Governo federal. “O jovem participava de ‘panelinhas’ no Discord. Em uma dessas participações, eles drogaram, estupraram e torturaram uma adolescente por 15 dias, dando bebida alcoólica e remédios.” O caso citado aconteceu em 2023 e ganhou repercussão nacional, com matéria no Fantástico, exibida em junho daquele ano na Rede Globo. “Outros investigados já haviam sido presos”, observa o delegado. “A adolescente, de 13 anos, saiu de Joinville (SC), com destino à cidade de São Paulo, convencida por esses jovens a se distanciar da família, porque lá ela iria encontrar afeto e carinho. Eles pagaram a viagem dela por aplicativo de transporte e, quando ela chegou, foi levada para uma residência, colocada em cárcere. Já no primeiro dia, foi estuprada, violentada, torturada e drogada. Nesses 15 dias, ela sofreu os maiores ataques que se possa imaginar. O estupro ainda foi gravado para constrangê-la, caso ela divulgasse aquilo (o crime).” Outras adolescentes também estavam no mesmo local sofrendo violência.
O investigado preso em Juiz de Fora foi o responsável por “castigar” a vítima, conforme o delegado, e era “uma das lideranças” do grupo. “Ele torturou e mutilou a menina”, dispara Márcio, detalhando que a adolescente teve a pele cortada com lâmina, inclusive nas partes íntimas. “Ela foi gravada seminua ou nua, se automutilando. Era obrigada a escrever o ‘nickname’ dos participantes na pele. Ficou nessa situação durante 15 dias seguidos, sendo espancada, torturada e violentada.” Na percepção de Márcio, “nem chefe de organização criminosa é tão violento e tão sádico”. O jovem preso no município foi encaminhado ao sistema prisional. As investigações continuam para identificar outras possíveis vítimas.
Entenda mais sobre o Discord, popular entre gamers

De acordo com a Agência Brasil, o Discord é um aplicativo popular entre os jovens, mas vem sendo alvo de investigações por ter canais com conteúdos que fazem apologia ao nazismo, racismo, pedofilia e exploração sexual. Com chat de voz, texto e vídeo, é muito utilizado por gamers para se comunicar com amigos e outros usuários em jogos on-line, mas passou a ser usado por criminosos para circular conteúdos violentos, até com transmissões ao vivo.
No site, o Discord tem uma extensa lista de orientações à comunidade. Entre as normas estão: não encorajar, coordenar ou se envolver em situações de assédio, não usar discurso de ódio ou se envolver em outras condutas odiosas. Em caso de violação das diretrizes, o aplicativo pode atuar com a “remoção de conteúdo, suspensão ou remoção das contas e/ou servidores responsáveis, além de possíveis denúncias às autoridades policiais”.
Cuidados e atenção aos sinais
Para evitar que jovens sejam coagidos no Discord ou em outras redes sociais, os responsáveis devem ficar atentos ao que crianças e adolescentes estão fazendo na internet, como que tipo de conteúdo consomem dentro de seus quartos, enquanto utilizam o computador ou celular.
“A Discord é uma plataforma de jogos, mas tem sido utilizada por jovens para fazerem as maiores atrocidades. As mensagens não são rastreadas, e é possível fazer vídeos ao vivo. Muitas pessoas e pais não sabem desse aplicativo, que é um ‘campo minado’ para esses criminosos. Vários crimes hediondos são cometidos, como induzimento ao suicídio, misoginia, nazismo, ataque em escolas”, alerta o delegado Márcio Rocha. Segundo ele, existem muitos estupros virtuais on-line, e adolescentes estariam sendo atraídos e cooptados em outras plataformas de jogos, como Minecraft e Roblox. “A partir daí, começam a fazer desafios, como matar o próprio animal doméstico, matar moradores em situação de rua, se automutilar. Pedem fotos e passam a ameaçar essas pessoas. É assustador.”
O delegado reforça a importância de pais monitorarem seus filhos, lembrando que muitos adultos ainda desconhecem o Discord. “Observe se seu filho fica muito tempo no quarto, jogando, com fone de ouvido. Também é importante observar se eles têm sinais de mutilação no corpo, porque é uma prática muito comum.” Segundo ele, o risco não é apenas de ser torturado ou violentado, mas também de ser induzido a cometer algum tipo de crime, como ataque a escola, ou praticar suicídio.”