Motoristas da Uber reclamam de violĂȘncia fĂsica e verbal
Categoria fez protesto nesta terça na rodoviĂĄria, SinditĂĄxi repudia violĂȘncia
Um grupo de motoristas da Uber realizou protesto nesta quarta-feira (19) no Terminal RodoviĂĄrio Miguel Mansur para denunciar casos de agressĂŁo e perseguição sofridos pela categoria. Os motoristas relatam que sĂŁo alvos de xingamentos, ameaças e atĂ© agressĂ”es fĂsicas por parte de taxistas, o que estaria acontecendo principalmente na rodoviĂĄria e nas saĂdas de casas de festas na Zona Sul e Cidade Alta. O Sindicato dos Taxistas e Transportadores AutĂŽnomos de Passageiros de Juiz de Fora (SinditĂĄxi) afirma que a entidade rechaça atos de violĂȘncia.
Os condutores acordaram outro encontro na próxima segunda-feira (24). A intenção é levar à Cùmara Municipal pedido de regulamentação da atividade em Juiz de Fora. Eles argumentam que a aceitação do serviço pelos usuårios da cidade e a qualidade oferecida devem ser levadas em conta, além da necessidade econÎmica dos trabalhadores que atuam na Uber.
“A maioria dos motoristas da Uber Ă© pai de famĂlia. Estamos buscando nosso sustento. AtĂ© que eu consiga me recolocar no mercado, a saĂda Ă© o trabalho com a empresa. NĂŁo queremos prejudicar o trabalho de ninguĂ©m, hĂĄ espaço para todo mundo. Nossa intenção Ă© somar, porque tambĂ©m temos recebido avaliaçÔes positivas dos passageiros”, diz o motorista Marcos Alexandre Alves Quintaes.
“Escutamos que os taxistas sĂŁo ameaçados por condutores da Uber, mas isso nĂŁo Ă© verdade. Quem estĂĄ sendo marginalizado por eles somos nĂłs. Inclusive, temos registros de ocorrĂȘncias em que lançaram garrafas e pedras nos carros dos nossos colegas”, afirma o motorista JĂșlio CĂ©sar Marques Paes, que tambĂ©m se queixa de agressĂ”es.
O Registro de Evento de Defesa Social (Reds) do caso citado por JĂșlio CĂ©sar foi feito no dia 3 de junho, na Estrada Engenheiro Gentil Forn. O histĂłrico da ocorrĂȘncia conta que havia duas passageiras dentro de um carro da Uber, quando nove motoristas de tĂĄxi teriam arremessado garrafas e pedras contra o veĂculo e os ocupantes.
A motorista Jacqueline Rodrigues relatou que jĂĄ foi insultada mais de uma vez. “Eles nos xingam, atacam nossa vida pessoal.” Na plataforma da empresa, um usuĂĄrio descreve brevemente uma das agressĂ”es. “A Uber foi alvo de um atentado vindo dos taxistas, que jogaram uma garrafa de vidro no carro.”
Marcos Alexandre relatou jĂĄ ter sido coagido por oito taxistas no Aeroporto Presidente Itamar Franco. “Me cercaram dizendo que quebrariam o meu carro, caso nĂŁo me retirasse. Entendo que ninguĂ©m tem direito de lesar o patrimĂŽnio de ninguĂ©m e nem de ameaçar. No momento em que isso acontece, temos que buscar os ĂłrgĂŁos competentes.”
Conforme o presidente do SinditĂĄxi, Aparecido Fagundes da Silva, a orientação Ă© para que nĂŁo haja violĂȘncia. “Entendemos que, por nĂŁo ter regulamentação, os trabalhadores da Uber nĂŁo poderiam trabalhar, e, se estĂŁo irregulares, devem ser punidos. No entanto, Ă© importante reforçar que a orientação do sindicato Ă© nĂŁo cometer agressĂ”es. Acreditamos que os casos registrados tenham partido de uma minoria.”
Uber orienta procurar polĂcia
Por meio de nota, a Uber afirma que o serviço prestado pelos motoristas parceiros tem respaldo na legislação federal e na prĂłpria Constituição. “Reforçamos que nossos parceiros precisam ter os seus direitos constitucionais de trabalhar (exercĂcio da livre iniciativa e liberdade do exercĂcio profissional) preservados.” A Uber considera inaceitĂĄvel o uso de violĂȘncia e incentiva os usuĂĄrios a formalizarem boletim de ocorrĂȘncia. “Ă importante fazer um boletim de ocorrĂȘncia para que os ĂłrgĂŁos competentes tenham ciĂȘncia do ocorrido e possam tomar as medidas cabĂveis.”
Durante o protesto, os motoristas da Uber tambĂ©m reclamaram da fiscalização da Settra. “Estamos sofrendo uma repressĂŁo muito grande da fiscalização da Prefeitura. No inĂcio, eles apenas anotavam as nossas placas e nos liberavam. Mas, hĂĄ dois dias, estĂŁo entrando no estacionamento da rodoviĂĄria e abordando passageiros, para que possam nos indicar e fazer a multa”, disse o motorista JĂșlio CĂ©sar Marques Paes. Para ele, os condutores sĂŁo tratados como criminosos pelo MunicĂpio.
Em nota, a Prefeitura afirma prezar pela legalidade. “Assim como trabalhamos para melhorar a qualidade e oferta dos tĂĄxis, buscando regularizar o sistema, temos que ter a mesma responsabilidade com outros serviços de transportes.” Ainda sobre a lei vigente, de acordo com a Administração, a operação da Uber Ă© considerada clandestina e estĂĄ sujeita Ă fiscalização.
Sobre a forma de abordagem, a Prefeitura explica que sĂł se configura transporte clandestino quando o passageiro paga pelo serviço. “Por isso, a importĂąncia desse contato com o mesmo. As abordagens tambĂ©m sĂŁo feitas sempre com o agente de trĂąnsito uniformizado. Todo este trabalho, realizado desde que o trĂąnsito foi municipalizado, Ă© promovido nĂŁo com o intuito de coação, mas de prevenção.”
PJF e Uber tĂȘm posição distinta
A polĂȘmica sobre a atuação da Uber vai alĂ©m da disputa por passageiros nas ruas. Em Juiz de Fora, antes mesmo de o serviço começar a ser oferecido pela empresa, foi sancionada a Lei 13.271/2015, que proĂbe o uso de veĂculos particulares cadastrados em aplicativos para o transporte remunerado individual de pessoas dentro da cidade. HĂĄ ainda a lei municipal 9.520, que proĂbe a exploração de transporte coletivo de passageiros por ĂŽnibus, micro-ĂŽnibus e veĂculos sem a devida regulamentação legal junto ao MunicĂpio. Para a Settra, o motorista da Uber pode ser autuado, ainda, com base no CĂłdigo de TrĂąnsito Brasileiro por “transitar efetuando transporte remunerado de pessoas quando nĂŁo licenciado para este fim”.
JĂĄ a Uber se diz amparada pela PolĂtica Nacional de Mobilidade Urbana (Lei Federal 12.587/2012), que prevĂȘ a diferenciação entre transporte pĂșblico individual e transporte privado individual. No dia de inĂcio da atuação da empresa em Juiz de Fora (10 de novembro de 2016), o gerente de comunicação da empresa, Pedro Prochno, em entrevista Ă Tribuna, defendeu que a PolĂtica Nacional de Mobilidade Urbana “define a regulação do transporte pĂșblico individual, que Ă© o caso dos tĂĄxis, por parte das prefeituras, mas nĂŁo regulamenta o transporte privado individual”.
Em nova consulta feita nesta quarta-feira, a Uber reforçou que os motoristas parceiros, que prestam o serviço de transporte individual privado de passageiros, tĂȘm respaldo, ainda, no direito constitucional de trabalhar (exercĂcio da livre iniciativa e liberdade do exercĂcio profissional). “Por diversas vezes, os tribunais brasileiros afastaram e consideraram inconstitucionais as tentativas municipais de proibição da Uber, confirmando a legalidade das atividades da empresa e dos motoristas parceiros e garantindo o direito de escolha da população”, afirmou, por nota.
TJMG deve julgar processo em agosto
No Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), tendo em vista o volume de processos questionando a constitucionalidade da Lei 10.900/2016 (de Belo Horizonte), que determina o credenciamento de motoristas junto à BHTrans para a oferta do serviço, hå cerca de um ano, foi suspenso o andamento de processos de motoristas da Uber que entraram com pedido de liminar para rodar livremente. Lå, foi aplicado o incidente de resolução de demanda repetitiva (IRDR) para uniformizar o entendimento das cùmaras do tribunal com relação à questão.
O processo foi aberto para que vĂĄrios ĂłrgĂŁos se manifestassem, entre eles, MinistĂ©rio PĂșblico, Prefeitura, Sindicato dos Taxistas, Uber e Estado. O TJMG, por meio de sua assessoria, afirmou, nessa quarta, que hĂĄ previsĂŁo de julgamento para o dia 16 de agosto. Na prĂĄtica, o processo deverĂĄ nortear o uso do aplicativo em todo o estado.
Em Belo Horizonte, a Uber chegou a conseguir uma liminar na 6ÂȘ Vara da Fazenda PĂșblica, que determina Ă s autoridades de trĂąnsito que se abstenham de realizar atos que impeçam a atividade dos motoristas parceiros e o livre exercĂcio de direito de escolha pelos usuĂĄrios do aplicativo. Em setembro do ano passado, o juiz Paulo de Tarso Tamburini Souza entendeu que a Lei 10.900/2016 se referia a uma regulamentação do transporte pĂșblico, o que nĂŁo seria o caso do serviço prestado via aplicativo, de transporte privado. A ação foi movida contra a Guarda Municipal de Belo Horizonte, a BHTrans, a PolĂcia Militar (PM), o Departamento de TrĂąnsito (Detran-MG), o Departamento de Estradas e Rodagem (DER-MG) e o Governo de Minas. Na liminar, nĂŁo sĂŁo citados os ĂłrgĂŁos de fiscalização de Juiz de Fora.
Senado deve normatizar serviço no paĂs
Em nĂvel nacional, tramita, no Senado, projeto de lei que restringe a atividade das empresas de transporte por aplicativo de celular no Brasil. O PLC 28/2017, aprovado pela CĂąmara dos Deputados, estabelece que essas empresas (como a Uber) sĂŁo prestadoras de serviço pĂșblico, dependem de regulamentação e, por consequĂȘncia, os motoristas parceiros precisariam de permissĂŁo para trabalhar. O andamento mais recente, que data do dia 12 de julho, Ă© que a matĂ©ria tramita na ComissĂŁo de CiĂȘncia, Tecnologia, Inovação, Comunicação e InformĂĄtica.
Da forma como foi aprovada pela CĂąmara, a matĂ©ria, que pretendia regulamentar o serviço de transporte individual remunerado oferecido por plataformas, cria uma sĂ©rie de regras para a prestação do serviço, que – se nĂŁo igualam – se aproximam, em muito, das caracterĂsticas e exigĂȘncias do serviço de tĂĄxi, como a placa vermelha. A autorização prĂ©via e a regulamentação pelas prefeituras tambĂ©m estĂŁo em pauta. Se virar lei, caberĂĄ aos municĂpios definir diretrizes para a regulamentação do serviço, alĂ©m da obrigação de fiscalizĂĄ-lo. EstĂŁo previstas a cobrança de tributos municipais pela prestação dos serviços e a exigĂȘncia de seguro de acidentes pessoais de passageiros.