Serra do Bandeirantes: acidente reacende debate sobre segurança no trecho
Acidente envolvendo dois carros e duas motos, na manhã desta quarta-feira, é o terceiro em seis meses
Um acidente envolvendo dois carros, sendo um de autoescola, e duas motocicletas na manhã desta quarta-feira (19) voltou a colocar em pauta os riscos da Serra do Bandeirantes – na Zona Nordeste da cidade – um dos trechos mais movimentados de Juiz de Fora. O acidente, o terceiro em seis meses, causou engarrafamento e deixou feridos. O caso ocorre menos de cinco meses após a morte de um menino de 2 anos no mesmo local, reacendendo o debate sobre a necessidade de intervenções no trânsito da região.
O acidente
Na manhã desta quarta, um acidente na Serra do Bandeirantes envolveu dois carros, sendo um deles de autoescola, e duas motocicletas, deixando quatro pessoas feridas. A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros estiveram no local.
Os bombeiros informaram, de acordo com relatos colhidos no local, que um veículo perdeu o controle e colidiu com duas motocicletas e outro automóvel. O vídeo de uma câmera de segurança que circula nas redes sociais mostra o carro da autoescola invadindo a contramão durante uma curva. No vídeo, é possível perceber que o motorista perde o controle da direção e colide de frente com as motos e, ao rodar na pista, é atingido na lateral por outro carro de passeio.
O Samu-Cisdeste utilizou duas ambulâncias para atuar nos primeiros socorros das quatro vítimas do acidente. Um dos motociclistas, um rapaz, de 20 anos, o primeiro a ser atingido pelo carro, foi atendido e imobilizado ainda no chão. Ele apresentava dor no fêmur e tornozelos e estava com limitação de movimento. O outro motociclista atingido, um jovem de 19 anos, teve escoriações na mão esquerda, mas sem sinais de fratura aparentes.
As vítimas dos carros, um homem de 60 anos, uma mulher de 31 e um jovem de 22, também foram atendidas no local. O homem foi atendido já em estado estável, com dores na perna, a mulher, de 31 anos, se queixou de dor no braço. Ambos foram encaminhados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte. O jovem, de 22 anos, também foi vítima do acidente, porém, segundo o Samu, não teve ferimentos. O estado de saúde das vítimas levadas para a UPA Norte não foi divulgado.
O ocorrido causou engarrafamento no local, que possui alto fluxo de veículos. Não houve interdição total da via. Porém, conforme o aplicativo de trânsito Waze, por volta das 8h havia o registro de engarrafamento de mais de um quilômetro, entre a Avenida Juiz de Fora, próximo ao Sest Senat, no Bairro Granjas Betania, e a Rua Paracatu e adjacentes, no Bairro Bandeirantes.
Histórico
O acidente desta quarta ocorreu em um trecho da serra onde já aconteceram outros incidentes graves. No dia 11 de dezembro do ano passado, uma batida no local deixou uma mulher ferida. Em outubro do mesmo ano, outro acidente deixou cinco pessoas feridas e causou a morte de uma criança de 2 anos.

Segundo levantamento realizado pela Secretaria de Mobilidade Urbana (SMU) da Prefeitura de Juiz de Fora, na época do acidente com vítima fatal, em média, cerca de 16 mil veículos passavam pelo trecho diariamente. Sobre a segurança da via, na mesma época, a SMU informou que no segmento “há vários equipamentos para ordenamento e segurança no trânsito, como sistema de fiscalização eletrônica, redutores de velocidade, além de sinalização vertical e horizontal, que se encontra em boa conservação”. Novamente procurada nesta quarta, a pasta não se posicionou até o fechamento desta edição.
Serra: um dos trechos mais perigosos
Em entrevista à Tribuna, o especialista em trânsito e transporte José Luiz Britto analisou os fatores que tornam a Serra do Bandeirantes um dos trechos mais perigosos da cidade. Britto destacou as características geográficas, a falta de infraestrutura adequada e a imprudência dos motoristas como principais causas dos acidentes frequentes no local. Ele também sugeriu medidas para reduzir os riscos, como a duplicação da via e a instalação de radares e lombadas eletrônicas.
Britto explicou que a periculosidade do trecho está diretamente ligada à sua geometria. “Realmente, aquele trecho ali é perigoso. Já foi muito pior. No passado, aquele trecho era muito mais estreito. O perigo que existe ali é exatamente em razão da geometria da via. É muito tortuosa, com muitas curvas fechadas. Os motoristas abusam”, afirmou. Ele ressaltou que a falta de controle de velocidade agrava a situação: “Não tem controle de velocidade eletrônico por ali. A lombada eletrônica seria o ideal.”
O especialista também mencionou que, apesar de melhorias no passado, como o alargamento da via, a infraestrutura atual ainda é insuficiente para o fluxo de veículos. “A infraestrutura não é boa. Só não tem mais acidentes porque a via foi alargada.”
Soluções: duplicação e sinalização
Britto propõe duas soluções para reduzir os acidentes no local: a duplicação da via e a instalação de sinalização adequada. “A solução seria alargar mais a via e fazer duas vias, uma descendo e outra subindo, mão e contramão. Isso poderia possibilitar uma redução considerável de acidentes”, explicou. Ele também sugeriu a instalação de barreiras de proteção entre as vias, como mais uma forma de proteção.”Você colocaria a barreira no centro da via, dividindo uma da outra. Os ‘guardrails’ para proteger uma via da outra. Isso seria uma solução”.
Além disso, o especialista defendeu a instalação de radares e lombadas eletrônicas como medidas preventivas. Ele destacou que a velocidade máxima no trecho não deveria ultrapassar 40 km/h, devido às condições da via e à proximidade com o Bairro Bandeirantes. “Ali não tem cabimento uma velocidade superior a 40 quilômetros por hora. Exatamente pela situação geográfica da via. Não dá para andar acima”, alertou.
Sobre o acidente ocorrido nesta quarta, Britto afirmou que o caso serve de alerta para a necessidade de intervenções urgentes. “Esse acidente é um demonstrativo de que realmente pode acontecer e acontece”, disse. Ele reforçou a importância dos condutores trafegarem com cuidado no local: “Quem trafega por ali tem que saber que precisa passar em velocidade menor. Não tem condição de você passar em alta velocidade, porque vai colocar a sua própria vida em risco e a vida de terceiros que estejam nos outros veículos.”