Bingo é usado para informar idosos sobre perigos escondidos em casa
Projeto da Faculdade de Arquitetura da UFJF procura orientar de forma lúdica pessoas com mais de 60 anos como lidar com riscos em ambientes diversos
Projeto de extensão da Faculdade de Arquitetura da UFJF propõe, de maneira lúdica, o aprendizado sobre riscos para idosos dentro e fora de casa, que estão camuflados em atividades diárias. A Tribuna acompanhou a realização da quarta edição da atividade, com integrantes do Grupo de Convivência do Sesc, que oferece atividades diárias a mais de 400 pessoas com mais de 60 anos.
Como em qualquer outro bingo, a cartela composta por diversos números é preenchida conforme o professor e orientador do projeto de extensão “Oficina – o ambiente do idoso” canta os algarismos. Os participantes precisam acertar a resposta de perguntas que tratam de acessibilidade para ter o número marcado na cartela. Nessa dinâmica, que permite e incentiva os participantes a fazerem comentários sobre suas próprias vivências, os idosos compartilham seus conhecimentos e recebem outros, podendo, ao final do encontro, aplicar e multiplicar dicas que podem evitar acidentes e melhorar a sua qualidade de vida.
De acordo com o professor Emmanuel Pedroso, coordenador do projeto e líder do Grupo de Estudos sobre o Indivíduo Idoso (ID), da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFJF, o objetivo é justamente promover esse debate a respeito da relação da pessoa idosa com a cidade. “Todas as questões podem ajudar de maneira positiva. Uma palestra ou algo expositivo poderia ser mais cansativo e não ter um envolvimento tão intenso. A proposta do jogo vem para que tenhamos essa atenção do público.”
Antes mesmo de iniciar o jogo, Pedroso, faz uma pesquisa rápida com 28 idosos que participaram da ação. O resultado ajuda a ter uma ideia de como os ambientes muitas vezes não estão adequados às demandas dessa população, escondendo riscos. Do total, 18 deles já caíram dentro de casa, a maioria, no quarto e no banheiro. No ambiente da cidade, o número de quedas relatado foi o mesmo, 18, sendo 15 ocorrências em calçadas e três em ruas. Entre os principais problemas que provocaram esses acidentes, além dos pisos que escorregam, como pedras portuguesas e ardósia, está a má conservação do pavimento. Ademais, outras configurações, como o tempo do semáforo, que em alguns casos, é insuficiente para que o indivíduo consiga atravessar com segurança, podem se tornar obstáculos, dentro do mobiliário urbano.
Outros potenciais focos de acidente, como os ‘banquinhos’, também fizeram vítimas entre os participantes. “Banquinho é para sentar, não é para subir”, alertou a participante Maria do Carmo Campos. O professor corroborou com o pensamento, alertando para casos em que os idosos perdem o equilíbrio, se sentem mal enquanto estão em cima do banco e acabam sofrendo quedas que podem provocar traumas graves. Os tapetes também são objetos aparentemente inofensivos, porém, em função de seu material e sua espessura podem provocar tropeços e tombos, mesmo quando prometem a função de antiderrapagem, devendo ser evitados.
Na prática, essas situações se tornam aprendizado. A mobília, ao invés de se tornar uma dificultadora, pode ser uma importante aliada. Ter móveis com pontas arredondas, ajuda a não causar lesões, se por acaso acontecer de o idoso bater no objeto. “Alguns idosos têm a pele fina, o que pode fazer com que eles se machuquem e se cortem facilmente nessas quinas. Os que tem formato mais arredondados ajudam a reduzir esses problemas.” Foi a quina de um móvel, segundo o relato de uma das participantes, que tirou a visão de uma conhecida.” Ela se sentiu mal, não conseguiu se segurar e bateu com o rosto em um móvel. A ponta furou o olho dela e não teve como resolver.” Não basta, no entanto, ter as pontas arredondadas, se o mobiliário não é firme. É interessante, de acordo com o professor, ter peças que ofereçam a firmeza necessária para caso o idoso precise se apoiar.
“Tudo o que foi dito foi muito proveitoso para mim, porque tem coisas que fazemos sem pensar. Então, serve para confirmar o que temos que saber, o que é certo e o que é errado, dentro dos nossos limites”, avaliou a participante Cidanilia de Melo Lima. “Trabalhamos muito com o conceito de apropriação, porque o espaço em que o idoso vive, precisa ter uma identificação da qual ele possa se apropriar e com o conceito de acessibilidade. Temos várias questões relacionadas aos direitos das pessoas idosas e sua relação com o espaço, que precisam ser divulgadas, para que o idoso tenha esse conhecimento e a sociedade se informe. Atitudes como o não respeito ao assento preferencial no ônibus interferem diretamente na relação dele com a cidade”, ressaltou Pedroso.
Assento preferencial no ônibus
O desrespeito ao assento foi uma das questões que geraram maior comoção entre os participantes da atividade. “Parece que a entrada do ônibus atua como um sonífero. É entrar no ônibus, a pessoa encosta a cabeça e dorme.” “Também tem aqueles que enfiam o rosto no celular e nos ignoram”, foram algumas das falas que surgiram, após o grupo tocar no tema. Todos esses dados são colhidos e são usados de maneira mais detalhada pelo grupo, após a atividade.
“Algumas questões são recorrentes e se repetem em padrão. A relação com a calçada, por exemplo, é sempre um ponto crítico. Apesar de muitas estarem em bom estado de conservação, mas tem buracos ou desníveis. Em casa, o banheiro e o quarto, se o idoso precisa se levantar no meio da noite e só há o interruptor ao lado da porta, isso também pode causar acidentes. Piso escorregadio, molhado, com tapetes sempre é citado. Episódios com escadas e corrimão também são frequentes”, recapitulou.
Para os participantes, uma das perguntas que mais causou dúvida, foi “o vaso deve ser mais alto”? “Por enquanto, estou em uma fase sem tantas dificuldades, mas agora sei que caso tenha a necessidade,é possível fazer adaptações e comprar um vaso sanitário mais alto, por exemplo.” Cidanilia ainda garantiu que vai repassar todos os conhecimentos que adquiriu na oficina, cumprindo um de seus principais propósitos, que é a divulgação dessas dicas.
Confira algumas das perguntas que fazem parte da atividade:
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