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Exames confirmam que homem morto em JF foi intoxicado por dietilenoglicol

Paschoal Dermatini Filho by arquivo pessoal
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A Polícia Civil confirmou nesta segunda-feira (13) que o bancário aposentado de Ubá, Paschoal Demartini Filho, 55 anos, morto por síndrome nefroneural em Juiz de Fora no último dia 7, foi intoxicado por dietilenoglicol. A substância já foi encontrada no sangue de pelo menos quatro vítimas, em amostras de três lotes da cerveja Belorizontina (L1 1348, L2 1348 e L2 1354), da Cervejaria Backer, e também no tanque de refrigeração de um dos tonéis usados na produção da empresa, periciada na semana passada. A cervejaria investigada nega o uso do componente químico em seu processo de produção e, conforme a polícia, admite o uso de monoetilenoglicol no resfriamento. O componente também foi achado em menor quantidade nas bebidas, mas não foi detectado no sangue de pacientes internados. Na noite desta segunda-feira (13), a Secretaria de Estado de Saúde (SES) informou que já chega a 17 o número de casos suspeitos da síndrome nefroneural, causada por intoxicação por dietilenoglicol, sendo que quatro casos, incluindo o de Paschoal, foram confirmados. As 13 suspeitas restantes continuam em investigação.

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Na manhã desta segunda, a Polícia Civil concedeu entrevista coletiva à imprensa, em Belo Horizonte, sobre o inquérito instaurado para apurar a relação da síndrome nefroneural com o consumo da cerveja Belorizontina. “Nosso trabalho se resume a buscar uma eventual responsabilidade penal em decorrência dessas intoxicações exógenas que ocorreram”, observou o chefe da Polícia Civil em Minas, delegado geral Wagner Pinto. “Neste primeiro momento, buscamos entender como se deu essa intoxicação. Há necessidade premente do trabalho pericial”, destacou.

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Sobre o caso fatal de Paschoal Demartini, o superintendente de polícia técnico-científica, Tales Bittencourt, informou que os sintomas começaram no Natal. Ele foi transferido do hospital de Ubá para a Santa Casa de Juiz de Fora no dia 31 de dezembro, já com insuficiência renal aguda. O quadro evoluiu para complicações neurológicas, e ele faleceu após uma parada cardiorrespiratória. O corpo dele foi necropsiado no Instituto Médico Legal (IML) de Belo Horizonte por mais de seis horas. A análise dos fragmentos coletados é auxiliada por um médico-legista da Universidade de São Paulo (USP), mas o exame de sangue divulgado nesta segunda já confirmou a intoxicação. Paschoal havia passado o período anterior do Natal na casa da filha no Buritis, bairro de classe média alta e alta de Belo Horizonte, e o marido dela também está internado. A amostra de cerveja lacrada encontrada na residência e periciada deu positivo para a contaminação por dietilenoglicol.

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À respeito do laudo de necropsia, o superintendente disse que o resultado das análises microscópicas deve sair até a próxima sexta. “De qualquer forma, os macroscópicos foram totalmente compatíveis com essa intoxicação por dietilenoglicol. Há uma pequena alteração que também pode indicar o monoetilenoglicol.” Ainda conforme ele, além do caso de Paschoal, há outros quatro considerados “emblemáticos”, por demonstrarem a relação entre consumo da cerveja e a doença. Um dele é o caso do morador de Nova Lima, na região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele fez uso do lote L2 1354 da cerveja Belorizontina e apresentou quadro clínico típico da síndrome nefroneural a partir de 2 de janeiro. As amostras da cerveja encontradas na casa dele e do sangue do paciente também confirmaram a presença de dietilenoglicol.

Outro morador do Buritis, bairro que concentra a maioria dos casos, teve sintomas no dia 23 de dezembro após tomar a bebida do lote L1 1348. Os exames também apontaram a presença da substância tóxica. Outro residente do Buritis começou a passar mal no mesmo dia após consumo da cerveja do grupo L2 1348. O sangue dele permanece sendo analisado, mas o líquido do mesmo lote ingerido deu positivo. Mais um paciente do mesmo bairro surgiu no dia 26 de dezembro, sem confirmação do consumo da cerveja. “Ele não tem como prestar as informações porque está internado em estado grave, e os familiares não sabem dizer (se ele bebeu). Mas o quadro clínico é típico, iniciado na mesma época, e a amostra de sangue é positiva para o dietilenoglicol”, pontuou Tales Bittencourt. “Importante ressaltar que a cerveja L2 1348, que foi a Brasília para exames complementares, recolhida de dentro da cervejaria, que confirmou presença do mono e do dietilenoglicol, é do rótulo Capixaba, mas a empresa disse que se trata da mesma cerveja Belorizontina, só que comercializada no Espírito Santo. Muda somente o rótulo”, alertou, acrescentando que os testes em Brasília são de carbonatação, para comprovar que todas as amostras estavam intactas, ou seja, que não houve violação antes das análises.

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De acordo com o delegado à frente do inquérito, Flávio Grossi, a maioria das vítimas ficou concentrada no Bairro Buritis porque houve grande distribuição desses lotes para uma rede de supermercados da capital. Mas as pessoas internadas também adquiriram os produtos em outras unidades da rede: nos bairros Lourdes, Cidade Nova e na unidade Afonso Pena, na capital, e na cidade de Nova Lima. “Conseguimos delimitar uma janela de contaminação desses lotes, que fecha entre a segunda quinzena de novembro e a primeira de dezembro, com distribuição visando às festas natalinas e à Black Friday.”

Terceiro lote contaminado

A Polícia Civil não descarta sabotagem ou erro na produção da cerveja Belorizontina, já que há ocorrência, registrada em dezembro, na qual um ex-funcionário demitido fez ameaças a um supervisor. A instituição afirmou, no entanto, que as provas materiais são o “alicerce do trabalho investigativo”. “Hoje podemos afirmar a existência de uma síndrome, batizada como nefroneural, e uma compatibilidade dos sintomas em decorrência de uma intoxicação por dietilenoglicol”, disse o delegado geral Wagner Pinto. Ele lembrou que foram recolhidas cervejas não violadas em casas de pacientes, amostras sanguíneas dos internados e material na Cervejaria Backer que comprovam a presença da substância. “Temos hoje a constatação de três lotes de cerveja contaminados por monoetilenoglicol e por dietilenoglicol. Temos quatro vítimas, inclusive a fatal, com positivo.” Ainda conforme o chefe da Polícia Civil, a empresa investigada afirma trabalhar apenas com a substância monoetilenoglicol. “Tem notas fiscais e foi recolhido um galão de monoetilenoglicol. Mas em um tanque de refrigeração deles também foi recolhida amostra que deu positivo para o mono e o dietilenoglicol.”

De acordo com o superintendente de polícia técnico-científica, Tales Bittencourt, não há muito estudos em relação à toxicidade do dietilenoglicol para o ser humano. “Mas o principal tratado de toxicologia informa que a dose letal pode ser de 0,014mg por quilo a 0,17mg por quilo. Um homem médio, de 70kg, teria a variação dessa dose tóxica letal de 1g a 12g. Ou seja, eu posso me expor a 1g e evoluir para óbito ou a 12g e não evoluir. Isso explica a dúvida de por que uma pessoa ingere e não tem nada, enquanto outra teve alguma complicação.”

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Entre os 17 casos apontados, há uma mulher, de idade não informada, internada em Viçosa, a 170 quilômetros de Juiz de Fora. A paciente, com quadro clínico de doença renal, afirmou ter consumido cerveja Belorizontina.

Nesta terça, a polícia pretende voltar à Cervejaria Backer, junto com o Ministério da Agricultura, que interditou cautelarmente a fábrica. Novos lotes da cerveja Belorizontina continuam em análise. Consumidores que possuem a bebida e desejarem se desfazer do produto podem encaminhá-lo somente à Vigilância Sanitária de Belo Horizonte e aos Procons municipais, nos casos do interior do estado.

Em nota divulgada no início da noite desta segunda, a Backer disse manter, neste momento, o foco nos pacientes e em seus familiares. “A empresa prestará o suporte necessário, mesmo antes de qualquer conclusão sobre o episódio. Desde já se coloca à disposição para o que eles precisarem.” A empresa garante continuar colaborando, sem restrições, com as investigações, e segue apurando internamente o que poderia ter ocorrido com os lotes de cerveja apontados pela polícia. “A Backer adianta que, na semana passada, solicitou uma perícia independente e aguarda os resultados. Reitera que, em seu processo produtivo, utiliza, exclusivamente, o agente monoetilenoglicol.”

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Ministério determina recolhimento de todos os produtos

Conforme a Agência Estado, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento determinou, nesta segunda-feira (13), o recolhimento e a suspensão da comercialização de todos os produtos da cervejaria mineira Backer fabricados entre outubro de 2019 e 13 de janeiro de 2020. A medida vale também para chopes. A venda está proibida até que seja descartada a possibilidade de contaminação dos produtos.

A pasta ressalta, porém, que “até o momento não há resultado laboratorial que confirme a presença de etilenoglicol ou dietilenoglicol em outras marcas de cerveja da empresa, estes produtos estão sendo analisados e, caso existam resultados positivos, novas medidas serão adotadas”. Em nota divulgada na noite desta segunda, a Cervejaria afirmou que solicitou judicialmente a revogação da medida, visto que “o episódio apurado pelas autoridades limita-se ao lote Belorizontina, não tendo qualquer relação com os demais rótulos da empresa, que possui processos autônomos de produção.”

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