Corrente de origem desconhecida incita a desobediência a decretos em Juiz de Fora
Entidades empresarias afirmam que só trabalham na legalidade, apesar de não concordarem com fechamento do comércio
Um texto apócrifo que defende a desobediência a decretos estaduais e municipais que determinam restrições de atividades para o enfrentamento à pandemia da Covid-19 está circulando em grupos de WhatsApp da cidade. Ele incita a desobediência civil e prega o desrespeito a determinações assinadas pelo governador Romeu Zema (Novo) e pela prefeita Margarida Salomão (PT). Com perfil de corrente, o material, que também vem sendo replicado em vários municípios e regiões do país, é assinado por “empresários de Juiz de Fora”. Ouvidas pela reportagem da Tribuna, entidades comerciais e empresariais da cidade disseram que não têm relação com as postagens e que trabalham dentro da legalidade.
“Realmente, vimos a circulação desta postagem. Mas destacamos que a Associação Comercial é fiel à legislação e respeita os decretos, apesar de não concordar”, afirmou à Tribuna, Aloísio Vasconcelos, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Juiz de Fora. Assim, Aloísio defende a reabertura das atividades comerciais, que foram fechadas desde a última segunda-feira (8), quando a cidade entrou na faixa roxa do programa Juiz de Fora pela Vida. “Mas não podemos incentivar o desrespeito às leis”, ressalta Aloísio.
Da mesma forma, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora (CDL/JF), Marcos Casarin, afirmou à Tribuna que “as entidades trabalham dentro da legalidade” e, portanto, não endossam a carta de perfil apócrifo que incentiva a desobediência civil aos decretos de enfrentamento à pandemia da Covid-19. Casarin é mais um que acredita que, após cerca de um ano de pandemia na cidade, já há conhecimento suficiente para garantir o funcionamento das atividades econômicas de forma segura. Assim, defende que as autoridades busquem uma solução com a participação do empresariado.
Diante da paralisia das atividades, os dois temem os efeitos econômicos do fechamento e o aumento das dificuldades enfrentadas pelos setores comerciais e empresariais. A reportagem solicitou posicionamento da Prefeitura e do Governo de Minas, que, até a edição deste texto, não se manifestaram sobre o conteúdo da postagem compartilhada pelas redes sociais.
‘Boato’
O teor da carta apócrifa atribuída a “empresários de Juiz de Fora” e que defende o desrespeito às regras já foi analisado pelo site boatos.org, que apontou características de boato em texto idêntico que circulou na cidade paulista de Ribeirão Preto. “A mensagem por si só já levanta suspeitas. Além das características ‘tradicionais’ de boatos (vaga, alarmista, com erros de português, pedido de compartilhamento e falta de fontes confiáveis), a mensagem tem um teor extremista que não condiz com associações de empresários”, considerou o site.
O boatos.org identificou também que a suposta “carta dos empresários”, com o mesmo teor de incitação à desobediência civil, circulou em cidades diversas como Paracatu (MG), Uberaba (MG), Manhuaçu (MG), Santos (SP), Limeira (SP), Santa Bárbara d’Oeste (SP), entre outras. “É uma carta genérica”, diz o site.
No caso de Ribeirão Preto, por exemplo, a Associação Comercial e Industrial da cidade postou uma “nota sobre informações falsas” em seu site, para esclarecer que “não tem relação alguma com o documento e repudia a disseminação de notícias falsas que, além de não informarem, deturpam a ordem neste momento tão preocupante que vivemos”.
“A carta em questão não tem autoria ou uma lista de assinaturas e entidades que avalize as informações. Em uma busca rápida na internet é possível verificar que a publicação está circulando em todo o país pelas redes sociais para que cada cidade adapte com os seus dados”, diz a entidade comercial e industrial paulista.