Número de homicídios em 2016 já é igual ao de todo o ano passado
Com a execução de um homem de 32 anos, encontrado morto com seis tiros dentro de um carro, na noite de terça-feira, no Bairro Bom Jardim, na Zona Leste, a cidade alcançou a triste marca de 131 óbitos este ano. Faltando mais de 50 dias para o fim de 2016, a quantidade de vidas perdidas para o crime já se equipara ao total de assassinatos contabilizados no município nos 12 meses de 2015, conforme levantamento da Tribuna. O crescimento da violência acontece depois de uma ligeira queda nas mortes em decorrência de ações criminosas verificada no ano passado e precedida de um salto no número de casos desde 2012 (ver quadro).
Mais da metade das vítimas mortas este ano é formada por jovens de até 25 anos, e a maioria dos delitos (75%) foi praticada com o uso de arma de fogo. Os homens continuam sendo os principais alvos dos assassinos, que mataram 117 pessoas do sexo masculino e 14 mulheres. A Zona Norte também permanece sendo a região mais violenta, concentrando 41 homicídios. As zonas Leste e Sudeste seguem atrás, com 24 ocorrências cada.
De acordo com o titular da Delegacia Especializada de Homicídios, Rodrigo Rolli, desde que reassumiu a função, no início de outubro, mais de 70% dos assassinatos estão apurados. Ele reafirmou que o tráfico de drogas continua como pano de fundo da maioria das mortes violentas, motivadas também por brigas de grupos rivais. Ou seja, na maior parte dos casos, jovens estão morrendo por envolvimento com drogas ou em brigas fúteis, sendo mínimas as ocorrências com motivações passionais. Segundo o delegado, a presença da arma de fogo em 99 dos óbitos pode ser explicada pelo poderio do tráfico. “Eles têm recursos, e o armamento acaba chegando. O derramamento de armas do Exército (entre 2010 e 2012) não é o único fator. O tráfico tem dinheiro fácil e poder de compra”, disse Rolli, lembrando do uso de armamentos novos em ações criminosas, como pistolas 9mm e ponto 40.
Estado ausente e famílias desestruturadas
O delegado Rodrigo Rolli enfatizou que a violência não é só questão de polícia. “A primeira coisa que penso quando falamos em criminalidade é em políticas públicas para educação. Não adianta só atuar depois que o homicídio aconteceu, é preciso evitar que ocorra. O Estado está muito ausente. O crime não surge por si só, há fatores sociais, e as famílias também estão muito desestruturadas. Os filhos estão sendo criados na rua, onde sofrem aliciamento de criminosos, principalmente do tráfico, que também é motivador de crimes patrimoniais, como roubos e furtos. Há uma inversão de valores, e os jovens aprendem a enaltecer a figura de criminosos. Enquanto tiver esta juventude sem direcionamento, a criminalidade tende a aumentar”, lamentou Rolli.
Para ele, apesar de todo o trabalho para solucionar casos, a redução da violência fatal não deve ocorrer em curto prazo. “Juiz de Fora tem índice alto de apuração e, mesmo assim, estamos com esse crescimento. Não pelo fator policial, mas pelo fator social, que ultrapassa a esfera da segurança pública. Nunca se prendeu e se apurou tanto, mesmo assim os homicídios não estão diminuindo, porque estamos trabalhando em uma ponta, mas falta prevenção social. Temos que voltar os olhos para as crianças, para que busquem e consigam enxergar um caminho fora da criminalidade.”
Morto é encontrado dentro de carro no Bom Jardim
O 131º homicídio deste ano foi descoberto por volta das 21h30 de terça. Uma equipe da Polícia Militar fazia patrulhamento pela região do Bom Jardim, quando avistou uma movimentação suspeita na Rua Henrique Miranda Sá. Em seguida, uma menina passou ao lado da viatura e informou que havia um rapaz sem vida dentro de um veículo. Conforme a PM, Marcelo Campos da Silveira estava sentado no banco do motorista de um Ford Ka preto, com placa de Vitória da Conquista (BA). Ele estava com a cabeça encostada na porta apresentando quatro perfurações e também tinha outras duas marcas de disparo no pescoço e na clavícula.
O Samu compareceu ao local e confirmou o óbito. A perícia da Polícia Civil realizou os levantamentos de praxe. Militares fizeram buscas no veículo e encontraram apenas um celular, que estaria nas mãos da vítima. Ainda segundo a PM, nenhum popular quis falar qualquer coisa sobre o assassinato, não sendo obtidas informações sobre autoria e motivação do homicídio. A esposa de Marcelo, 29, esteve na cena do crime e também não soube apontar suspeitos. A vítima morava no mesmo bairro onde foi morta. O corpo foi removido e encaminhado para necropsia no Instituto Médico Legal (IML). O veículo foi retirado do local por um guincho. O caso é investigado pela Delegacia Especializada de Homicídios.