Mister JF é ‘deposto’ após ex-namorada denunciar agressões
Jovem deixa de representar a cidade por se envolver em escândalo, segundo a coordenação do concurso
O vencedor deste ano do Concurso Mister Juiz de Fora, de 22 anos, foi deposto do cargo na quinta-feira (5) e deixa de representar a cidade na competição. A medida foi anunciada pela coordenação um dia depois de uma ex-namorada do ganhador, 25, fazer um post no Facebook denunciando agressões supostamente sofridas durante o relacionamento com o jovem. Com mais de 1.200 curtidas e mais de cem compartilhamentos, as declarações da vítima, que é médica, repercutiram, junto com uma foto dela, na qual aparece com o olho roxo por um possível espancamento. Ela questionou o fato de o rapaz ter liderado o concurso no qual uma das perguntas era justamente sobre violência contra a mulher. Em sua página oficial, a organização do Mister e Miss Juiz de Fora justificou a destituição do posto por “descumprimento de cláusulas existentes no regulamento do concurso em suas etapas municipal, estadual, nacional e internacional”. Com isso, o homem eleito no dia 30 de maio deixa de ser o “representante oficial de Juiz de Fora para o Mister Minas Gerais CNB (Concurso Nacional de Beleza) 2019”.
Segundo o coordenador da competição, Diley Almeida, o primeiro colocado não foi exonerado pela denúncia em si, já que o crime ainda precisa ser investigado, mas pelo envolvimento em um caso de repercussão. “Não tirei o título o acusando de agressão. Mas, conforme o regulamento, o candidato precisa ter boa conduta moral e não pode se envolver em escândalo. E isso foi um escândalo.” Ainda de acordo com Diley, pelas regras, o segundo lugar deve assumir, caso aceite. Senão, o homem que ficou na terceira posição pode vir a ser o Mister JF, se consentir, e, assim, sucessivamente. “Em momento algum o condenei como agressor, porque quem faz isso é a Justiça. Mas afeta a conduta moral dele”, destacou. Caso comprove sua inocência, o jovem não recebe automaticamente a faixa. “Infelizmente, o título não volta para ele. Mas se provar que é inocente, pode concorrer novamente (em outra edição).”
Sobre a questão de a violência contra a mulher ter sido um dos temas da competição, Diley explicou que o questionamento não foi direcionado ao concorrente deposto. “Foram 19 candidatos masculinos e 23 femininos. Eles são julgados em três quesitos. Os top 5 respondem a uma pergunta ao vivo. Uma das perguntas foi sobre agressão a mulher, mas esta não foi respondida por ele. A pergunta feita para ele foi qual seria sua posição se seu filho fosse gay. Mas o tema (violência doméstica) estava dentro do concurso.”
Médica afirma ter ficado calada durante três anos
A mulher que denunciou no Facebook ter sido agredida pelo ex-namorado e vencedor do Concurso Mister Juiz de Fora afirma, em seu post, ter tido um relacionamento de três anos marcado pela violência. “O agressor vai achar sempre que poderá te intimidar, ameaçar, coagir.” Sobre a imagem em que ela aparece com um olho roxo, a vítima desabafou: “Na ocasião dessa foto eu estava a metros da delegacia da minha cidade sendo espancada por esse indivíduo, que me fez tomar banho e vestir a sua camisa porque eu me encontrava toda ensanguentada depois dele ter quase me matado. Essa não foi a única vez. Chutes, socos, pontapés, asfixia eram recorrentes e aconteceram durante os três anos de namoro. Namoro abusivo, física e emocionalmente. Porque eu namorei essa pessoa por três anos? Acho que só quem passa ou já passou por isso saberia responder. Talvez por pena de mim mesma, impotência, vergonha. Vergonha essa que me impediu de tomar qualquer atitude antes. Mas hoje, oito meses depois, tenho certeza que a vergonha não é minha, e sim, dele! E sim, deles! De todos os milhares de homens que agridem suas esposas, namoradas, companheiras, todos os dias!”
A médica afirmou, ainda, não ter sido respaldada pela lei. “As mulheres agredidas, que fazem BO contra seus agressores, têm um prazo de até seis meses para representar contra eles. Agora eu me pergunto, qual mulher agredida física, emocional e psicologicamente, que ainda se encontra à mercê desses agressores, tem forças para ir em frente junto à Justiça em tempo hábil? Infelizmente, não fui uma delas, e hoje estou pagando por isso. Mas tenho a minha consciência tranquila, faço a minha parte todos os dias. Tento servir de exemplo para quem está à minha volta, para as minhas pacientes vítimas de agressão, e agora, também, para as pessoas que estão lendo essa publicação. Denunciem! Não se calem!”
Procurado pela Tribuna, o jovem denunciado não atendeu a ligação e não respondeu às mensagens por meio do aplicativo WhatsApp e pelo Facebook.
Polícia Civil pode abrir inquérito para apurar denúncia
À frente da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, Ione Barbosa destacou que não há prazo de seis meses para casos de lesão corporal contra vítimas do sexo feminino, porque independe de representação, sendo esse tempo levado em conta nos crimes de violência psicológica, ou seja, ameaça.
“Essa pessoa ainda não compareceu à delegacia, mas um investigador está tentando entrar em contato com ela.” A delegada recomenda à vítima comparecer à Casa da Mulher, no Jardim Glória, região central. “Vamos orientá-la a fazer um boletim de ocorrência aqui mesmo e instaurar inquérito.”
Sobre a possibilidade de a lesão ter sido antiga, inviabilizando uma perícia, a policial destacou que pode ser feito um exame de corpo de delito indireto, com base na ficha de atendimento médico. “Mas ela precisa vir à delegacia para tomar as providências”, reforçou.