Suspeito de triplo homicídio no Salvaterra é condenado a 44 anos
Sobrinho matou duas tias e o companheiro de uma delas em agosto; motivação tinha relação com herança
O homem de 50 anos, acusado de matar a tiros as próprias tias Maria José de Oliveira, 61, e Maria Cristina de Oliveira Paes, 57, além do companheiro desta última, Walter Paes, 71, foi condenado a 44 anos e 6 meses de prisão, em regime inicialmente fechado, durante julgamento realizado nesta quinta-feira (5), no Tribunal do Júri em Juiz de Fora. O triplo homicídio aconteceu no dia 7 de agosto em uma casa situada atrás de um posto de combustíveis às margens da Avenida Deusdedit Salgado, próximo ao Parque da Lajinha, no Bairro Salvaterra, Zona Sul. O crime ganhou repercussão por se tratar de uma tragédia familiar.
Preso no Ceresp desde a data do crime, o homem, que é réu confesso, teve negado o direito de recorrer da decisão em liberdade. Para o Ministério Público, ele agiu por motivo torpe e dificultou a defesa das vítimas.
A sessão presidida pelo juiz Paulo Tristão teve início às 9h, com o sorteio dos jurados. Logo depois, o grupo foi levado para o local do triplo assassinato. Todos os envolvidos moravam no mesmo terreno, onde há uma entrada comum para pelo menos duas casas. As investigações da Polícia Civil apontaram que havia uma desavença familiar relacionada a inventário e partilha de herança, que inclui a propriedade onde houve o delito. Além dos jurados, estiveram presentes no endereço o juiz, o advogado de defesa, João Moreira, e o promotor, Hélvio Simões.
“Na parte da manhã fizemos uma inspeção judicial, com a ida ao local do crime, para que algum detalhe pudesse ser percebido pelos jurados, como o trajeto feito pelo réu até onde estavam as vítimas quando foram baleadas. Isso durou aproximadamente duas horas”, explicou o promotor.
No início da tarde, a sessão voltou ao Fórum Benjamin Colucci e foi retomada com a oitiva das testemunhas do processo, cinco arroladas pela Promotoria e quatro pela defesa, conforme Hélvio. Após os depoimentos e o interrogatório do réu, aconteceram os debates, quando as teses são sustentadas, com tempo de até uma hora e meia para cada parte. O júri terminou por volta das 21h.
O que disseram as partes
Para o promotor, trata-se de um crime premeditado. “As vítimas não tiveram qualquer oportunidade de defesa. Ninguém podia prever que ele estaria lá, naquela hora e local, com arma de fogo, adquirida não se sabe de quem. O réu tenta empurrar essa arma para uma das vítimas, mas isso não tem respaldo, nem qualquer fundamento. Ele agiu porque tinha interesse na divisão de herança, no caso do inventário do pai dele. Isso caracterizaria motivo torpe e repugnante. Em virtude disso, matou três pessoas. E a Promotoria entende que ele mataria mais pessoas se estivessem dentro da casa, que era ocupada por mais dois moradores.” Conforme Hélvio, o acusado já teria anunciado que iria matar alguém da família. Ele usou um revólver calibre 38.
Já o advogado de defesa, João Moreira, classificou o episódio de “tragédia anunciada”: “Lamentavelmente, os familiares deixaram acontecer. Chegou nesse ponto que não precisava. Foi como um vulcão: explodiu e aconteceu a desgraça.” Segundo ele, não há estratégia de defesa. “Não vamos negar, ele confessou o crime e toda a situação. Mas vamos amenizar, porque ninguém fez nada para que isso não acontecesse. Ele já havia pedido ajuda para que conversassem com os tios.”
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Durante depoimento no Tribunal do Júri nesta quinta, a mãe do réu o descreveu como trabalhador. Ela também não soube explicar a origem da arma usada no triplo homicídio, afirmando que, embora morassem juntos, um não mexia nas coisas do outro. Naquele dia, a mãe chegava com compras, quando viu o filho com a mão na cabeça em sinal de desespero. Ele falou para ela voltar e, por isso, ela não chegou a ver os corpos. Logo depois ele foi preso. Questionada sobre o motivo que o filho teria para matar as vítimas, ela resumiu: perseguição.
Cena do crime
Quando a PM chegou ao local, Walter Paes já estava sem vida, sentado no sofá com um disparo no peito. A mulher dele, Maria Cristina, também estava na sala, caída no chão e alvejada por um tiro na altura do seio esquerdo. Ela chegou a pedir socorro e foi levada pela própria equipe policial até o HPS, onde faleceu horas depois. Já Maria José foi encontrada no chão de um dos quartos, também baleada na região do seio esquerdo.
Em uma das ocorrências registradas anteriormente, em 23 de fevereiro de 2018, as irmãs relataram que o sobrinho estava fazendo ameaças de atropelá-las. A desavença seria em função do sítio que pertenceu ao pai delas. O último registro foi feito pelo próprio acusado, cerca de 48 horas antes do crime. No documento policial, o homem, que se apresentou à PM como vigia, relata que sua tia Maria José estaria enviando fotos e vídeos para familiares afirmando que ele estaria expondo seu órgão sexual. Ele acrescentou que as mensagens estariam sendo espalhadas por vários parentes, até que um deles o teria avisado.