A Polícia Civil indiciou por lesão corporal, estupro, constrangimento e injúria o ex-mister Juiz de Fora, 22 anos, denunciado pela ex-namorada, em julho de 2018. O caso veio à tona após a jovem, 25 anos, usar as redes sociais para relatar as agressões praticadas pelo rapaz contra ela, durante os três anos em que mantiveram um namoro. O inquérito foi concluído nesta sexta-feira (1º), pela delegada Ione Barbosa, titular da delegacia especializada de Atendimento à Mulher, responsável pelas apurações. Na ocasião da denúncia, foram requeridas medidas protetivas para a mulher.
À época, a publicação com declarações da vítima, que é médica, junto de uma foto em que ela aparecia com um olho roxo, anexada ao inquérito, atingiu cerca de 1.200 curtidas e mais de cem compartilhamentos. A organização do Mister e Miss Juiz de Fora justificou, naquele período, a destituição do rapaz do posto devido a “descumprimento de cláusulas existentes no regulamento do concurso”, tendo em vista que uma das perguntas destinadas aos candidatos se tratava sobre violência contra a mulher. Abaixo da imagem, a jovem escreveu: “Na ocasião dessa foto eu estava a metros da delegacia da minha cidade sendo espancada por esse indivíduo, que me fez tomar banho e vestir a sua camisa porque eu me encontrava toda ensanguentada depois dele ter quase me matado. Essa não foi a única vez. Chutes, socos, pontapés, asfixia eram recorrentes e aconteceram durante os três anos de namoro. Namoro abusivo, física e emocionalmente.” Conversas pelo aplicativo Whatsapp também foram inseridas no inquérito, que agora será avaliado pela Justiça.
Após expor o caso na internet, a médica foi ouvida na Delegacia da Mulher e contou detalhes da agressão. Segundo ela, a violência não foi denunciada anteriormente, pois o companheiro exercia violência psicológica contra a jovem, como ameaças de morte contra sua família. Apesar disso, ele costumava pedir desculpas e alegava que “não faria mais”. Durante as investigações, foram localizadas duas ocorrências de agressão registradas pela vítima. Uma delas em Carmo e outra em Pádua, cidades do Estado do Rio de Janeiro, nas quais o suspeito tem ligação. Os dois registros são do ano de 2016, reforçando a declaração da ex-namorada de que o relacionamento era marcado pela violência.
Demora na conclusão
A titular da Especializada explicou que, desde o ocorrido, em julho passado, a equipe tentava a localização do suspeito, no entanto, ele não estava em Juiz de Fora. “O inquérito não foi concluído antes, pois o rapaz foi ouvido por meio de carta precatória, na cidade de Carmo (RJ). Recebemos a carta precatória com o depoimento dele em janeiro deste ano”, explicou Ione, dizendo que ele nega as agressões, mas admite ofensas verbais. A policial ressalta ainda que não irá solicitar prisão do suspeito, uma vez que, segundo seu entendimento, ele, neste momento, não representa perigo à ela e nem mesmo se encontra em Juiz de Fora.
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Coragem para denunciar
A médica criou coragem para denunciar o rapaz oito meses após o término da relação. “A conclusão deste caso, que chegou ao nosso conhecimento meses após o crime, demonstra que todas as mulheres podem e devem procurar a polícia em caso de violência doméstica”, garantiu Ione, lembrando não haver prazo de seis meses para denúncias de lesão corporal contra vítimas do sexo feminino, pois independe de representação. Desta forma, um inquérito foi instaurado, e a agressão constatada de forma indireta, através de exame de corpo de delito. “Três médicos foram importantes neste caso. Dois deles que eram professores da vítima e uma dermatologista, que, durante um procedimento estético, visualizou os hematomas. Um dos professores declara que ela pediu para assistir a aula de óculos, pois havia sido agredida, entretanto, não havia contado sobre o autor.” Além deles, os depoimentos de familiares e amigos e fotos de hematomas em decorrência das agressões constam no inquérito policial.
O suspeito será indiciado por lesão corporal, estupro, devido ao fato de ele obrigar a vítima a ter relação sexual, mediante violência e grave ameaça, injúria, pois o ex-mister teria ofendido a mulher com palavras de baixo calão, além de constrangimento ilegal também mediante violência e grave ameaça. Ambos em continuidade delitiva, já que a jovem vinha sendo vítima dos abusos do rapaz, há, pelos menos, três anos. O documento segue para apreciação da Justiça.