Duas mortes por metanol expõem risco de bebidas adulteradas; entidades emitem alerta
Em 25 dias, nove notificações de intoxicação por metanol foram feitas no estado de São Paulo
Após a confirmação de duas mortes por ingestão de bebidas adulteradas com metanol no estado de São Paulo, entidades e órgãos de saúde emitiram alertas sobre os riscos do consumo. As vítimas morreram em junho, uma em São Bernardo do Campo e outra na capital paulista. Além dos óbitos, foram confirmados seis casos de intoxicação e outros dez permanecem em investigação na capital.
Posicionamento da indústria de bebidas
A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) manifestou “profunda preocupação e solidariedade às vítimas e familiares” e ressaltou sua atuação contra a produção e a comercialização de bebidas ilegais. Segundo a entidade, somente em 2025 foram apreendidos mais de 160 mil produtos falsificados, além de insumos e equipamentos utilizados na adulteração.
Em nota, a associação reafirmou o compromisso com a proteção dos consumidores e com o fortalecimento do mercado legal, acrescentando que seguirá colaborando com os governos federal e estadual em ações de fiscalização.
Riscos para a visão
A Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO) destacou que o metanol pode provocar neuropatia óptica, uma doença grave que causa perda irreversível da visão. Os sintomas aparecem entre 12 e 24 horas após o consumo e incluem dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e alterações visuais, como visão turva ou até cegueira.
O tratamento deve ser imediato e envolve uso de antídotos, como etanol venoso, bicarbonato para corrigir a acidez no sangue, vitaminas (ácido fólico ou folínico) e, em casos graves, hemodiálise para remover a substância.
O que é metanol
O metanol é um líquido inflamável e incolor, usado como solvente e na fabricação de combustíveis, plásticos, tintas e medicamentos. A substância não pode ser destinada ao consumo humano, pois mesmo pequenas doses podem causar intoxicação grave ou morte.
Alerta do governo federal
Na sexta-feira (26), a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad) divulgou nota de alerta após identificar que, em 25 dias, nove notificações de intoxicação por metanol foram feitas no estado de São Paulo. O levantamento foi realizado pelo Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) de Campinas, referência no estado.
Segundo a Senad, os casos chamam a atenção por ocorrerem em curto período e em contextos sociais de consumo de bebidas alcoólicas, como bares, envolvendo diferentes tipos de destilados, entre eles gin, whisky e vodka. Até então, o Ciatox registrava intoxicações por metanol apenas em situações de ingestão deliberada de combustíveis, associadas principalmente à população de rua.
A secretaria classificou a situação como de risco para surtos epidêmicos, com potencial de múltiplos casos graves e elevada taxa de letalidade, exigindo resposta rápida das autoridades sanitárias.
Por que há metanol em bebidas adulteradas
O metanol não deve estar presente em bebidas alcoólicas para consumo humano. A presença dessa substância geralmente ocorre em dois contextos:
- Adulteração criminosa – falsificadores misturam metanol em destilados, como vodca, uísque e gin, para aumentar o volume da bebida e reduzir custos, já que a substância é mais barata que o etanol.
- Produção irregular – em destilações malfeitas ou sem fiscalização, resíduos de metanol formados naturalmente no processo de fermentação podem não ser eliminados.
O risco é elevado porque, ao ser metabolizado, o metanol se transforma em formaldeído e ácido fórmico, compostos que podem causar cegueira, danos neurológicos graves e até morte, mesmo em pequenas doses.
Por isso, especialistas recomendam que os consumidores adquiram apenas bebidas de origem legal e fiscalizada, evitando produtos de procedência duvidosa.