Enchentes aumentam risco de doenças; saiba como se proteger
Ideal é evitar contato com a água contaminada em alagamentos; médicos alertam sobre a importância de ficar atento aos sintomas como febre, náuseas, diarreia e dor
No verão, há um aumento do risco de doenças infectocontagiosas por conta dos alagamentos provocados pelas fortes chuvas, especialmente nas grandes metrópoles. As pessoas que moram ou passam por pontos de enchentes devem evitar o contato direto com a água que, muitas vezes, pode estar contaminada. Os médicos explicam que há risco de diversas enfermidades que, se não tratadas, podem até levar o paciente à morte.
“Com essas ocorrências, o lixo e a água contaminada com dejetos humanos e de animais em contato com os seres humanos podem facilitar a transmissão de doenças ou proliferação de casos como a leptospirose”, esclarece o clínico geral, imunologista e microbiologista Rafael Silva Duarte, professor associado da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Além do aumento de casos de leptospirose, doença transmitida pela urina de animais infectados, como ratos, Duarte diz que nesta época também acontecem mais casos de gastroenterites diversas, incluindo cólera, hepatites virais, febre tifoide, dengue, malária, esquistossomose, toxoplasmose, micoses cutâneas, diarreia bacteriana, entre outras.
Ele alerta e explica que é fundamental evitar o contato com a água das enchentes. Isso vale principalmente para as pessoas que moram em áreas com baixo ou sem nenhum saneamento básico.
“Pessoas que frequentam praias não devem nadar em trechos onde a água do mar se encontra com a do rio, principalmente após fortes chuvas e alagamentos, pois há forte risco dessa água estar contaminada com urina e fezes de ratos”, alerta o médico infectologista Paulo Olzon, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Cuidados com a higienização após enchentes
Com o recuo da água após a enchente, é importante o cuidado com a manipulação de objetos e alimentos e com a limpeza dos ambientes atingidos. Para limpar os pertences, é importante proteger as mãos com luvas de borracha e, nos pés, usar sacos plásticos duplos ou botas. Outra medida essencial é jogar fora alimentos, insumos ou qualquer produto de consumo que esteve em contato com a água, mesmo os embalados.
“É fundamental beber sempre água potável e, se possível, fervê-la a 100°C por mais de 60 segundos. Em caso de dúvida, adicione hipoclorito de sódio com concentração de 2,5% (água sanitária sem perfume), geralmente com duas gotas para cada litro de água”, orienta o microbiologista Duarte, que reforça também a importância de lavar adequadamente as mãos em água limpa antes do preparo dos alimentos.
Duarte explica que os utensílios e objetos devem ficar de molho em solução desinfetante por, no mínimo, uma hora – diluir um copo (200 ml) de água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) em quatro copos de água (800 ml). “Para a melhor limpeza das paredes, pisos, móveis, pisos, interior dos carros, remova a lama com água e sabão e, em seguida, limpe com pano imerso em solução desinfetante – um copo (200ml) de água sanitária (hipoclorito de sódio a 2,5%) para um balde de 20 litros de água”, orienta.
Fique atento aos principais sintomas
Após o contato com a água possivelmente contaminada, as pessoas devem ficar atentas ao aparecimento de sintomas como febre, náuseas, vômitos, dor muscular e de cabeça, diarreia ou outras manifestações não usuais. Mediante essa situação, deve-se procurar atendimento médico imediatamente e relatar o histórico de contato com águas de enchentes.
A infectologista Emy Akiyama Gouveia, que atua no Hospital Israelita Albert Einstein, explica que os sintomas da leptospirose são vários, como febre, dor de cabeça e no corpo (principalmente nas panturrilhas), náuseas, vômitos, apresentar olhos avermelhados ou ainda a pele e os olhos podem apresentar uma coloração amarelada, a chamada icterícia. Esses sintomas podem surgir depois de vários dias do contato com a água contaminada.
“Quando a pele ferida ou mucosa é contaminada com a bactéria causadora da leptospirose, que pode estar presente em alimentos, água ou solo contaminado, os sintomas podem aparecer até 30 dias após o contato. Mas, em média, os sintomas aparecem entre 7 a 14 dias após a exposição”, explica.
A infectologista ainda alerta que indivíduos que tiveram contato com água de enchentes não devem se automedicar, mas sim procurar ajuda médica ao notar qualquer um dos sintomas. “O uso de antibióticos para a prevenção das doenças diarreicas agudas ou mesmo a leptospirose pode mascarar, adiar e prejudicar o diagnóstico e tratamento das doenças infectocontagiosas”, alerta Gouveia.
Durante a consulta, ela explica que o paciente deve relatar que houve o contato com água de enchente ou mesmo ingestão de alimentos mal higienizados. “Lembro de um caso em que o paciente teve leptospirose porque bebeu em uma lata não higienizada, onde o rato provavelmente havia urinado no lacre”, recorda a infectologista do Einstein.
Outra orientação dos especialistas é estar com a vacinação em dia, principalmente, para hepatite A, dengue, rotavírus e febre tifoide.
Fonte: Agência Einstein