Saiba o que o trânsito faz com as peças do seu carro
Tráfego é ruim para vida útil de peças e insumos dos automóveis, como embreagem, freio e óleo do motor
Juiz de Fora tem 66,7% da sua frota formada por carros, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Se considerar todos os veículos emplacados no município, trata-se, percentualmente, da maior relação de automóveis em perímetro urbano do interior de Minas Gerais, perdendo no estado apenas para a capital, Belo Horizonte, que concentra 68,9% de carros com relação à sua frota total. Em números, o resultado local significa que circulam nas ruas mais de 175 mil possantes, o que representa 70% a mais do que era observado há dez anos. Evidente que faltam espaços nas ruas e avenidas para comportar toda esta demanda, que é crescente, e o reflexo mais representativo está nos engarrafamentos, observados em alguns pontos a qualquer hora do dia e da noite. Acelerar, parar, manter o pé na embreagem em áreas de aclive para fazer controle, acelerar mais um pouco e depois voltar a pisar no freio não é saudável para o carro. Na verdade, representa o gasto prematuro de peças e insumos que poderiam durar (muito) mais.
De acordo com o mecânico Marcos Vinicius Ferraz, da Renault Dijon, o desgaste dos carros em trânsito urbano é considerável, principalmente em elementos como o freio, a embreagem e o óleo do motor. “Geralmente a troca de óleo é definida conforme a quilometragem percorrida. Mas em trânsito urbano, o fluido permanece sendo queimado, mesmo que a autonomia prevista não seja cumprida. Carros nesta situação devem fazer a troca até na metade da quilometragem esperada”, explicou, acrescentando que esta autonomia pode ser de cinco ou dez mil quilômetros, de acordo com a especificação de cada veículo.
Há ainda o problema do aquecimento do motor. Quando em alta velocidade, a própria circulação de ventos impede o aumento significativo desta temperatura, o que não ocorre em tráfego urbano lento. Neste caso, segundo Marcos explicou, é a ventoinha do motor que vai impedir o aquecimento. “Ela vai ser acionada com muito mais frequência. Em caso de defeito ou comportamento inesperado, poderá causar um superaquecimento e danificar o motor.”
Gasto de gasolina
Mas o grande vilão das retenções urbanas é o combustível, que se torna especialmente preocupante quando a gasolina se aproxima dos R$ 5, como é a realidade atual. Em alguns modelos de carros, a autonomia na estrada chega a ser o dobro, se comparado ao que se observa nas cidades. Segundo Marcos, o fato de pisar no acelerador já proporciona a queima do combustível, o que não ocorre com tanta frequência durante as viagens. “Em alta velocidade, você aproveita a inércia do carro, então acelera apenas para manter o deslocamento constante. No caso da cidade, este processo de acelerar e frear ocorre a todo o momento, exigindo mais energia para mover o automóvel.”
Para evitar este gasto, algumas montadoras apostam em soluções tecnológicas, como é o caso do sistema start/stop. Com ele, o carro desliga o motor quando está parado, seja em um engarrafamento ou até mesmo no semáforo. Entre os modelos em circulação no país que possuem este artifício, seja em versões iniciais ou não, estão os Fiat Argo, Toro e Uno, os Renault Sandero e Logan e o Chevrolet Cruze.
Garantir fluidez é desafio
O brasileiro é apaixonado por carro, e adota o veículo como o principal meio de locomoção, seja para curta ou longa distância diária. Juiz de Fora não foge a esta regra e, além da sua frota local, ainda comporta expressivo volume de automóveis de outras cidades da região, pelo fato de ser um município polo nas áreas de comércio, serviço e educação. Atender a esta demanda e garantir o mínimo de fluidez é o desafio da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra). O titular da pasta, Rodrigo Tortoriello, afirma que é necessário buscar equilíbrio para se fazer uso racional do carro.
“Ele é importante, bom e confortável. Mas deve ser usado de maneira consciente, para que todos consigam se locomover. Achar este meio termo é difícil, e o mundo inteiro busca esta equação”, afirmou, citando obras de investimentos urbanos feitas nos últimos anos como tentativa de reduzir os gargalos. Entre estas intervenções estão a implantação do binário da Avenida Brasil e a ampliação do uso de faixas exclusivas para transporte público. “Não é demonizar quem tem carro, mas é necessário mudar o hábito de deslocamento da população.”
Em países desenvolvidos, sobretudo na Europa, há tantos apaixonados por carros como no Brasil, mas nem por isso o tráfego urbano está tomado de automóveis. Para o mestre em engenharia de transportes José Luiz Britto Bastos, é preciso que os governantes trabalhem no sentido de reduzir a frota de veículos circulante. “A cidade já está de tal jeito que não anda mais. Anos atrás não tínhamos a facilidade de comprar em várias prestações e juros baixos. Quando o Governo incentivou a venda para manter os empregos, saberíamos que esta conta chegaria.”