Mãe e filha transformam resíduos de construção civil em joias sustentáveis
Com o propósito de contribuir para a redução do descarte, empresa de Juiz de Fora desenvolve biojoias a partir do reaproveitamento de madeiras, pastilhas, cordas e outros materiais

Soraya Damianse, 55 anos, dedicou boa parte de sua vida às atividades manuais. Quando trabalhava como professora, o artesanato aparecia de maneira pedagógica. Mais tarde, ela começou a se aventurar na produção de objetos de madeira, construindo bicicletas e carrinhos de rolimã, dentre outras peças. Por isso, no dia em que sua filha, Thays Damianse, 34 anos, surgiu com a ideia de vender joias sustentáveis elaboradas a partir do reaproveitamento de materiais da construção civil, ela não teve dúvidas de que era isso que sempre quis fazer. “A Thays teve essa ideia e trouxe para mim. Eu abracei. Quando vi que era um projeto sustentável, eu realmente me encontrei.” Assim, em 2019, as duas criaram a Ellos Biojoias, uma empresa de Juiz de Fora que vende para todo o Brasil acessórios únicos feitos à mão com materiais reciclados, como madeira, pastilha e corda.
Além do artesanato, a preocupação com as questões ambientais sempre esteve presente na vida de Soraya. “A minha filha cresceu nesse ambiente, onde a gente conversava sobre a responsabilidade que cada um tem em relação ao cuidar para preservar o meio ambiente.” Depois de se formar em arquitetura, Thays começou a compartilhar com a mãe um incômodo a respeito do descarte irregular e do desperdício de insumos na área da construção civil, algo que era visto frequentemente pela jovem no dia a dia da profissão. “Ela me falou: ‘mãe, estou com vontade de criar um projeto para evitar esse desperdício, porque sei que os materiais vão para a caçamba, não há doação, e muitas lojas não aceitam de volta o que sobrou e está em bom estado’”, relembra Soraya.
Depois de muito estudo, de desenhar possíveis peças e testar os cuidados necessários para estar em contato com o corpo humano, as duas conseguiram transformar material de construção civil em acessórios femininos. “Eu perguntei para a Thays quais materiais de construção seriam usados e ela respondeu: “todos que a senhora possa imaginar”, e assim a gente começou.” Elas usam madeiras de demolição, pastilhas de revestimento de vidro e cerâmica, cantoneira de piscina, borrachas, fios, arames e cordas feitas de garrafa Pet. “A peça está na minha frente e eu já começo a imaginar, depois vou confeccionar a ideia inicial e vejo se dá certo.”
Biojoias e o futuro sustentável
Hoje, o principal desafio, segundo Soraya, é conseguir parcerias com empresas que poderiam doar esses materiais ao invés de descartar. A empreendedora diz que já viu várias vezes peças de mostruários de lojas de construção da cidade, que poderiam ser reutilizadas, jogadas na rua. Elas ganham alguns, embora poucos, mas outros materiais acabam sendo comprados. “Existem algumas pastilhas que são assimétricas e seriam jogadas fora exatamente por essa característica, mas nós usamos para produzir os acessórios. Por isso, nós pagamos, e a loja já manda assimétrica e lixada, por exemplo.”
A artesã comenta que, para além desse trabalho ser sua principal fonte de renda e a secundária de sua filha, que trabalha como arquiteta, o projeto tem uma mensagem muito importante tanto social quanto sustentável. “Nas feiras em que vou mostrar meu trabalho gosto de levar informação. As pessoas ficam curiosas querendo saber do que são feitas as peças, e eu aproveito para incentivar o reaproveitamento e o consumo consciente. Através da minha iniciativa, outras pessoas também podem ter sua fonte de renda decorando latinhas, como sugeri a uma moça que passou pelo meu stand em uma das feiras”, explica Soraya.
A Ellos Biojoias mostra que é possível ter beleza no que ainda é considerado, por muitas pessoas, lixo. “Eu criei a partir de um material completamente inusitado. Eu transformei esse material em outra peça. Eu não joguei ele na rua, eu o transformei em acessório. Cada peça transmite uma mensagem. Eu sei contar a história de cada pedacinho de madeira, de corda e de arame que eu uso.” O uso dos materiais da construção civil também permite que os acessórios tenham uma longa duração, o que contribui para uma moda cada vez mais sustentável.
“A pessoa que compra uma biojoia enxerga que ela carrega uma responsabilidade e uma história. Outra pessoa olha para o colar dela e pergunta: “o que é isso?”, então ela carrega uma mensagem”, finaliza Soraya.
Tópicos: construção civil / descarte irregular / empreendedorismo sustentável / joias / juiz de fora / sustentabilidade