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População de perereca ameaçada de extinção é identificada em Bom Jardim de Minas

População de perereca ameaçada de extinção é identificada em Bom Jardim de Minas
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Recentemente, um estudo, desenvolvido pelo Laboratório de Herpetologia da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e pelo Laboratório Mapinguari da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), identificou a existência de uma nova população da perereca-limão-da-canga (Sphaenorhynchus canga), espécie criticamente ameaçada de extinção, em Bom Jardim de Minas, município distante a cerca de 115 km de Juiz de Fora. Até pouco tempo, o anfíbio era considerado endêmico da Serra do Espinhaço – só era possível encontrá-lo nesta região, que fica a 200 km da Serra da Mantiqueira, onde está localizado Bom Jardim de Minas.

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Em 2004, o pesquisador Felipe Leite, professor da Universidade Federal de Viçosa (UFV), encontrou a espécie pela primeira vez na Serra do Espinhaço. Mas só depois, em 2015, quando ex-alunos da UFJF se dedicavam a pesquisas com anfíbios e répteis na região da Serra da Mantiqueira, alguns exemplares de perereca-limão foram descobertos em Bom Jardim de Minas. Após análise da anatomia de girinos e adultos e de características do canto dos machos, ela foi descrita cientificamente. O professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF Henrique Caldeira conta que, nesta época, os alunos não chegaram a uma conclusão da identidade da perereca-limão, porque as espécies deste grupo são difíceis de diferenciar.

Henrique é coordenador do Laboratório de Herpetologia da UFJF e participou da nova coleta, feita em 2021, junto com o professor Diego Santana, coordenador do Laboratório Mapinguari da UFMS, e outros pesquisadores. Nesta etapa, foram encontrados mais exemplares da perereca-limão. “Não havia machos cantando (o que ajudaria na identificação da espécie), mas após uma análise da anatomia externa dos exemplares e o sequenciamento de DNA de alguns deles, foi possível chegar a uma conclusão quanto a sua identidade. E, para a nossa surpresa, a perereca-limão de Bom Jardim de Minas é a perereca-limão-da-canga, até então considerada endêmica da Serra do Espinhaço”, diz Caldeira. A descoberta foi publicada recentemente na Revista Científica Internacional Journal of Threatened Taxa, dedicada a trabalhos sobre espécies ameaçadas de extinção.

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Políticas de conservação e ameaças à espécie  

A nova descoberta chama atenção para a ocorrência da espécie em mais áreas do que era registrado e, conforme aponta o pesquisador, o estudo pode ajudar em políticas de conservação. A perereca-limão-da-canga aparece na lista do Ministério do Meio Ambiente como “criticamente ameaçada”, ou seja, está na última categoria de ameaça antes da espécie ser declarada extinta. Quando a lista foi divulgada, o estudo dos pesquisadores da UFJF e UFMS não havia sido publicado, portanto, ainda se acreditava que a perereca estava restrita ao Quadrilátero Ferrífero, nas cidades de Mariana e Ouro Preto. “A principal ameaça à espécie é a mineração. Há indícios que esta atividade tem continuamente causado o declínio da área disponível e da qualidade do hábitat desta espécie, porque as áreas de vegetação de canga são muito visadas para exploração de minério de ferro”, explica o professor.

A situação em Bom Jardim de Minas não é tão diferente. A área em que o anfíbio foi encontrado também sofre impactos da pecuária e da especulação imobiliária. Além disso, existe um projeto para instalação de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH) onde hoje é a Cachoeira do Pacau. Todos esses fatores colocam em risco a existência da perereca-limão-da-canga na região. “Não há garantias de que esta população será protegida. E até o momento esta espécie não foi encontrada dentro de unidades de conservação de proteção integral, como RPPNs ou parques estaduais ou nacionais. Então, a situação ainda é preocupante. É urgente o investimento em pesquisas de campo em busca desta espécie dentro de unidades de conservação ou a criação de áreas protegidas onde já sabemos que ela habita”, alerta Caldeira.

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Pererecas-limão-da-canga possuem coloração verde-translúcida e apenas três centímetros de comprimento (Foto: Diego Santana)

Características da perereca-limão-da-canga  

Com coloração verde-translúcida e apenas três centímetros de comprimento, a pequena espécie recebeu o nome científico de “Sphaenorhynchus”, do grego “focinho em forma de cunha”, e “canga”, em referência a vegetação de mesmo nome que cresce em áreas de afloramentos rochosos ricos em minério de ferro, como o Quadrilátero Ferrífero. Durante o período reprodutivo, que acontece entre outubro e março, os machos ficam sobre a vegetação flutuante das lagoas emitindo sons para atrair as fêmeas. O professor explica que eles cantam principalmente quando há chuva fina.

O habitat natural dessa espécie é o entorno de lagoas e poços naturais, mas já foi possível encontrá-la em represas. A perereca-limão-da-canga é adaptada a ambientes com água parada, ou seja, ela não habita riachos ou córregos. A vegetação em que ela fica costuma ser campestre, mas sofre impactos, por exemplo, com o seu uso como pastagem para gado.

Brasil conta com mais de mil espécies nativas de anfíbios 

Segundo o pesquisador, o Brasil é o país com mais espécies de anfíbios no mundo, sendo cerca de 1.200 espécies nativas do território brasileiro e mais de uma dezena são descobertas aqui todos os anos. “Temos espécies exuberantes de sapos, rãs, pererecas, cecílias e salamandras. Grandes, pequenas, arborícolas, aquáticas ou que vivem sob a terra. Algumas são extremamente coloridas, etc… precisamos valorizar mais esta biodiversidade.”
O professor aponta o potencial ecoturístico do Brasil e cita exemplos de outros países, como Costa Rica, Equador e Colômbia, que incentivam passeios turísticos de anfíbios na natureza. “Turistas de outras partes do mundo viajam para observar anfíbios, tal qual muitos fazem observação de aves.” Esse incentivo ao turismo pode ser uma alternativa para estimular atividades de educação ambiental que contribuem para a mudança de pensamentos da população em relação a esses animais.

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“Infelizmente há muitos mitos ruins sobre anfíbios, que os mostram como prejudiciais. Mas estes animais são fundamentais para o equilíbrio ambiental. Um e estudo recente, ainda em fase de revisão por pares, realizado por colegas da Universidade Federal do Ceará e UFMS estimou que os anfíbios “salvam” para a agricultura brasileira mais de R$ 5 bilhões por ano, por se alimentarem de animais que podem se tornar pragas agrícolas. Para além disso, moléculas na pele de muitos anfíbios têm sido estudadas pela indústria farmacêutica e podem dar origem a medicamentos em breve”, destaca Caldeira.

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