
O recente confronto entre Brasil e Bolívia em El Alto foi muito mais do que uma simples derrota. Para a seleção brasileira, já classificada e testando jogadores, era um jogo para cumprir tabela. Para os bolivianos, era a partida da vida, a única chance de alcançar a repescagem. O resultado, uma zebra histórica de 1 a 0 para a Bolívia, surpreendeu até quem acompanha as cotações nos melhores apps de apostas.
O que foi uma festa nacional para os donos da casa, virou um pesadelo de injustiça para a delegação brasileira. O presidente da CBF, Samir Xaud, não mediu palavras e classificou o ocorrido como “várzea” e um ato de “antifutebol”, abrindo uma ferida que vai além das quatro linhas.
O combo de queixas brasileiras
A Confederação Brasileira de Futebol não demorou para organizar suas reclamações formais à Conmebol. A lista de problemas enfrentados na altitude boliviana é extensa, centrada na prática de “antifutebol” que, segundo a delegação, foi permitida durante os 90 minutos. A CBF detalhou os seguintes pontos em sua denúncia:
A atuação dos gandulas: Os jovens escondiam bolas debaixo de um banco e atrapalhavam as reposições para atrasar a partida e quebrar o ritmo brasileiro.
A hostilidade da polícia local: A segurança do estádio, mais preocupada em ver o jogo, impediu dirigentes brasileiros de falar com o árbitro e chegou a ameaçar a equipe da CBF.
A permissividade da arbitragem: O árbitro chileno foi acusado de conivência por não coibir as táticas bolivianas e por marcar um pênalti bastante duvidoso que decidiu o jogo.
O outro lado da moeda a euforia boliviana
Enquanto o Brasil gritava contra o “antifutebol”, a Bolívia celebrava uma façanha. O país não chegava perto de uma Copa do Mundo desde 1994, e a partida era uma final para toda a nação. A imprensa local tratava a vitória como “missão impossível”.
O estádio de El Alto, a mais de 4.000 metros, era o grande aliado. Para eles, o triunfo foi a recompensa pela resiliência contra um gigante. As artimanhas foram as ferramentas disponíveis para equilibrar um duelo que consideravam desigual.
A altitude um inimigo antigo
Jogar em altitudes extremas sempre foi polêmico no futebol sul-americano. O ar rarefeito causa o “mal de montanha”, gerando uma vantagem que muitos consideram injusta. A própria FIFA chegou a proibir jogos acima de 2.500 metros em 2007, mas voltou atrás após pressão das federações andinas. O histórico do Brasil em La Paz já mostrava a dificuldade. Contudo, o que aconteceu em El Alto foi diferente, pois a altitude foi apenas um dos elementos de um cenário caótico.
A Conmebol entre a cruz e a espada
Apesar da dureza das acusações, a Conmebol ainda não se manifestou. A entidade costuma agir com rapidez em casos de racismo ou violência, mas o “antijogo” é uma área cinzenta, de difícil punição.
O próprio Rodrigo Caetano, da CBF, admitiu que o “efeito prático é nulo”. A queixa parece ter um objetivo maior, servindo para justificar a derrota e pressionar a Conmebol a rediscutir as regras sobre jogos em condições geográficas extremas.
Um futebol em constante dilema
O incidente em El Alto expõe as veias abertas do futebol sul-americano. Foi um choque entre a técnica de uma superpotência e a astúcia de um time que luta com as armas que possui. Para a Bolívia, foi a glória e a reafirmação de sua estratégia local.
Cabe à CBF repensar sua preparação, pois a superioridade técnica sozinha não ganha campeonatos. A Conmebol, por sua vez, segue com o desafio de equilibrar a integridade do esporte com as realidades de um continente tão diverso.