Luciana Garbin, Editora Executiva do ‘Estadão’ e professora da FAAP, compartilhou sua opinião sobre o impacto das Inteligências Artificiais (IAs) no apagamento da história. Ela cita o exemplo do Google Maps, que passará a chamar o Golfo do México de Golfo da América, atendendo a uma ordem de Donald Trump. Garbin argumenta que, apesar das críticas, a mudança será amplamente aceita, já que o México não possui plataformas globais como o Google para influenciar a percepção popular.
Ela também menciona o DeepSeek, o “ChatGPT chinês”, que se tornou popular recentemente, destacando como ele omite informações, como o massacre da Praça Tiananmen, um tema sensível na China, mostrando o poder das plataformas de distorcer ou omitir eventos históricos conforme as políticas locais.
Parcialidade da Inteligência Artificial
Garbin explica que as IAs, como o ChatGPT e o DeepSeek, fazem parte da classe dos LLMs (Modelos de Linguagem Grande), e não são neutras, pois podem refletir os vieses de seus programadores. Ela destaca que os desenvolvedores dessas plataformas, dependendo do país em que operam, podem programar as IAs para favorecer determinados resultados.
Um exemplo citado é a China, onde as empresas de tecnologia precisam passar por uma análise de segurança governamental antes de lançar seus produtos. Além disso, Garbin aponta que a falta de transparência das empresas de IA é um problema, pois muitas delas não são claras sobre dados cruciais, como a localização de suas sedes ou quem são seus investidores.
Apagamento da história
Luciana Garbin levanta preocupações sobre o impacto das IAs em países sem plataformas locais, como o Brasil, apontando o apagamento histórico de figuras como Santos-Dumont, que foi descreditado em favor dos irmãos Wright. Ela argumenta que, ao reproduzir o que mais aprendem, as IAs podem ampliar a dominação cultural do Norte Global, distorcendo a história e minimizando a importância de personagens históricos de países sem plataformas próprias.
Garbin questiona quantos outros brasileiros e de outros países estão sendo apagados ou tiveram sua relevância diminuída por essas plataformas movidas por algoritmos estrangeiros. Ela também destaca iniciativas como a Maritaca AI, que busca desenvolver IA local em português, mas ressalta o desafio de competir com as grandes potências tecnológicas. Por último, Garbin compartilha a visão de Bruno Romani, editor do Link, sobre o potencial da IA em, no futuro, criar uma versão da história que negligencia outras culturas, alterando a percepção da realidade. Ela conclui ressaltando a necessidade de a sociedade e as autoridades brasileiras estarem alertas aos riscos dessa transformação e tomarem medidas para proteger a memória e a cultura do país.