Lançado em 1980, O Iluminado de Stanley Kubrick permanece um clássico atemporal do terror psicológico. Baseado no livro homônimo de Stephen King, o filme mergulhador o público em uma atmosfera opressiva de loucura e desespero.
No entanto, ao longo dos anos, o filme também gerou uma série de lendas urbanas sobre os bastidores das filmagens, alimentadas por seu ambiente peculiar e pelos comportamentos intensos de Kubrick.
Tratamento duro de Kubrick a Shelley Duvall
Uma das histórias mais conturbadas e debatidas sobre as filmagens de O Iluminado é o tratamento de Stanley Kubrick para com a atriz Shelley Duvall, que interpretou Wendy Torrance. Kubrick era conhecido por ser obsessivo em sua busca pela perfeição e, para “intensificar” a sensação de desespero e isolamento de Wendy, ele decidiu isolar Duvall do restante do elenco e muitas vezes a humilhar publicamente. O objetivo era, segundo ele, fazer com que seu personagem fosse consumido pelo pânico, o que resultasse em uma performance intensa.
No entanto, a crítica ao tratamento de Kubrick ganhou força, especialmente após a publicação de relatos sobre o sofrimento de Duvall nos bastidores. A atriz, que foi severamente criticada por sua atuação ao longo dos anos, eventualmente ganhou a Framboesa de Ouro de “Pior Atriz”.
No entanto, em 2022, o prêmio foi revogado pela organização, que admitiu que a atuação de Duvall foi diretamente impactada pelas dificuldades enfrentadas durante as filmagens. Muitos afirmam que Kubrick foi cruel demais, e que as dificuldades de Duvall não foram essenciais para a criação do personagem, mas apenas uma demonstração de sua “obsessão” com a perfeição.
Busca implacável por perfeição
Outra característica famosa de Kubrick é sua insistência nas tomadas repetidas vezes. A mais emblemática dessas repetições ocorridas durante a gravação da cena em que Wendy sobe as escadas com um taco de base, perseguida por Jack Torrance. Essa sequência foi filmada 127 vezes, um número recorde que gerou grande frustração no elenco e na equipe. A busca incessante por uma “perfeição estética” era uma marca registrada de Kubrick, que estava disposta a ultrapassar todos os limites para conseguir a cena exata que imaginava em sua mente.
Porém, essas exigências extremas também causaram um desgaste físico e emocional no elenco. Shelley Duvall, já afetada pelas condições de trabalho, teve que cena tantas vezes que, segundo relatos, sofreu prejuízo de exaustão física e mental. A pressão e as demandas do diretor acabaram impactando o desempenho de vários membros da equipe, gerando uma atmosfera de tensão que se reflete em muitas das cenas do filme.
Labirinto de arbustos
Embora o livro de Stephen King não mencione um labirinto de arbustos, Stanley Kubrick é dinâmico este elemento icônico no filme, com a intenção de aumentar a sensação de claustrofobia e terror psicológico. O labirinto, localizado nos estúdios Elstree, na Inglaterra, era tão grande e complexo que a equipe muitas vezes se perdia dentro dele e precisava de mapas para encontrar a saída.
Esse detalhe é uma das marcas registradas de Kubrick: a adição de elementos que, embora não existam presentes no material original, visavam potencializar a atmosfera de inquietação e confusão.
Ao contrário do que se pode imaginar, o labirinto não foi apenas uma adição estética. Ele também se tornou um símbolo do próprio processo de filmagem: um espaço labiríntico que refletia a desconstrução da mente dos personagens e, por extensão, a própria produção, que estava constantemente se perdendo nos detalhes e repetindo cenas infinitamente.
Gêmeas Grady
As gêmeas Grady, interpretadas por Lisa e Louise Burns, se tornaram uma das imagens mais icônicas de O Iluminado, apesar de não estarem presentes no livro de Stephen King. Kubrick, sempre com sua visão única, adicionado ao filme como uma forma de amplificar o terror psicológico. Sua presença, silenciosa e perturbadora, foi inspirada por uma famosa fotografia de Diane Arbus, conhecida por capturar imagens perturbadoras de pessoas em situações extremas.
A ideia de adicionar personagens não presentes no livro gerou um debate sobre a liberdade artística de Kubrick, mas o fato é que as gêmeas se tornaram um símbolo indiscutível do filme, contribuindo para a atmosfera surreal e assustadora do enredo.
Teorias da conspiração
Uma das teorias mais curiosas envolvendo O Iluminado é a de que o filme contém uma “confissão” secreta de Stanley Kubrick sobre sua suposta participação na falsificação das filmagens da chegada do homem à lua. Alguns teóricos da conspiração apontam detalhes como o sucessor de Danny Torrance, que exibe o logotipo do foguete Apollo 11, como uma pista para apoiar essa alegação.
Embora essa teoria seja amplamente desacreditada, ela reflete a intensidade com que o filme foi estudado ao longo dos anos, com os espectadores tentando descobrir significados ocultos em cada cena.
Por fim, não podemos esquecer a ocorrência de Stephen King à adaptação de O Iluminado para o cinema. O autor criticou publicamente o filme, em grande parte por causa das mudanças na história e na caracterização dos personagens. King desaprovou a escolha de Jack Nicholson para o papel de Jack Torrance, pois acreditava que o ator já trazia uma energia selvagem e imprevisível que comprometeria a evolução gradual do personagem no livro.
Como resultado, King produziu sua própria versão para a TV em 1997, que aumentou de forma mais fiel a uma narrativa original, mas, apesar de ser mais próximo do livro, não teve o mesmo impacto cultural.
Essas investigações foram desenvolvidas para o sucesso e a durabilidade do filme, que, apesar das controvérsias, continuam a ser um marco do terror psicológico. O mistério em torno de seus bastidores, as investigações de sua produção e as escolhas ousadas de Kubrick ajudaram a solidificar O Iluminado como um clássico eterno do terror psicológico.