Nos últimos dias, diversas cidades brasileiras registraram temperaturas elevadas, e as notícias sobre sensação térmica extrema dominaram as redes sociais. Algumas manchetes chegaram a sugerir que o Brasil inteiro enfrentaria uma sensação térmica de 70°C, algo que não foi confirmado pelos meteorologistas.
A sensação térmica, também conhecida como índice de calor, não é a temperatura real do ar, mas sim a forma como o corpo humano percebe essa temperatura, levando em consideração a umidade relativa do ar.
Quando a umidade está alta, a evaporação do suor se torna mais difícil, prejudicando o resfriamento do corpo. Assim, um dia com 35°C e umidade de 90% pode ser muito mais insuportável do que um dia seco com a mesma temperatura.
O Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos (NWS) desenvolveu um cálculo para determinar o índice de calor, auxiliando na previsão de riscos relacionados a altas temperaturas.
Existe um limite de calor para o corpo humano?
Pesquisas científicas indicam que uma temperatura de bulbo úmido de 35°C representa um ponto crítico para o organismo. Nessa condição, o corpo não consegue mais dissipar calor através do suor, levando ao superaquecimento e, potencialmente, à falência de órgãos.
Entretanto, estudos mais recentes da Universidade Penn State demonstraram que o limite pode ser ainda menor. Em testes controlados, foi observado que jovens saudáveis sofreram danos graves quando expostos a temperaturas de bulbo úmido de 31°C, dependendo da umidade do ambiente.
Isso significa que, mesmo abaixo de 40°C, algumas alterações de calor e umidade já podem ser extremamente perigosas.
O que acontece com o corpo em calor extremo?
Quando o corpo esquenta além do normal, uma série de reações ocorrem para tentar equilibrar a temperatura. Entre os principais efeitos do calor extremo estão:
- Aumento da frequência cardíaca para bombear mais sangue à superfície da pele e dissipar calor
- Suor excessivamente, levando à rápida perda de líquidos e desidratação
- Exaustão térmico, que causa tontura, fraqueza e confusão mental
- Insolação, quando a temperatura corporal ultrapassa 40°C, podendo resultar em falência de órgãos e morte
Casos de calor extremo ao redor do mundo
Nos últimos anos, diversos países enfrentaram ondas de calor extremas que atingiram índices críticos:
- No Irã, em 2023, a cidade de Asaluyeh registrou uma sensação térmica de 66,7°C, com temperatura de bulbo úmido de 33,7°C
- A Índia e o Paquistão sofreram ondas de calor severas nos últimos anos, com milhares de mortes atribuídas ao calor
- Em 2022, mais de 61 mil pessoas morreram na Europa devido a temperaturas elevadas, mesmo sem atingir umidade extrema
Com o aumento global das temperaturas, eventos como esses tendem a se tornar cada vez mais comuns.
Quem está mais vulnerável ao calor extremo?
Nem todas as pessoas enfrentam o calor da mesma forma. Alguns grupos são mais suscetíveis a impactos de calor intenso, incluindo:
- Idosos, que têm menor capacidade de regular a temperatura corporal
- Crianças pequenas, cujo sistema de controle térmico ainda não está totalmente desenvolvido
- Trabalhadores ao ar livre, que passam longos períodos expostos ao sol
- Pessoas em situação de vulnerabilidade, sem acesso a ambientes climatizados ou fontes de hidratação
Estudos mostram que 90% das mortes relacionadas ao calor na Europa nos últimos anos ocorreram entre pessoas com mais de 65 anos.
O futuro do clima e os riscos para a humanidade
O aumento das ondas de calor é uma realidade. Estudos apontam que, se a temperatura média global subir 2,5°C em relação aos níveis pré-industriais, várias regiões do mundo poderão enfrentar regularmente temperaturas de bulbo úmido acima de 35°C.
Atualmente, cerca de 30% da população mundial já passa por pelo menos 20 dias de calor extremo por ano. Até o fim do século, esse número pode chegar a 50%, tornando algumas áreas inabitáveis.
Pesquisadores alertam que as mudanças climáticas não são mais uma questão de escolha entre um futuro bom ou ruim, mas sim entre um futuro ruim e outro ainda pior.
Como se proteger do calor extremo?
Diante do aumento das temperaturas, algumas medidas são essenciais para evitar problemas de saúde relacionados ao calor:
- Beber bastante água ao longo do dia, mesmo sem sentir sede
- Evitar exposição ao sol nos horários mais quentes, entre 10h e 16h
- Usar roupas leves e claras, que absorvem menos calorias
- Procure ambientes climatizados sempre que possível
- Fique atento a sinais de alerta como tontura, dor de cabeça e confusão mental
Com as mudanças climáticas tornando as ondas de calor mais frequentes e intensas, a grande questão que permanece é: estamos realmente preparados para um mundo cada vez mais quente?