Saneamento básico é o conjunto de serviços essenciais que garantem água tratada, coleta e tratamento de esgoto, manejo de resíduos sólidos e drenagem urbana.
Quando ausente ou precário, esses serviços expõem a população a riscos sérios de saúde, comprometem o meio ambiente e impedem o desenvolvimento econômico e social.
No Brasil, onde boa parte da população ainda convive com a falta de coleta de esgoto ou acesso à água potável, a expansão desses serviços é uma das maiores urgências do país.
E nos próximos anos, esse avanço deverá vir, em grande parte, pelas mãos da iniciativa privada.
Saneamento privado pode ser realidade de metade das cidades
Até 2026, estima-se que empresas privadas de água e esgoto assumam a responsabilidade por atender metade dos municípios brasileiros.
Essa mudança é resultado direto de um ciclo intenso de concessões e parcerias público-privadas que ganhou força após a aprovação do novo Marco Legal do Saneamento, em 2020.
Desde então, o setor viu um aumento significativo nos investimentos e no número de contratos firmados com operadores privados.
Hoje, cerca de 30% das cidades já contam com esse modelo, e a expectativa é que esse número chegue a mais de 2.700 municípios nos próximos dois anos, impulsionado por pelo menos 26 novos leilões previstos para 2025.
Esses processos envolvem cifras bilionárias. Só em 2024, foram anunciados R$ 92 bilhões em aportes, com destaque para a privatização da Sabesp, em São Paulo — um dos maiores negócios do setor.
Para 2025, os projetos em licitação somam R$ 70 bilhões, abrangendo estados como Pará, Pernambuco, Maranhão e Rio Grande do Norte.
A Abcon Sindicon, associação que representa as concessionárias privadas, projeta que, ao todo, as concessões já movimentaram mais de R$ 216 bilhões desde que o novo marco foi sancionado. Trata-se, sem dúvida, de um dos maiores esforços estruturantes já realizados no país.
Saneamento básico é serviço público essencial, e deve ter atenção aos vulneráveis
No entanto, mesmo com todos esses avanços, é fundamental lembrar que saneamento básico não pode ser apenas uma questão de retorno financeiro.
Empresas que entram nesse mercado precisam reconhecer que estão lidando com um serviço público essencial. Não basta conectar as áreas centrais ou mais rentáveis das cidades.
É nas periferias e nos bairros mais pobres que a ausência de saneamento cobra um preço mais alto — e é nesses locais que os operadores devem agir com mais compromisso social.
Se os serviços forem implantados com tarifas elevadas ou sem cobertura universal, o resultado pode ser ainda mais desigualdade. Famílias vulneráveis podem se ver obrigadas a escolher entre pagar contas de água e outras despesas básicas.
E pior: a falta de esgoto tratado e água potável nessas regiões tende a se refletir diretamente no sistema de saúde pública, sobrecarregando hospitais com doenças de veiculação hídrica que poderiam ser evitadas com infraestrutura adequada.
Isso cria um ciclo vicioso de exclusão e endividamento que contradiz o próprio objetivo da universalização.
Portanto, embora o avanço da iniciativa privada no saneamento seja um passo importante para acelerar a cobertura dos serviços, ele precisa ser acompanhado de regulação firme, transparência nos contratos e metas sociais claras.
O saneamento é um direito básico, e qualquer modelo que pretenda universalizá-lo deve, antes de tudo, garantir que ninguém fique para trás — independentemente de onde vive ou de quanto pode pagar.