Nos últimos meses, o crédito consignado no setor privado, também conhecido como Crédito do Trabalhador, tem ganhado força no Brasil.
Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) apontam que, em pouco mais de dois meses, essa modalidade de empréstimo movimentou mais de R$ 11,3 bilhões, com cinco instituições financeiras sendo responsáveis por 73,3% desse valor.
Vale mencionar que a forte concentração de mercado e o rápido crescimento dessa linha de crédito têm chamado a atenção de analistas e agentes financeiros.
Segundo o MTE, o Banco do Brasil liderou a liberação de crédito, com R$ 3,1 bilhões concedidos. Entretanto, foi a Facta Financeira que concentrou o maior número de contratos, ultrapassando 469 mil. Essa concentração levanta preocupações quanto à competitividade do setor e ao possível impacto no custo do crédito para o trabalhador.
Concentração pode afetar competitividade e elevar juros
A principal crítica ao atual cenário gira em torno da concentração do crédito consignado em poucas mãos. Isso porque, com menor competição, instituições líderes de mercado podem influenciar nas taxas de juros, reduzindo as vantagens típicas dessa modalidade, que costuma ser mais barata por ter as parcelas descontadas diretamente da folha de pagamento.
Vale mencionar que essa dinâmica pode dificultar a entrada de novos players no mercado, tornando o ambiente menos atrativo para a inovação e diversificação de ofertas.
Dessa forma, trabalhadores da iniciativa privada, incluindo empregados domésticos, rurais e contratados por microempreendedores individuais (MEIs), acabam com menos opções na hora de contratar empréstimos consignados.
Além disso, o acesso facilitado a dados pelo eSocial ampliou o alcance de mais de 80 bancos e financeiras, que agora podem oferecer crédito com base em informações atualizadas dos trabalhadores com carteira assinada. Com isso, cresce o risco de superendividamento caso não haja regulamentação eficiente e educação financeira adequada.
Portabilidade para crédito consignado
É importante mencionar que, para tentar equilibrar o cenário, o governo federal liberou recentemente a portabilidade de crédito consignado. Com essa medida, o trabalhador pode migrar sua dívida para outra instituição que ofereça melhores condições, como taxas de juros mais baixas.
A possibilidade de utilizar até 10% do saldo do FGTS e 100% da multa rescisória como garantia também se mostra um diferencial competitivo.
Outro detalhe importante é o avanço tecnológico. A digitalização dos processos por meio da Carteira de Trabalho Digital permite simulações e contratações diretamente pelos canais eletrônicos dos bancos. Sendo assim, espera-se que o uso de ferramentas digitais ajude a tornar o processo mais transparente e acessível.