Nos últimos anos, os cientistas têm se mostrado cada vez mais preocupados com o derretimento acelerado das geleiras ao redor do mundo. De acordo com uma pesquisa recente da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e do Serviço Mundial de Monitoramento de Geleiras (WGMS), cinco dos últimos seis anos testemunharam o recuo mais rápido das geleiras já registrado.
As geleiras são grandes massas de gelo que se formam quando a neve acumulada ao longo do tempo se compacta, tornando-se gelo. Elas armazenam cerca de 70% da água doce do planeta e desempenham um papel essencial nos ciclos climáticos e hidrológicos.
Com o aumento das temperaturas globais, essas gigantes de gelo estão derretendo a uma taxa alarmante. Em um período de mais de 45 anos, desde que os primeiros registros começaram a ser feitos em 1975, as geleiras perderam mais de 9 trilhões de toneladas de gelo.
Para se ter uma ideia da magnitude dessa perda, os cientistas explicam que é equivalente a um bloco de gelo do tamanho da Alemanha, com 25 metros de espessura, desaparecendo.
Preocupação com os impactos
O derretimento das geleiras tem impactos diretos e indiretos que afetam tanto os ecossistemas naturais quanto as comunidades humanas ao redor do mundo. A água proveniente das geleiras derretidas é uma fonte importante para milhões de pessoas em áreas rurais e urbanas.
Quando essas massas de gelo desaparecem, a água doce se torna escassa, o que pode afetar o abastecimento hídrico e a agricultura, levando a crises humanitárias em algumas regiões.
Além disso, o recuo das geleiras também aumenta a vulnerabilidade de muitas áreas a desastres naturais, como inundações. As geleiras armazenam grandes volumes de água em lagos glaciais, que são frequentemente contidos por barreiras naturais de gelo.
À medida que essas geleiras derretem, o risco de rompimento das margens dos lagos aumenta, o que pode resultar em inundações repentinas e destrutivas. O desastre ocorrido em 2023 no estado de Sikkim, na Índia, que matou pelo menos 55 pessoas e destruiu uma grande represa hidrelétrica, é um exemplo claro desse risco.
Elevação do nível do mar
Outro impacto direto do derretimento das geleiras é a elevação do nível do mar. A água que escorre das geleiras em derretimento acaba fluindo para os oceanos, contribuindo para o aumento do nível dos mares.
Isso é especialmente preocupante para as comunidades costeiras, especialmente aquelas em ilhas e áreas de baixa altitude. A água do derretimento das geleiras é o segundo maior fator que contribui para a elevação do nível do mar, atrás apenas da expansão térmica da água dos oceanos devido ao aquecimento global.
Desde que as medições por satélite começaram em 1993, a taxa global de aumento do nível do mar mais do que dobrou. Embora o aumento global tenha sido de apenas 18 milímetros até agora, esse pequeno aumento tem um impacto enorme, afetando milhões de pessoas, especialmente nas áreas costeiras e insulares.
A cada milímetro adicional de aumento do nível do mar, de 200.000 a 300.000 pessoas são expostas a inundações anuais, colocando em risco tanto a vida humana quanto a infraestrutura vital dessas regiões.
Conexão com as mudanças climáticas
O derretimento das geleiras está fortemente ligado ao aquecimento global, que, por sua vez, é impulsionado pelas emissões de gases de efeito estufa provenientes da queima de combustíveis fósseis. O aumento das temperaturas globais afeta diretamente as geleiras, acelerando seu derretimento. Em 2024, as temperaturas globais superaram a marca de 1,5°C acima dos níveis da era pré-industrial, um ponto crítico identificado no Acordo de Paris.
Esse aumento de temperatura tem consequências diretas nas geleiras: em 2024, todas as 19 regiões glaciais analisadas no relatório da OMM experimentaram perdas líquidas de massa de gelo, com algumas regiões, como a Escandinávia e o Ártico, registrando suas maiores perdas anuais de gelo.
Papel da comunidade internacional
Diante desse cenário, as Nações Unidas proclamaram 2025 como o “Ano Internacional da Preservação das Geleiras” e estabeleceram o Dia Mundial das Geleiras, que será celebrado anualmente em 21 de março.
O objetivo desse movimento é aumentar a conscientização global sobre a importância das geleiras e o impacto de seu derretimento nos sistemas ecológicos e hidrológicos do planeta.
Além disso, o fortalecimento dos sistemas de alerta para inundações repentinas e o aumento da resiliência das infraestruturas costeiras e das comunidades afetadas são algumas das estratégias recomendadas pelos cientistas para lidar com os impactos imediatos do derretimento das geleiras.
Contudo, o maior desafio continua sendo a redução das emissões de gases de efeito estufa e a implementação de políticas climáticas eficazes para limitar o aquecimento global a 1,5°C, conforme estipulado no Acordo de Paris.