Entre os anos de 2003 e 2022, uma investigação científica de abrangência global identificou que aproximadamente 21% da superfície dos oceanos tornou-se visivelmente mais escura. Essa transformação abrange uma extensão de cerca de 75 milhões de km², dimensão comparável à soma dos territórios da África, Europa, China e América do Norte.
A escassez de luz nesse vasto trecho marinho compromete a profundidade da zona fótica — a faixa superior das águas oceânicas onde a radiação solar consegue penetrar, viabilizando a fotossíntese. Essa faixa é essencial para o funcionamento dos ecossistemas marinhos, já que sustenta organismos microscópicos responsáveis por boa parte do oxigênio produzido no planeta e serve de base para a cadeia alimentar oceânica.
Oceanos mais escuros
Publicado na revista Global Change Biology, o estudo utilizou imagens de satélite e algoritmos avançados para avaliar a transparência das águas oceânicas. O escurecimento observado reduz a penetração da luz e torna a zona fótica menos profunda em vastas áreas, afetando diretamente a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas marinhos.
Essa camada iluminada é vital para organismos como o fitoplâncton, que sustentam a cadeia alimentar dos oceanos e produzem quase metade do oxigênio do planeta. Com menos luz disponível, esses seres passam a se concentrar mais perto da superfície, provocando desequilíbrios que afetam desde pequenos peixes até grandes mamíferos marinhos, todos dependentes desse ambiente para alimentação, caça e reprodução.
Dados e alerta
- Em cerca de 9% da superfície oceânica, a zona fótica encolheu até 50 metros.
- Em 2,6% dos oceanos, a redução chegou a 100 metros de profundidade.
- Nas regiões costeiras, o escurecimento está ligado à presença de sedimentos e nutrientes levados por rios e chuvas.
- Em alto-mar, os principais fatores são as mudanças climáticas e as alterações nas correntes oceânicas.
- Apesar da tendência de escurecimento, cerca de 10% da superfície oceânica — equivalente a 37 milhões de km² — ficou mais transparente, especialmente próximo à costa oeste da Irlanda.
Mesmo com algumas áreas mais claras, os cientistas alertam que a mudança na luz oceânica pode desequilibrar cadeias alimentares, afetar espécies e enfraquecer a função climática dos mares, com risco maior nas áreas costeiras, mais expostas à ação humana.