Recentemente, a SP-Arte 2025 foi palco de uma negociação histórica no mercado de arte brasileiro: um mural do renomado pintor Emiliano Di Cavalcanti foi vendido por cerca de R$ 8 milhões.
O mural, que por 56 anos esteve exposto no hall de entrada do luxuoso Edifício Machado de Assis, situado na orla de Copacabana, no Rio de Janeiro, tornou-se um símbolo de sofisticação e história, tanto para a arte brasileira quanto para a própria arquitetura carioca.
O mural e sua história no Edifício Machado de Assis
O mural, uma das Maiores obras do artista, foi produzido com uma proposta site-specific, ou seja, encomendado especificamente para o espaço em que foi exibido.
Localizado em um dos endereços mais emblemáticos de Copacabana, o Edifício Machado de Assis, o mural nunca havia sido retirado de lá desde sua instalação em 1969, mesmo antes da inauguração oficial do prédio, em 1970. Por mais de meio século, o mural acompanhou a história de um local que se tornou sinônimo de luxo e requinte na Zona Sul carioca.
O Edifício Machado de Assis, projetado para ser uma das maiores joias arquitetônicas da cidade, conta com apartamentos de pelo menos 570 m² e um jardim projetado por Burle Marx.
Desde sua construção, o edifício atraiu figuras ilustres, como o ex-presidente Juscelino Kubitschek, e se tornou um local de recepções realizadas por figuras proeminentes da sociedade, como Adolpho e Oscar Bloch, que foram incorporadores e moradores do local. A presença do mural de Di Cavalcanti no hall do prédio deu um toque artístico a esse ambiente exclusivo.
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Artista
Emiliano Di Cavalcanti, um dos maiores nomes da arte moderna brasileira, foi um dos artistas mais emblemáticos do movimento modernista, com sua obra marcada por uma profunda conexão com a cultura e paisagens brasileiras.
A pintura do mural exposta no Edifício Machado de Assis reflete essa conexão, reunindo elementos da flora da Mata Atlântica, representações da figura feminina e imagens icônicas de bairros do Rio de Janeiro, como Lapa e Santa Teresa.
A obra também faz referência direta ao escritor Machado de Assis, autor que dá nome ao edifício. A inspiração do mural vem da personagem Capitu, do clássico “Dom Casmurro”, obra seminal da literatura brasileira.
Em um momento de maturidade criativa, Di Cavalcanti capturou elementos da literatura, da história e da identidade cultural brasileira em uma obra que, além de visualmente impactante, carrega um profundo significado simbólico.
Encomenda Site-Specific e seu significado
A ideia de criar uma obra site-specific, isto é, um trabalho artístico feito sob encomenda para se adequar perfeitamente a um ambiente, trouxe um caráter único à pintura.
Encomendado pela empreiteira H. C. Cordeiro Guerra para o hall do edifício, o mural não foi apenas uma obra de arte, mas uma extensão do próprio projeto arquitetônico do prédio. Nesse contexto, o mural tornou-se uma parte inseparável da identidade do Edifício Machado de Assis, carregando a história de sua construção e da sofisticação de seus moradores.
O mural foi concebido para interagir com o espaço, oferecendo não apenas um elemento estético, mas também uma ligação entre arte e arquitetura. Isso contribuiu para que a obra se tornasse um ícone de Copacabana, atraindo a atenção de admiradores de arte e figuras públicas que frequentaram o local ao longo dos anos.
A venda e seu significado para o mercado de arte brasileiro
A venda do mural na SP-Arte 2025, por R$ 8 milhões, marca um momento importante para o mercado de arte brasileiro. O comprador, um colecionador de arte cuja identidade não foi revelada, adquiriu uma obra de valor histórico e cultural, reconhecendo o significado da peça não apenas como uma obra de Di Cavalcanti, mas também como um símbolo da história do Rio de Janeiro.
Esse tipo de transação destaca o crescente valor das obras de arte brasileiras no mercado internacional e a capacidade das feiras de arte, como a SP-Arte, de conectar artistas, colecionadores e galerias.
O fato de o mural ter sido um dos primeiros a ser vendido na exposição mostra a sua importância no universo artístico contemporâneo, além de indicar o interesse renovado por obras de arte que representam a identidade cultural e histórica do Brasil.
Suas implicações para o futuro
Embora o mural tenha sido vendido e retirado do Edifício Machado de Assis, sua importância como um ícone da arte brasileira e da história do Rio de Janeiro permanece intacta.
A venda da obra pode ter colocado fim a sua permanência no hall de entrada de um dos prédios mais emblemáticos da cidade, mas a obra de Di Cavalcanti continuará a ser um símbolo da riqueza cultural e artística do Brasil.
A história desse mural também abre um debate sobre o destino de obras de arte que se tornam parte de um espaço público ou privado, e sobre como o mercado de arte contemporâneo lida com a valorização de peças históricas.
A obra, que uniu a sofisticação do Edifício Machado de Assis à sensibilidade artística de Di Cavalcanti, segue sendo um testemunho da capacidade da arte de transcender o tempo e os espaços, criando conexões profundas entre o passado e o presente, o público e o privado, a história e a modernidade.